O abandonar de Sacerdote X e seu retorno.

(A pedido dos parentes eu omito as iniciais do nome de seu falecido pai.)
Vivi muitas maravilhas através dos meus dons, mas o que vivi nesta situação com um dos meus pacientes, foi não só milagroso, como aprendi simultaneamente como podem ser grandes as forças do homem, quando ele troca a vida terrena pela eterna e cumpre uma vida frutífera.
O abandonar da vida, é só felicidade para um e só tristeza, sofrimento, dor e trevas profundas para outro.
Mas aqueles, que possuem amor e estão receptivos para a vida do jeito que ela se apresenta, eles serão os afortunados no Além e verão a luz e acolherão muito amor, como deram a tantos durante a sua vida na terra.
Deus sabe como foram as suas vidas e receberão de acordo com a sua força interior.
Uma paciente veio a mim, com a foto de outro alguém, pedir para eu fazer um diagnóstico.
Segurei o retrato em minhas mãos e depois de alguns minutos ouvi o meu líder Alcar dizer “Aqui não se pode fazer mais nada.
A doença está num estágio demasiado adiantado, ele morrerá disso.
Diga a ela que não pode curá-lo.
Apesar disso você irá tratá-lo, se eles assim o desejarem”.
Eu comuniquei isso à senhora, mas a minha visitante retorquiu: “Não poupei no esforço para consegui-lo convencer.
Este homem é um sacerdote e a sua fé lhe impede de vir.
E agora que o convenci, o senhor não pode ajudá-lo?”
“Eu o ajudarei”, disse, “mas não posso curá-lo.”
“Fico amargamente decepcionada”, retomou, “nós pretendemos tanto mantê-lo.
Ah, ele é uma pessoa tão bondosa.
Pelo menos amenizará, se o senhor o tratar.”
“Isso, com certeza”, falei.
“Mas não diga nada disso à família dele, eles não podem saber.
Já agora, retomando outro assunto.
Eu tenho que sair da cidade daqui a um mês.”
“Vai demorar?”, ela perguntou.
“Três semanas.”
“O que fazer agora?
Então eu o trarei para junto do senhor, assim haverá contato e quando o senhor voltar poderá recomeçar imediatamente.”
“Ah, por mim está bem”, dei como resposta.
“É grave?”
“Sim, muito grave.”
Passaram alguns dias, quando, numa tarde, o paciente me veio visitar.
Ele era um homem alto e magro, mas de aparência bonita.
Senti logo que a presença dele irradiava algo.
Tinha olhos infantis, bonitos, azuis, radiantes de amor.
Deitou-se para ser tratado e mostrou-se curioso quanto ao procedimento, pois nunca havia sido magnetizado.
Porém, ele se entregou mansamente, fechou seus olhos, e abriu-se totalmente para mim.
Após o tratamento, que lhe fez bem, ele disse: “Olha minhas calças e paletó, eu caibo dentro duas vezes, pois emagreci muito.”
Com isso ele riu da sua própria aparência.
Ele era de outra nacionalidade e falava mal holandês com sotaque esquisito, porém tão belo e de voz tão simpática, o que fazia com que todos o amassem imediatamente quando o ouviam falar.
Encantador, pensei é um prazer ouvi-lo.
“Tornei-me calmo”, disse ele, “fez-me bem; o senhor tem muita força.”
Recebi de uma das minhas pacientes uma imagem de Cristo, feita por ela mesma para mim; ele olhando-a, perguntou: “O Senhor é crente?”
“Sim” respondi “sou muito crente”.
“Uma linda imagem.
Uma artista grandiosa essa que a fez, magnífica.”
Nesta palavra magnífica, do jeito que pronunciou, estava sua personalidade total.
“Grandiosa”, ele disse de novo, “Muito sensível.”
Depois foi embora.
Quando retornou pela segunda vez, seu primeiro olhar foi para o Cristo; a imagem do Filho perfeito de Deus o interessou especialmente.
Eu pude entender. Afinal, ele era sacerdote.
“Fez-me bem” assim começou, “muito bem.
Estou feliz por ter decidido, me deixar tratar pelo senhor.
O senhor sabe que sou sacerdote?”.
“Eu já ouvi dizer.”
“Ah”, ele sorriu “foi dela”.
“Sim”, falei, “ela me contou.”
Que sorriso lindo, pensei. Com isso conquista os corações de todos.
Quem o via sorrir, sentia atravessar uma corrente de amor através de si.
“Eu nunca me entreguei a estas coisas, mas confio plenamente no senhor!”
Agradeci o elogio e comecei a tratá-lo.
Durante o tratamento senti que ele fixava o olhar firme na imagem de Cristo e que nele eu poderia penetrar profundamente.
Ajudar uma pessoa desta forma é uma felicidade enorme e magnífica.
Ele absorvia minha irradiação e forças magnéticas e isso o aliviaria.
Também senti que fui ligado a ele intensamente.
Pessoas assim não se viam todo dia.
Abrir-se totalmente, poucas pessoas conseguem.
Eu lamentava não poder modificar a sua situação, seria preciso forças diferentes, mais elevadas, para poder curá-lo.
O que o meu líder me passara eu podia confiar, mas era sim, uma desilusão muito grande.
Entretanto, este tratamento também lhe fizera bem.
“O Senhor me ajudou muito”, ele disse.
“Eu não posso fazer senão o meu melhor e desejar que continue fazendo bem ao senhor.
Teremos que aguardar.”
Sondei-o para sentir o que achava da sua situação, mas ele estava calmo.
“Sim”, ele disse, “somos todos simples humanos” enquanto olhava o Cristo.
Entendi aquele olhar: dever-nos-iamos tornar como Ele.
Ele baixou os seus lindos olhos azuis e disse : “ O Filho dos homens”.
Senti dele um grande amor dirigido ao Cristo.
Por um momento ele estava absorvido por pensamentos profundos.
Depois me dirigiu o olhar: dois sóis irradiavam ao meu encontro e senti o calor, que ele próprio carregava, fluir dentro de mim.
Um momento lindo pensei, ele se entrega totalmente.
Ele era igual a um sol e todo o seu ser irradiava amor.
Não admira que queiram mesmo mantê-lo, ninguém queria abdicar dele.
“Eu já passei por muito na minha vida”, ele falou.
Senti o que ele quis dizer.
Passou da sua própria vida para aquilo, com que presentemente ele mais se identificava.
“Eu nunca tive a ver com isso na minha vida, mesmo assim, sei muito disso.
Agora, porém, vou ter de ir para casa”, e foi.
Depois do terceiro tratamento, nós já nos tornamos bons amigos.
Entendemos um ao outro, devagar e com cautela, começou ele a fazer perguntas.
Todas as perguntas tratavam da sua própria vida e à área religiosa.
Ele se importou muito com a miséria do mundo, ele não achava necessário que tantas pessoas devessem sofrer.
Tocou-lhe profundamente aquela miséria, o que o entristecia.
Eu me apercebi ao mesmo tempo, que ele poderia mover montanhas.
Neste sacerdote havia uma fé muito grande e confiança na justiça de Deus.
Quando ele falava da sua vida e da miséria dos homens, seus olhos se enchiam de lágrimas e também em sua voz havia um alto teor de amor.
Perguntei se gostaria de ver um dia os meus quadros obtidos pela minha intermediação como médium.
“Com todo o gosto” disse ele “mas então o senhor vai ter que explicá-los, eu quero saber o que significam.”
Eu expliquei-lhe que eu não sabia pintar ou desenhar, porém os tinha recebido em transe.
Apenas sorriu e ficou calado.
Mas no seu sorriso lindo mostrava a sua admiração para com este evento.
Por bastante tempo ele ficou pensativo, observando as minhas obras.
“Milagroso”, disse “mas amedrontador”
“Amedrontador” continuei a conversa, “por que amedrontador?
Não é esplêndido receber algo bonito assim?
Os espíritos vêm até mim com as melhoras intenções.
Certamente não se vê nada de errado em todos aqueles quadros?
Tudo significa amor e fé, a fé em uma vida eterna.
O que recebi é amor.”
Continuou sorrindo.
De um quadro ele passava ao outro.
Ficou pensando por um bom tempo, como se quisesse resolver o enigma para si mesmo.
Então ele voltou a observar o Cristo, como se tentasse receber Dele a verdade.
Deixei-o, eu sentia respeito pela sua personalidade.
Não queria de jeito algum me impor a ele.
Depois de ter visto tudo, ele disse: “Vou embora, depois falaremos disso, depois.”
Ele se despediu cordialmente apertando ambas as minhas mãos e partiu.
Noutra altura, inesperadamente me perguntou “O Senhor acredita em Maria?”
Em Maria, pensei o que significa essa pergunta?
E eu respondi, após ter sentido no fundo da alma o que ele pretendeu dizer: “ mas, claro que eu acredito em Maria.
Acredito em todos os santos.
Afinal,isso fazia parte da minha fé!”
“Agora já mais não?”
Outra vez o sondei, senti onde queria chegar e disse a ele: “Esclarecerei ao senhor.”
O sacerdote olhava o Cristo, como que sentiu sobre o que eu iria falar.
“Eu recebi outra religião e através dos espíritos, portanto através daqueles que se foram antes de nós.
Esta crença é mais profunda do que aquela que eu conhecia e tinha antigamente.
Mas deixe-me adiantar que eu não chamo os espíritos, porque eles não se deixam chamar.
Eu acreditava em todos os santos, e por que não acreditaria mais neles, agora que eu estou sabendo isso tudo?
Todos os santos que o senhor conhece, agora têm outro significado muito maior para mim que antigamente.
Agora estou compreendendo as suas vidas na Terra e a missão que cumpriram.
Sim, eu sinto como eram virtuosas as suas vidas.
Isso eu não conseguia antes - e os espíritos me esclareceram.
Aqueles que morreram na terra e retornaram para nós, conhecem todos aqueles santos e eles sabem como devemos viver, para que essa santidade fará parte de nós.
Eles dizem que precisamos amar a vida e que nós, após a morte terrena, seremos felizes e reveremos todos os santos, se vivermos uma vida bem vivida.”
Ele acenou com a cabeça afirmativamente, mostrando estar de acordo.
“As lições que recebo do espírito, sempre tratam daquelas questões, que mais entretêm a humanidade, isto é a fé e o amor.
Eles me indicam como devo viver para ter felicidade e luz na vida após morte.
Esta vida encontro na natureza, aí aprendo a conhecer a vida de Deus.
A natureza é Deus, assim eles dizem.
A doutrina deles é profunda e repleta de verdade.
Eles conversam comigo sobre as suas vidas, e mais de uma vez pude contemplar as suas vidas, ao abandonar o meu corpo físico.
Eu tenho visto, como eram piedosas e santas as suas vidas.
Eles dizem como já fiz notar, que precisamos amar tudo o que vive, pois fora criado por Deus.
E eles, que fazem tais afirmações, não poderiam obviamente ser demônios?
As pessoas não conseguem acreditar isso, porém é a verdade.
Acredite em mim quando lhe digo que, se recebesse alimento espiritual que me regredisse, não quereria saber nada desses espíritos.
Mas, até agora, tudo o que recebi deles tem sido limpo e puro e deve continuar assim.
Foi somente amor o que recebi através deles e agora se tornou a minha crença.
Você mesmo diz que sabe muito disso; então, todavia pode imaginar a minha situação?
Eles me apontam a Ele, Aquele que está por trás do senhor, aquela figura grande, ao Cristo.
Eles dizem que todos devem seguir o Seu exemplo.
Ele morreu por nós, o Seu amor receberemos se seguirmos o caminho que os espíritos nos indicam.
Eles vivem atrás do véu e este véu é levantado para mim.
Não é magnífico poder ver a partir da terra a vida linda e imaculada deles?
Receber algo assim é uma graça muito grande e estou muito agradecido por isso.
Para poder servir como médium os espíritos elevados, é uma tarefa esplêndida e grandiosa e para executar corretamente esta tarefa é muito difícil.
Minha vida mudou depois de ter entrado em contato com eles.
Eles contam que todas as religiões são uma só, e que todas têm razão.
Mas a ligação que eu tenho agora, esta fé, é mais profunda do que qualquer outra.
Através dos espíritos, tomei conhecimento das leis espirituais, coisa que nenhuma outra religião me pôde dar, porque estou em contato com estas leis, os espíritos são a própria lei.
Eles me mostraram e me explicaram como eram as suas vidas na Terra e como eles estão agora.
Eles são felizes e serão felizes eternamente.”
“O senhor realmente acredita”, perguntou ele inesperadamente, “que continuamos a viver do modo como eles dizem?”
“Mas evidentemente.
Já lhe falei que eu os vejo e conheço as suas vidas.
Estive lá algumas vezes e asseguro-lhe que o ser humano não terá mudado quando entrar naquela vida.
Nós continuamos assim como agora sentimos.
Nada muda.”
De novo ele sorriu, mas nada disse.
“O senhor não pode aceitar isso?”
“Não” disse ele com franqueza,” inacreditável demais para mim, bonito demais para ser verdade”.
“O senhor acredita na continuação da vida eterna e, mesmo assim, pensa que tudo é diferente?”
“Não sei, mas vou aguardar”.
“E mesmo assim, tudo é verdade.”
“O senhor também é sacerdote”, ele me disse.
“Homens” eu prossegui “que estão no caminho espiritual e contam disso aos outros, são todos sacerdotes.”
Ele olhou para mim e disse: “Muito bem, muito claro.”
Quando ele se foi embora, Alcar me disse: “Um homem no bom sentido da palavra.
Há poucos sacerdotes como ele.
Na Terra, são tão poucos que até dá para contá-los.
Não vai precisar permanecer muito mais na terra, brevemente ele conhecerá a nossa vida.
O seu sentimento tem afinidade com a espiritualidade.”
Esplêndido pensei , como o Alcar falava deste modo sobre ele.
Então, ainda ouvi meu líder dizer: “Ainda vai conhecê-lo melhor.”
Numa tarde, quando já tinha tratado dele, ele me perguntou: “O que é que o senhor me está dando?
Sinto-me toda a vez tão refrescado e bem disposto, quando o senhor termina o tratamento.
E o que faz, quando o senhor coloca a mão, assim quieta no meu corpo, onde sinto dor?”
“O que faço?
Vou lhe contar.
Quando fecho os meus olhos, começo a rezar e peço forças a Deus para poder ajudá-lo e aliviar as suas dores.
Sem a ajuda e força Dele, não vou conseguir nada.
Após a minha oração, eu foco na sua situação e sinto no meu próprio corpo, aonde o senhor sente dor.
Depois, eu vou focar no meu líder, que dirá o que preciso fazer e depois eu ajo de acordo.
Tudo aquilo tem a ver com a sua doença, porque é Alcar quem quer transformar o sofrimento e a dor dos homens em felicidade.
Não só fisicamente, mas, sobretudo espiritualmente.
Eu sinto e vejo-o ao meu lado, sim, o ouço falar comigo.
Ele vê através de toda matéria e o meu conhecimento é o dele.
Nada sou e nada posso sem ele e a ele me entrego de coração e alma.
Quando ele me mandar parar, eu sei que tenho tratado o senhor o suficiente.
Posso confiar nele em tudo e contar com ele.
Para mim, ele é um mestre e um pai, através dele vejo, através dele pude conhecer a vida e ele resolverá problemas espirituais difíceis para mim.
Através dele, aprendi a apreciar o amor sagrado de Deus, até onde eu consigo apreciá-lo, porque sou apenas um ser humano?
Em suas mãos carinhosas, as pessoas se sentem seguras, elas podem entregar-se a ele completamente.
O meu líder, reverendo sacerdote, é um espírito de amor e deste modo as pessoas, que entram em contato comigo, o ficarão a conhecer.
Quem se entrega nas mãos de Alcar, nunca se sentirá desiludido”.
Ele me olhou surpreendido e perguntou: “Como ficou com este nome?
Quem escolheu esse nome para você?”
“Ele mesmo.
Não vos disse já que posso ver e ouvir os espíritos?
Ele próprio me disse o seu nome espiritual.
Quando o meu líder ainda vivia na terra, ele tinha outro nome.
Eu vejo o seu vulto, lindo, ele irradia luz imaculada e pura e o seu ensinamento é como o Dele”.
Eu apontei o Cristo.
“Tudo é amor!”
“Lindo”, ele disse.
“Faz-me bem e me ampara.
Tomara que continue assim”, ele fez seguir.
“Eu tomarei conta disso.
É uma graça enorme e não pretendo ser ingrato.
Os meus dons para mim são sagrados, vivo para isso e em consciência já me despedira da terra.
Acredite quando vos digo que conheço melhor a vida após a morte do que a minha vida terrena”
“O senhor tem muitas forças.”
“Sim, tenho.
Mais uma vez, sou grato por isso.
Eu sou clarividente e clariaudiente, pintor, médium que cura e escreve, mas poder abandonar o meu corpo físico é o dom mais lindo de todos os dons.
Poder estar lá e ver suas vidas, ah, isto é tão magnífico!
Isso é uma dádiva de Deus muito grande, como apenas poucos recebem.
Para as pessoas, que não conhecem estas forças, não são milagres e também tudo isso não tem valor, porque não aceitam essa verdade e nem têm sensibilidade para ela.”
“O abandonar do corpo físico, como o senhor chama, é o mais lindo?”.
“Sim, o mais lindo e o maior de todos.
Alertando as pessoas sobre este assunto, elas encaram a vida de modo diferente e a guerra e a matança há- de deixar de existir.”
“O senhor é profeta.”
“Não, reverendo, não sou. Sou apenas um ser humano como todos os seres humanos, porém o que lhe conto é a verdade.
Não é maravilhoso falar às pessoas sobre a continuação eterna da vida, assim como você mesmo presenciou?
Elas podem pegar nisso, porque precisam de um apoio.”
“Sobre isso o senhor poderia contar muito”, disse ele.
“Já passei por isso e se você quiser conhecer o meu líder e a minha vida e daqueles que vivem no além o senhor pode levar o primeiro volume do meu livro, que tenho guardado aqui no meu armário.
O Senhor terá uma verdadeira idéia da vida após a morte física”.
Porém, ele mudou de assunto e perguntou “Quantos anos o senhor tem?”
“Eu tenho trinta e oito anos.”
“Perfeito, então o senhor ainda poderá fazer muito pelas pessoas.
Não tenho feito outra coisa em minha vida toda e não me arrependo até agora, ao contrário, isso sempre me fez feliz.
Mas”, disse ele, como se lembrasse da minha conversa anterior, “você vê os espíritos com a mesma aparência que a sua?”.
“Sim; eu já disse que os vejo, ouço e sinto.
Eles são como nós, mas, mais adiantados no caminho espiritual, quer dizer, aqueles que já possuem luz própria.
Existe ainda algo como um Inferno e aqueles que ali permanecem deverão percorrer uma longa caminhada e se desfazer pedaço a pedaço, a si próprio.
E esse despedaçar não é muito simples assim, as pessoas não têm noção disso.
Nós seres humanos ainda estamos demasiado sujeitos aos nossos sentimentos.
Eu vi o Inferno e o Céu, digo, vários Infernos e Céus no Além, mas não havia fogo.
Ali arde o fogo da paixão e da violência nas suas almas, refiro-me aqueles que vivem nas trevas.
É sobre isso que conto nos meus livros”.
Em simultâneo, me dirigi à estante de livros e peguei o primeiro volume de “Um olhar no Além” e disse a ele: “Este é o meu primeiro fruto que colhi da minha caneta, e o segundo volume também já foi lançado.
Não é literário nem científico, mas o seu conteúdo é a verdade sagrada.
O senhor vai achar admirável e se questiona se tudo será mesmo assim, quando entrarmos nessa vida.
Porém, eu já passei por isso tudo.
Neste livro, você conhecerá o meu líder e também muitos outros espíritos.
Então você se sentirá surpreendido, quando você lê como é grandiosa a vida após a morte, que não há mais milagres, e que todos os problemas deixam de existir quando a pessoa conhecer esses milagres e problemas.
Não é nenhuma visão romântica ou poesia, é a pura verdade.”
Eu entreguei-lhe o livro, ele pegou em suas mãos bem formadas e ele perguntou; “posso levar?”.
“Ah, pode levar tranquilo, eu tenho mais desses livros e quando terminar, o senhor pode, se quiser,ler o segundo volume também”.
Em seguida,ele se despediu cordialmente.
Depois, quando minha paciente veio me visitar, ela disse: “Sabe que ele gosta muito do senhor?
Ele o chama de André e Jozef e diz que André flutua no universo e, dali, tira sua sabedoria e fala com os espíritos.
Pelo amor de Deus, de onde ele tira tudo isso?
O senhor falou com ele e contou sobre as suas experiências?”
“Falei até muito com ele, mas ele não lhe contou que lhe entregara o primeiro volume do meu livro?”
Para mim já era uma prova que ele tinha lido o livro, porque eu sabia onde estava o parágrafo que tratava do universo.
“Ele está melhorando”, ela disse muito feliz, “o senhor não acha?
Nós todos nos apercebemos disto.
Estes últimos dias você está muito alegre e fala bem do senhor, porque está indo tão bem.
Ele se sente ultimamente, sem alguma comparação, melhor.
Ele deve estar melhorando sim.”
Deixa-a terminar de falar, mas senti aonde ela queria chegar e, como não fui por esse caminho, ela perguntou “Porque o senhor não diz nada?
Afinal, não está melhorando?”
Mas não respondi à sua pergunta e disse “Vamos ser gratos com o que temos alcançado e é preferível não nos anteciparmos”.
“Então, mas não dá para ver?”
Eu disse-lhe: “ O que nós alcançamos é lucro”.
“Lucro, diz o senhor, ai que horror.”
“Nenhum horror” repeti, “não há nada que efetivamente se possa fazer.
Temos que nos contentar que ele está bem, e a aguardar”.
“Não podemos ainda ficar sem o nosso tesouro”,disse ela.
“Porém, não há nada a fazer.”
Triste, ela foi embora.
Sim, seria lamentável se ele fosse morrer.
Não conseguem aceitar a falta deste sacerdote, é que ele era muito acarinhado, mas desde que ele se sentisse bem, ele já estaria bem feliz.
Ela queria muito mantê-lo, mas o sacerdote, o seu pai, iria passar para a outra vida.
Se eu a decepcionava, nada podia fazer, foi o que o meu líder me transmitiu, em que colocava a minha inteira confiança.
Eu estava bem curioso, com a opinião do sacerdote, pois ele parece de vistas largas.
Eu não fiquei nada admirado, quando ele retornou e me solicitou pelo segundo volume.
“Depois falaremos”, disse ele, “e, nessa altura, terei muitas perguntas para lhe fazer, mas antes quero ler tudo”.
Após a sessão do tratamento não houve nenhuma conversa e me despedi dele por três semanas, porque chegou a hora de eu sair da cidade.
Ele sentiu-se magnífico, estava sem dores e no meu regresso, ele voltaria para mim.
Ele me desejou boa viagem e muitas felicidades.
Ainda disse: “Manter-me-ei calmo e vou-me dedicar à leitura.”
O sacerdote foi-se embora.
Minha paciente, que ainda me iria visitar, disse: “Ontem à noite estive com ele, era noite de culto (Port.: missa).
Depois da noite de culto, de repente, ele me disse “Jozef sabe qual é a doença que eu tenho, ele e você sabem, todos os outros não”.
Achei que ia morrer de vergonha.
De onde ele tirou isso, assim de repente?
Não contei nada disso a ninguém.
Será que ele sabe que é grave?
É mesmo verdade que ele tem essa doença?
Não há como curar esse mal?
“Não entendo, o que lhe causou esta doença, assim de repente,” tornou a repetir.
“O senhor pode me esclarecer?”
Não, eu não podia e disse que não sabia.
“Espero”, ela continuou, “que ele não piore, quando o senhor estiver ausente.”
Ela foi embora e eu me preparei para partir.
Alcar disse a mim: “Ele sente chegar o seu fim”.
Então parti.
Mas, afastado a uma distância longa dele, senti como o sacerdote se sentia.
Alcar também me disse que ele piorou.
Quando retornei da viagem, chamara-me imediatamente.
Ele estava de cama já por alguns dias.
Já está, pensei eu.
Está chegando o começo do seu fim.
Que pelo menos não demore em demasia.
Esta doença poder-se-ia arrastar.
Todos os amigos e os mais chegados se lamentaram, e acharam que, se eu não tivesse interrompido o tratamento, ele não teria chegado a tal ponto.
Mas eu sabia que não era bem assim.
Numa quarta-feira de manhã, fui visitá-lo.
Quando entrei no seu quarto, todo o seu ser resplandecia de felicidade, feliz em me ver de novo.
Segurou em minhas mãos, me olhou e disse “Meu Jozef!
Como estava ansioso por você!”
Eu senti o seu grande amor por mim, o que me fez sentir feliz e era, como se não me quisesse soltar mais.
“Que bom que você chegou.
Jozef, terminei os livros!”
Espantado reagi; qual seria a reação dele?
“Lindos!
Lindos!”
Ele cerrou os olhos, nenhuma palavra saiu mais dos seus lábios.
Lá estava ele deitado, quieto, aparentemente pensando.
Nesse momento senti o silêncio dos espíritos, vindo dele até mim e também fiquei calado.
Sentei-me perto da sua cama, e ambos ficamos profundamente absortos aos nossos pensamentos.
Pensei na sua grande amizade e no amor que ele sentia por mim.
Aceitei de boa vontade o seu amor imaculado e era muito grato por isso.
Tão recentemente eu conheci esta pessoa e, mesmo assim, era como já se tivessem passado muitos anos.
Eu rezei por ele e então iniciei o tratamento.
Ao meu lado, vi o meu líder querido, o espírito de amor que me ligara com o enfermo.
Agora nós éramos um e eu aguardava pelo o que o meu líder teria para me dizer, já que ele estava examinando o enfermo.
Não precisei esperar muito e quando estava em contato com Alcar, ouvi ele dizer:”Aqui já não é possível ajuda, logo ele abandonará a vida.
Darei provas disso, aguarde com paciência.”
Estremeci.
E agora?
Pedi a Deus, para que ele pudesse deixar esta vida sem dores.
Não tinha coragem de pedir mais, nada mais poderia ser dado a ele.
Ele possuirá luz na vida após a sua morte, e luz significava felicidade.
O homem, a quem apertei as mãos, concluiu uma vida bela, e estava disposto a morrer.
Enquanto os seus olhos permaneciam fechados e as suas mãos dobradas, ele me falou após um longo silêncio: “Magnífico, Jozef, lindo para as pessoas, mas poucas acreditarão.
Difícil, é muito difícil aceitar tudo isso.
Grande amor, Alcar.”
Ele falou com grande dificuldade, palavra por palavra, mas eu captei.
Graças a Deus, pensei, ele entendeu a minha obra.
Eram poucas as palavras que falou, mas, me fez bem ouvi-las da sua boca.
Deixou-me feliz.
Sim, poucas pessoas poderiam aceitar isso.
Eu ouvia repetidamente que eu era demasiado simples, nada literário, não convincente o suficiente; as pessoas não podiam apreciar o que relatava sobre a vida após a morte.
Eles consideravam tudo demasiado doce, que nem mel.
Um dia, porém, todos ficariam doces, doces como mel.
Quando essas pessoas forem expostas ao maior e último problema, quando caírem as vendas dos olhos, quando puderem espreitar por trás do véu, quando ficarem despidos diante do trono santo de Deus, então, nada será demasiado doce e demasiado simples e bem gostavam, muito, mas mesmo muito, possuir esta simplicidade.
Só lá eles serão confrontados com eles próprios, só então dariam valor a isso tudo.
Mas eu não pretendi escrever para estas pessoas.
Essas pessoas estavam fora do alcance.
Aquele, que estava aí no seu leito de morte, ele, o sacerdote, sentia o calor e a força espiritual que irradiava de tudo, e, principalmente, do grande amor do Alcar.
Mais, eu não podia ter esperado.
Também daqueles, que passaram por sofrimento e tristeza, que foram deixados a sós e faziam parte da classe social mais alta, recebi cartas dizendo que estavam muito, muito felizes.
Na hora da separação, Alcar lhes confortou com o seu grande amor.
Eles agora percebiam que reveriam os seus entes queridos.
Eles viram acontecer a grandiosidade: ao leito de morte dos seus entes queridos, também eles observaram algo.
O próprio moribundo o tinha exclamado.
Para todos eles, os meus livros se tornaram um conforto espiritual, uma força, para poderem continuar agora as vidas deles sozinhos.
Por aquilo que o Alcar falou, carregaram eles nos ombros a cruz nos ombros, o que Deus lhes deu para carregar.
Somente quando as pessoas passavam por sofrimento e privações, eles aceitariam ser alcançados e se entregavam mais facilmente.
Nenhuma ciência terrena os podia ajudar, é nessa altura que eles almejavam por calor espiritual, por um sentimento igual e por amor.
Nessa altura caíam as vendas dos olhos e escutavam aquela voz suave e clara, e se encontravam a si próprios.
Mas, os outros não precisavam de alimento espiritual, eles estavam de pés firmes no chão e assim pretendiam ficar, como eles próprios afirmavam.
Eles se tinham perdido, também foram engolidos pela vida na terra.
Eles atiravam os meus livros na lareira e atiçavam o fogo neles, mas, interiormente se consumiam de pobreza e frieza espiritual.
Eles nem se lembravam que logo também chegaria o tempo deles.
Se eu pudesse ter escrito só para ele, não hesitava nem um momento em escrever, mas felizmente ainda tinha muitos outros.
Porém, me fez bem saber que o sacerdote me entendia tão bem.
Não que eu precisasse disso, eu não me incomodava com ninguém, porque eu enxergava a vida do jeito que eu a descrevia, eu saía do meu corpo físico, e pude presenciá-la.
Tudo era verdade, todos iriam presenciar um dia, quando eles entrassem nessa vida.
Mas muitas pessoas vivem o materialismo, e riem de tudo, também pela sua própria ignorância.
Essas pessoas crescidas e adultas eram, porém, como se fossem criancinhas.
Mas crianças conseguem sentir mais do que muitas pessoas crescidas e instruídas.
Aqueles que se aprofundavam na vida após a morte e se portavam de acordo, são os felizardos na vida do além.
Os outros precisariam de muitos anos antes que pudessem ver a luz, porque os seus sentimentos ainda se turvavam.
É muito difícil chegar à vida espiritual.
Mas quando se sente, trazem felicidade e verdade eterna, uma confiança grande e forte e a posse de uma vida santificada.
Traz amor, limpo e imaculado.
Esta pessoa o sentia.
“Jozef”, falou o sacerdote de repente, “eu vou flutuar longe da Terra.”
Eu me assustei.
Bem quando eu pensava naquilo, ele começou a falar.
Era como se outro alguém lhe desse a força para dizer isso a mim.
Com isso, seus olhos enchiam-se de lágrimas.
O Arquissacerdote era como uma criança e também eu me sentia assim.
Éramos dois homens adultos e, mesmo assim, crianças no espírito.
Nós tínhamos só um Deus e nós nos fundimos interiormente um no outro.
Sentíamos uma só vida, um só amor, ele como sacerdote, eu como instrumento.
Ambos servíamos um só Deus, queríamos servir um só Deus, tinhamos um só Pai e conhecíamos só uma verdade.
Ele adquiriu essa verdade e sabedoria através dos estudos e por presenciar a vida, como Deus queria que fosse assim pelo homem.
Por isso ele era instruído.
Eu recebi a verdade e sabedoria diretamente do Além e estava ligado com a vida eterna.
Eu podia ver através dos seus estudos e, por isso, simultaneamente, conheci sua teologia e a vida atrás do véu.
Toda essa grandeza passou por mim. Devido ao meu líder espiritual Alcar, fui integrado no Cosmo.
Agora, eu sabia que era uma partícula desta vida poderosa, aquela vida grande e santa.
Porém eu não estudei e vim duma aldeia de camponeses, mas adquiri uma ciência e fé, puro como um cristal.
Era simplesmente natureza e não podia ser aprendida, devia ser sentida.
Isto o sacerdote sentia: ele era meigo, meigo como a própria vida e estava aberto para essa vida poderosa.
A vida estava nos seus olhos lindos, no seu tom de voz, exteriorizava o sentimento suave da alma e coração e nisso as pessoas reconheciam a sua personalidade.
Aquele ar pueril, aquela pureza percorria todo seu ser.
Logo iria entrar nas esferas como criança e pisar os céus, onde o aguardava uma beleza sem igual.
Esse sacerdote amava todos os homens com todos os erros e pecados.
Ele conhecia as paixões e entendia, porque queria entender.
Ele não queria ver os erros e quando dava, dava cada vez com as mãos cheias.
Nunca estas mãos se fecharam e quem batia na sua moradia de alma, ele deixava entrar.
A sua porta pequena de alma rangia nas alças, as dobradiças foram forçadas, arrebentados os batentes e ele não os concertava, porque sabia que seriam rebentados de novo.
Ele deixou a porta aberta e todos, velho e novo, pobre e rico, podiam entrar.
Ele deixava, porque ele amava e tinha muito amor, é que, senão fosse isso, não lhe seria possível ajudar.
Quem batia à sua porta, deixava entrar, e muitos entraram.
Mas havia alguns que entravam com lodo e lama nos sapatos, ele não se apercebia disso, ou melhor, ele nem queria saber.
É que ele os amava com todos seus erros e pecados.
“Entre”, ouvi ele dizer, “ah, entra tranquilo, não tenha medo, a minha porta está aberta” e sorrindo ia ao encontro das pessoas e as acalmava.
“Você está vendo, a porta está destruída e não posso nem pretendo fechá-la novamente.
Ficará aberta para todos, para a eternidade”.
A vida lhe ensinara isso e muitas pessoas foram ao seu encontro.
Um deixava os seus tamancos na frente da porta e calmamente ia ao seu encontro.
Estas pessoas sentiam respeito, respeito sagrado para com a sua personalidade e consideravam piamente a sua morada da alma.
Pretendiam não perturbar a paz da sua alma e voltavam tranquilamente para suas casas.
Ele os ajudou na alma e no corpo.
Mas também outros vinham, entrando de qualquer jeito; não conheciam e nem sentiam respeito.
Surpreendido, ele então os olhava, mas nada dizia.
As pessoas precisavam de ajuda e essa ajuda ele pretendia lhes dar.
Apesar de tremer de susto, sentindo as pessoas com todas as suas falhas e erros, ele conseguia se manter calmo.
Ele se controlava, simplesmente sorria e os acalmava.
Seu sorriso eterno fazia milagres.
Muitos entravam, olhavam-no com dureza nos olhos, fazendo-o estremecer e tremer, mas ele as encarava como uma criança inocente, só lamentando o trato desumano.
Sua moradia de alma, linda, sempre bem arrumada, para que Deus pudesse entrar, era manchada pelas pessoas.
E quando essas pessoas partiam, ele ficava sozinho com tudo o que era humano.
Ele tinha que assimilar tudo sozinho.
Ninguém podia ajudá-lo com isso, mas também não precisava de ajuda.
Ele sabia e tinha a força e entendia da arte e tinha a sabedoria que precisava para manter limpa a sua morada espiritual, para que Deus pudesse entrar no momento mais inesperado.
Ele possuía tal força grande e a carregava, e fundo, bem fundo dentro dele estava o seu amor puro.
Não, as pessoas não podiam manchar a sua casinha de alma.
Um mar de amor lavava-a deixando-a limpa, nada ficava no lugar e ele a secava com as chamas do seu amor interminável.
Ninguém sabia do seu segredo, porém também ninguém pretendia saber.
Ele guardava este tesouro em silêncio e somente sorria, com que se unia a todas as pessoas que chegavam até ele.
Deste modo ele vivia, foi assim que aprendera a viver.
Assim eu senti este sacerdote.
Estava silencioso, ao redor do enfermo, e meditei sobre as palavras de Alcar, que tinha sido um grande sacerdote.
Eu senti o silêncio da morte, o partir deste mundo, o entrar no Além.
Este problema não me largava, pude sentir e ver este sentimento me absorver completamente.
O que presenciei, deveria passar toda a pessoa que vivia na terra.
Eu senti afetuosamente pelo sacerdote, e sondei o seu estado de espírito interior, e soube quanto ele ficaria feliz daqui a pouco.
Ele viveu como homem, como um filho de Deus.
De repente, abriu os seus olhos e perguntou: “O senhor acredita nas pessoas?”
Peguei um susto.
Novamente ele captara os meus pensamentos, é que ele prosseguiu,dizendo “A morte é minha amiga, Jozef”.
Será que ele já sentia a linguagem espiritual que só se conhece e utilizava na vida depois da morte?
“Eu acredito”, eu disse, e não soube que outra resposta devia lhe dar.
Então levantou os seus olhos e fixou o seu olhar numa imagem do Cristo, que estava pendurada acima da sua cama.
Para lá se direcionaram os seus olhos lindos.
Uma criança pediu para ter força para ser recolhida, para abreviar o seu fim.
Foi quando, após alguns segundos, ele disse: “Você é abençoado, Jozef”.
Foi como o próprio Cristo o tivesse dito.
“Você não pode esquecer os santos” ele prosseguiu e , inesperadamente, após fixar novamente os seus olhos no Cristo, disse: “Eu vou morrer, Jozef, antes deste mês passar, não estarei mais aqui.
Então, flutuarei como você.”
Como é possível, pensei.
Cristo disse a ele?
Ele esta ligado tão intimamente assim?
Como chegou a isso, de repente?”
Achei milagroso, de tão calmo que ele estava.
Ele sentiu os dons que eu possuía e o agradeci em silêncio por suas poucas palavras, mas tão profundamente sentidas.
Nisto, para mim, havia um alerta para manter meus dons puros e elevados.
Longe, muito longe, estava ele agora afastado de mim.
Segui-o ao funda da alma, e senti que ele se entregara totalmente.
Também só ele conhecia este segredo, sentia-se ligado com o Filho dos homens.
Novamente fixou o olhar para o Cristo.
Lágrimas derramavam pelo seu rosto carinhoso e um raio de luz o iluminava.
Você é um anjo, pensei.
Ele possuía um conhecimento, que só os moribundos poderiam possuir, ora, presenciar.
Ele já se encontrava naquela situação inexplicável, onde desvaneciam e absorviam leis e sabedoria terrenas.
Não havia alguma dúvida nele, nem senti a mínima hesitação.
Era sabedoria que ele presenciou, havia o momento em silêncio completo, tendo adquirido duma fonte superior.
Eu vivi algo grandioso hoje, algo desnaturado.
Deverá ser sobrenatural, pensei.
O sobrenatural o iluminava, estes poderes corriam para dentro dele e ele me dava parte disso, me deixou partilhar nisso.
“Você vai me ajudar, Jozef?” me perguntou de novo inesperadamente.
“Eu vou”.
Quando o encarei, eu tremia.
Ele vibrava dentro de mim e senti uma felicidade muito grande.
“Mas claro”, disse e vi que ele estava chorando de novo.
Ele me sentira e falou: “não porque eu parto, Jozef, nada disso, não pense isso”.
Entendi e percebi porque deixou correr livremente as lágrimas.
Ele pensava em todas as suas crianças.
Separar-se delas para ele era difícil.
Elas não poderiam ficar sem ele, pois não poderiam mais entrar na sua moradia porque deixariam de encontrar a casa aberta, onde se pudessem confortar.
Ah, não era tão simples!
De novo falou ele comigo respondendo aos meus pensamentos interiores.
Era milagroso.
“Separar-me disso é difícil.”
Ele me tinha sentido com clareza e absorveu tudo em si próprio.
Para mim ficou provado que nele agia outra força.
Eram provas como ele tinha um amor muito grande e podia captar forças espirituais e verdades, porque ele estava sintonizado em espírito.
Algo tão lindo não se via nem se presenciava muito num leito de morte.
Esta era uma transição muito extraordinária, uma preparação para o mundo eterno.
Não só ele sentia o seu abandonar da vida, mas já dominava a língua espiritual, que ali se falava.
Ele já possuía os poderes de transitar de uma pessoa a outra, todavia ainda vivia na terra.
Foi grande, o que presenciei naquele momento.
“Agora você tem que ir, Jozef.”
Despedi-me.
Nem tinha passado meia hora e quanto é que não presenciei.
Regressando a casa pensei nessas coisas todas.
Como foi linda esta manhã.
Quão grande despedir-se desta vida com tanta convicção.
Era muito agradável poder ajudar os moribundos desta maneira.
Já vi abandonar esta vida, mas nenhum da maneira como ele.
Alguns estavam amedrontados, outros ingeriram alimentos energéticos porque não queriam morrer.
Mas quando a morte se anunciava, nenhum cientista podia ajudar e nem forças espirituais podiam trazer mudanças.
Ninguém escapa da morte, o que se considera a única justiça neste mundo terrível.
Este sacerdote estava acostumado com a morte.
Para ele, ela era uma amiga oportuna, uma amiga que poupava ele do sofrimento, que lhe trazia felicidade, luz, amor, beleza, ora; vida eterna.
O que sobrava ainda da morte?
Onde estaria o seu poder?
O que era feita da parte terrível, se poderia chamar a morte de amiga?
A morte não encontrava nele, sustento.
Porque ele não nutria medo, nem sentia sofrimento ou dor, coisas com que a morte se fartava.
Com ele, a morte sofreria privações.
Passaria privações, porque não era sustentada.
Ele conversava poderosamente com a morte, sorriu-lhe e a morte lhe retribuiu este sorriso.
Eles depositaram confiança um no outro, e se tornaram grandes amigos, bem grandes.
A vida lhe ensinou isso, recebendo todas as pessoas na sua moradia de alma, e não resmungava quando entravam de tamancos e desleixados, mas recebendo-as com amor e de braços abertos.
Assim conheceu a morte e soube que isso significava vida eterna.
Ele olhava através da sua máscara, ele era clarividente e via através da névoa a perdição e horror.
Ele via que a morte não era o fim, mas um prosseguir a territórios desconhecidos.
Para ele, o velho cruel, de foice, fora substituído por um azul-celeste, um paraíso de pura felicidade.
A fatalidade deixou de existir, para ele tudo era pela direção sagrada de Deus.
Deus o chamava até Ele e a morte cedia o seu lugar e se afastava, porque não se podia aproximar.
Não, este sacerdote possuía tudo o que era preciso na terra da verdade eterna.
A morte estava feliz que entre todas aquelas pessoas existiam algumas sem medo dela.
“Ouça-me”, era como se estivesse a ouvir a morte dizendo para mim, “você, homem da terra, escuta o que vou dizer.
Olhe para mim, não estou morto.
Dentro de você arde uma chama, é Deus quem manda o Seu Amor, quem mantém vocês todos com vida.
Aquilo que você vê, o que aparenta e o que se cuida, aquilo morre e vai sumir.
Mas, dentro de você, vive algo que prossegue, sempre prosseguirá e conhecerá fundos intermináveis.
Uma felicidade elevada o aguarda, mas só para aqueles que vêem em mim a vida.
Eu não me dei o nome “morte” mas isso você fez, você homem, porque não me conhece.
Para você eu estava considerado “morto”,mas só o sou mesmo para aqueles que estão espiritualmente mortos.
Dentro de você, há uma centelha da vida eterna, dentro de você, há a verdade eterna.
Oh! Homem, Oh! Mulher não deixe estragar a sua vida devido ao meu nome.
Não sou a morte, sou vida e quem me conhece, será feliz.”
Eu podia seguir tudo, mas quem falou assim comigo?
A morte!
Ela era uma ser viva, que alcançava mais que nós, que julgávamos estar vivos.
Ele estava frio, mas ao mesmo tempo, possuía o calor dum sol, e poderia aquecer todos que viam nele a vida.
Com um sentimento de grande felicidade entrei na minha moradia.
Que manhã!
Quanto já recebi e quanto pude presenciar?
Que magnífico era ser médium.
A vida, que se escondia por trás do véu, ficaria, portanto a conhecer.
E isso devido a ele, quem conheci tão recentemente, mas de quem descobri o grande amor pelas pessoas.
Rapidamente ficou claro para o sacerdote o verdadeiro significado da morte e ele sofreria uma transição para a luz roxa.
O roxo unir-se-ia com mil outras cores, que eram da irradiação da sua própria vida interior.
Era o seu céu, que ele sentia e via.
Lá iria aguardá-lo.
Aguardava-o uma beleza infinita e um descanso eterno.
Duvidava pouco que eu ia presenciar mais acontecimentos lindos e coisas elevadas com o sacerdote.
Logo chegava sábado.
Eu já estava ansioso em poder ir ali.
Perto dele as pessoas sentiam as minhas forças e eu era compreendido.
O sacerdote já estava me aguardando.
Pegou em minhas mãos e disse “Meu Jozef”.
Como este homem começou a gostar de mim!
Meus olhos se enchiam de lágrimas.
Visivelmente ele piorava, não havia o que fazer contra a doença.
Tomei lugar ao seu lado, pus a minha mão esquerda na sua testa, e a outra no seu peito e o irradiava.
Ele, o sacerdote, absorvia aquela força, que lhe dava o descanso tão necessário para seus últimos dias na Terra.
Facilitariam a sua partida.
Ele sentia o efeito benigno do magnetismo vital.
Aqui os medicamentos não poderiam ajudar, e eu também não poderia alterar nada.
Após eu ter rezado, ouvi o meu líder dizer, para me concentrar espiritualmente.
No mesmo instante, que me sintonizei, julguei observar inteligências.
Sim, contemplei bem.
À volta da cama do sacerdote vi vários espíritos.
Eles estavam vestidos com belas vestes e irradiavam uma linda luz.
Eles olharam para ele, que em breve iria passar para o além.
O que significaria isso? Interroguei-me.
Mas logo ficou claro, porque ouvi cantar.
Eram cantos espirituais e duas vozes tomavam toda a minha atenção.
Eram um tenor e um baixo e os outros completavam as duas vozes para se fundir num todo.
Era celestial!
A voz do tenor era duma beleza desconhecida.
Aquilo me comovia profundamente, de tão poderoso e tão elevado.
Assim que o canto terminou, Alcar disse para mim, “o sacerdote pertence a uma ordem e eles, que vieram ao seu leito de morte, querem facilitar a sua passagem para o além.
Do além eles se aproximam dele, são espíritos de amor.
A força espiritual desse evento passará nele.
Ainda ele não está consciente disso, no entanto, sentirá algo.”
Descobri que eu estava ligado à irradiação deste evento.
Vi o amor desses seres banhados por uma luz e esta luz se projetava para o enfermo.
Envolvia-o e ficaria lá para repelir outras forças.
Era um repouso espiritual, uma consagração no espírito.
Estava banhada numa luz como um muro espiritual, uma fortaleza de força de amor.
Era grandioso o que eu pude contemplar.
Os que já viviam no além e o conheceram na terra, sabiam que ele iria morrer, o que ele próprio também já sabia.
Nisso eu sentia uma ligação, um conhecimento.
O amor ia além do túmulo.
Todos estes seres foram sacerdotes na terra e tinham completado uma vida linda.
Ele seria acolhido no meio deles, porque ele já lhes pertencia, e já antes estava unido a eles, um fenômeno excepcional, coisa que poucas pessoas assistem.
O enfermo adormeceu e me retirei em silêncio.
Também os seres espirituais se dissiparam perante mim.
Quando cheguei a baixo, a sua esposa me perguntou o que achara do marido dela.
“Será que vai demorar muito”?”
“Não”, eu disse, “não vai demorar muito.
Mas quando, também eu ainda não sabia.
Se for necessário, direi a você.”
Da próxima vez, eu presenciei outros milagres.
Quando entrei, me pediram para esperar.
Chegou um sacerdote de Paris, mas o enfermo só lhe deu um minuto.
Eu sorri e senti que ele não queria perder nenhum segundo do tempo que eu haveria de estar com ele.
Após um minuto, fui logo chamado e entrei no quarto do enfermo.
O paciente estava muito alegre e ardia de desejo para me dizer algo.
Senti isso assim que o vi.
“Escute”, ele disse, “faça o favor de sentar.
Eu flutuei Jozef, muito, muito alto, tal e qual você.
Foi lindo.
Vi coisas lindas.”
Cada vez ele interrompia para ganhar fôlego e ver o quanto eu deveria estar maravilhado.
Ele estava muito, muito feliz.
Então continuou.
“Eu vi flores, ah, tão bonitas!
Não, aqui não, aqui não são tão bonitas.
Estas eram diferentes.
Também ouvi cantar, cantar lindo, muito bonito.”
Assustei-me.
Será que ouviu então aquele canto?
“Um cantar lindo”, ele disse novamente, “ah, tão lindo!
Vozes lindas.”
Maravilhoso, pensei agora o homem é clariaudiente, clarividente e médium clarisensitivo.
Na reta final da sua vida, esses dons provavelmente chegaram a ele.
Entendi plenamente.
O seu sentimento se passava para o espírito.
Não era nenhum milagre que ele estava feliz.
Assim eu via e ouvia continuamente consciente, mas se eu contasse ninguém iria acreditar.
Ele, o sacerdote, agora fora ligado com a vida eterna.
Quando ele terminou de falar, havia lágrimas nos seus olhos, de tanta comoção.
“Eu vi muitas pessoas” ele começou novamente.
“Lindo, lindo, vozes bonitas.”
Com isso olhou a imagem de Cristo para agradecer ao Filho de Deus por tudo.
Como de costume, tomei o lugar ao lado dele e comecei o tratamento.
O Alcar me disse para prestar atenção, seria mostrado algo de novo a mim.
Debaixo das minhas mãos senti o sacerdote desvanecer.
De repente, vi uma claridade de luz e nesta luz se manifestou um ser radiante.
Cada vez mais densa, tanto que pude observá-la com nitidez.
Deslocou-se a partir da cabeceira até ao fim da cama, e me explicara que eu estava vendo e sentindo corretamente.
Agora vi naquela luz uma aparição, um espírito jovem numa beleza radiante.
Sem querer, estimei a sua idade, e achei que teria alcançado uma idade entre trinta e cinco e trinta e sete anos.
Depois a imagem se desvaneceu e apareceu outra.
A própria aparição me mostrara algo, vi um berço e lá dentro uma criança morta.
Acima do berço flutuava o número dezessete.
O número estava iluminado, para que eu pudesse percebê-lo nitidamente.
Dezessete, pensei?
“Meses”, ouvi dizer então, “de falecida!”.
Curto e forte foi me transmitida essa realidade.
Não restou nenhuma dúvida e compreendi de imediato, quando o ouvi dizer: “Meu Pai!”.
“Meu Pai?” pensei.
Meu Deus, como é grande este milagre.
O Pai dele?
Então seria o filho do sacerdote, um filho, que deixara a terra numa tenra idade?
Então o Alcar me disse que eu tinha observado corretamente, e aguardei pelos acontecimentos em seguida.
Um filho que, com dezessete meses de vida, partiu da Terra, voltou com trinta e sete anos, para buscar seu próprio pai?
Para ajudar o seu Pai na sua transição?
Mas isso era algo muito especial.
Era um mistério profundo e impenetrável pela mente humana.
Que sabedoria!
Como era grande esta ciência e que grande o problema.
A criança viveu, portanto não estava morta, senão era impossível se manifestar e ela cresceu.
Mas aonde?
Seria possível?
Eu vi claramente um ser esbelto, uma aparição espiritual.
Isto não era um enigma?
Foi me mostrado uma enigma sobrenatural e fui posto em contato com ela.
Um problema de que não se tinha nenhum conhecimento na terra e que não poderia ser entendido.
Apesar disto era a verdade, pois eu testemunhei.
Eram problemas e leis espirituais de que só se tomava conhecimento após a morte, na vida além, onde vivia o meu líder e outras milhões de pessoas.
Lá onde pude permanecer várias vezes e onde a aparição se tornou adulta.
Isto era uma prova grandiosa e poderosa da continuação da vida, se as pessoas a quisessem aceitar.
Que tesouro da verdade eu pude acolher agora.
Eu senti centenas de perguntas vir à cabeça e a todas essas perguntas eu próprio pude responder.
O que sobrava agora da morte e o seu poder?
O homem se iludia.
Quem poderia ainda acreditar agora na morte?
Aqui retornou a vida jovem, a criança, que era dada como morta que, como um anjo regressou à terra, para ajudar o seu pai, na matéria e para o resgatar.
Como era profundo este problema e como chegou este ser a esta verdade?
Como ele tomou conhecimento que o seu pai iria falecer?
Como é que ele sabia seja o que for sobre o Pai ou a Mãe, nem ele podia saber o que significava Pai ou Mãe, quando abandonou a vida.
Mesmo assim, ele retornou, justo agora, quando o seu Pai morreria e transitaria para outra vida, onde vivia ele, a própria criança dele.
Agora o meu líder me disse para eu escutar e ouvi o ser esbelto dizer:
“Eu vim buscá-lo: isto me é permitido.
É a vontade de Deus.
Pergunte a ela, que é a minha Mãe, se eu faleci nesta idade, ela há-de confirmar.
Um laço de amor me manteve unido a eles.
Um laço eterno de amor nos une, une todas as pessoas a seus entes queridos que vivem deste lado e os aguardarão, quando também eles transitarão para este lado.
Eu pude deixar a Terra em idade tenra.
Isto já é uma grande graça.
Você vê que estou vivo e me ouve falar com você.
Tudo é a verdade santa.
Convença-se e pergunte a ela.”
Muito comovido com este acontecimento, eu escutei com admiração esta aparição.
Ainda ouvi dizer:
“Eu cresci nas esferas de luz, porque sei que a vida é eterna.
Eu penso como você pensa, e vivo no espírito.
Eu vejo e ouço você e posso me ligar à sua vida.
Eu sei que ele, que aí está deitado, é o meu Pai, o meu Pai na matéria física.
Porém nós temos e conhecemos um só Pai e este é Deus.
Eu lhe agradeço que estava preparado para me ouvir e a abrir os seus olhos do fundo da sua alma para mim.
Também eu lhe agradeço o seu amor entregue a ele.
Agradeça também a ela, que é a minha Mãe, por todo o seu amor.
Sinto e recebo o amor deles, porque vivo e ficarei sempre unido a eles.
Eu sei que eles me amam e que um dia nós nos veremos de novo, para a eternidade, eternamente.
Este momento é sagrado para mim, nunca se esqueça disso?
Você poderia dizer isso a eles, a todos os meus entes queridos?
Vivo nas esferas de luz e também o meu Pai possuirá a luz e a felicidade.
Em breve, ele estará aqui comigo e tudo isto é a vontade santa de Deus, Seja feita a Sua Vontade!
É a verdade e por ser a verdade, é santo e por isso o ser humano curvará a cabeça perante Ele, que é o Nosso omni-presente Pai.
Para vocês, é uma graça grande, poder presenciar tudo isso.
Eu clamo a vocês e a todos: Não tenham medo da morte, nós vivemos em beleza celestial.
Vocês verão luz, quando houver luz dentro de vocês.
Tudo isso é amor, amor santo.
Eu ficarei com ele até o fim.
A sua veste terrena será enterrada, mas o seu corpo espiritual voltará à vida, à vida que é Deus.
Este fato ninguém poderá alterar.
Vá agora, que eu vigio. Nada perturbará o seu repouso.
Eu lhe agradeço.”
Depois eu vi que a aparição se retirou e dissipou no ar.
Senti-me flutuar, não senti mais a mim próprio, porque presenciei algo de santo.
Antes de eu ir embora, eu agradeci a Deus por tudo o que recebi.
Depois me despedi do meu amigo querido, irmão e pai.
Tendo eu descido ao piso térreo da casa, perguntei à mãe do ente aparecido, ora esposa do sacerdote, a verdade sobre este problema.
“Você teve uma criança”, perguntei a ela, “que faleceu na idade de dezessete meses?
Um menino?
Se tivesse continuado a viver ainda, essa criança poderia ter agora trinta e sete anos de idade?”
Não precisei duvidar da verdade, porque começou a chorar muito.
“Sim”, ela disse, “nosso menino faleceu tão jovem.”
Ah, pensei, que milagre.
Como era grande essa verdade, como tudo era santo.
Agora ouvi Alcar dizer: “Diga-lhe que você falou com a criança dela, ela precisa saber.”
Então eu prossegui:” vivi há instante algo lindo.
Seu filho se manifestou perto do pai dele.”
Mas senti que ela não sabia ou entendia o que seria manifestar e que eu não deveria prosseguir, era profundo demais para ela, muito irreal.
As pessoas não conseguiam aceitar coisas sobrenaturais e então me despedi dela.
A manhã inteira eu não tive coragem de pensar mais sobre esse problema.
Para isso, eu deveria estar calmo, também me emocionei.
Muitos problemas passavam pela minha cabeça, eu vi profundezas e paisagens no, ainda desconhecido, horizonte humano.
Algo horrível prejudicava toda essa beleza e o esplendor, este algo era a morte.
Esta imagem estragava tudo, o que fazia com que o homem não pudesse aceitar a vida eterna.
As pessoas encolhiam os ombros e voltavam aos seus afazeres do dia a dia.
A morte destruía a felicidade do homem, ela trazia sofrimento e dor e, no entanto, podia significar apenas uma felicidade muito grande.
Ela colocava o seu véu mortal perante a luz eterna, e turvava a verdade santa e só, porque foi isso que o próprio ser humano queria.
Gostavam dela e não queriam ver a luz.
Mas aqui se mostrou a verdade, que a morte significa a vida.
Uma criança de dezessete meses retornou com uma idade mais avançada e disse que ela tinha crescido nas esferas da luz, na vida eterna.
Essa criança vivia numa beleza celestial.
Ah, morte, suma da Terra e não destrua a felicidade do homem.
Vá e guarde a sua foice, porque você é amor.
Irradiam o homem com a sua luz eterna, a sua brasa de sol e lance flores no seu trilho e ilumine os seus caminhos, onde você antes levava a destruição.
Morte, onde fica o seu poder, a sua velhice e o espanto?
Você é como a criança, a criança que deixou a terra e retornou como jovem.
Dentro de vocês, homens da terra, encontrarão esta verdade.
Vocês vivem na matéria, mas têm afinação com a eternidade.
A vida eterna arde nas suas almas, a morte derrete e evapora, sim, se desvanece e vai além, cada vez mais alto, até que a vida tenha alcançado a altura mais alta das alturas e ela sinta Deus.
Lá, onde cresceu a criança do sacerdote.
Guarde suas vestes negras, é apenas ilusão.
Nós conhecemos a verdade de uma vida eterna, pois isto foi nos mostrado há pouco.
E não dá para mudar nada.
Agora, senti chegar uma era em qual o homem não quereria mais conhecer a morte que sua existência começou a definhar, a mudar seu ser.
Seu reinado de tristeza cairia por terra; não poderia mais existir.
O próprio homem a destronaria.
Ela já havia, por tempo suficiente, estragado a vida.
O homem saberia que não existiria uma morte e que só a vida seria realidade.
Finalmente, sofrimento e dor se transformariam em alegria e em união eterna no além.
Curiosas eram todas as provas e como era grande esta sabedoria.
Como maravilhosamente profundo, como era poderoso tudo o que se manifestara.
Uma criança, que abandonara a terra cedo, retornou, pois sabia que o seu Pai iria morrer.
Os dezassete meses e os trinta e sete anos abrangiam uma só vida.
Para o homem, na terra, havia um véu sobre essa grandiosidade, porém eu conseguia ver através dela e entendia tudo.
Graças a Deus que agora nós podemos clamar junto com aqueles que já partiram antes de nós, e que retornaram para nos dizer tal verdade.
Eles clamam bem alto: “Não há morte, somente há vida!”
Oh Deus, que tremenda verdade e enorme felicidade Tu dás aos homens.
Mas eles não aceitarão esta verdade antes que eles próprios a tenham vista.
Eles não querem nem podem aceitar e temem que imploda a sua própria edificação de ciência.
Preferem acreditar neste ser pré-animal, nesta morte, que os amedronta e traz sofrimento e dor, onde poderia reinar felicidade.
Eles dormem no seu sono espiritual profundo e manter-se-ão assim.
Eles não ouvem aquela voz suave, porém, clara; não querem ouvi-la e sua casinha de alma está e continuará fechada.
A morte tem que existir e continuar a estragar a felicidade do homem?
Não é uma alegria que podemos já receber a verdade e pela interposição deles que partiram antes de nós?
Abre a sua casa e receba a vida.
Pode ser a sua criança, irmã, irmão, pai ou mãe, que está pedindo para poder entrar.
Esta certeza não nos dá força para tudo o que Deus pediu para carregar, levar nos nossos ombros?
Não nos dá a resposta à nossa pergunta: onde estão os nossos mortos?
Eles estarão vivos?
Há quanto tempo o homem não se questionava sobre este assunto?
Agora recebemos notícias deles, dos nossos entes queridos.
Isto não prova que o amor nos une e nos deixa unidos para a eternidade?
Havia uma auréola de espiritualidade verdadeira, à volta da cabeça do sacerdote, tecida pelo seu próprio filho.
Através dele conhecemos a vida eterna.
Quando um daqueles que o amam aceitar esta mensagem e a morte se há-de dissipar, terá valido a pena o transtorno, premiando assim o retorno do seu filho.
Conheci na pessoa do sacerdote um grande espírita, sem ele próprio se chamar de espírita.
Porém, ele era espírita de coração e alma, porque ele era espírito e expirava vida.
Isto se chama espiritualismo.
É isto que o homem chama de obra do Diabo e com que ele fica assustado.
Também o espiritualismo, bem como a morte, não fora compreendido, mas ambos significavam espírito e vida.
Devido a isto tudo, o homem conheceu um espiritualismo sagrado.
Nisso dissipava toda a miséria e a morte virou “vida”, e sorria suave como o sorriso dócil duma criança.
O diabo que se escondia por trás do espiritualismo, virou num ser celestial.
A morte se diluía nele, ambos eram um só, irmãos no espírito.
Por horas e horas eu podia ficar em pensamento, parecia não ter fim, porque o fim desse evento milagroso, deste problema, estava na eternidade.
Lá estava; o problema era o homem, a própria criança de Deus.
Eu ainda não tinha recebido tudo, eu ainda era ignorante das cada vez maiores verdades e milagres, como aqueles que eu já tinha recebido.
Mas brevemente iria presenciá-los também.
Chegou o sábado de manhã, e como era habitual, visitei o paciente.
Nos seus olhos havia agora um brilho, que eu tinha observado, nas esferas de luz, nos olhos dos anjos que lá permaneciam.
Esse brilho também podia ser visto em crianças; a pureza de alma radiava desses seres pequenos.
Eu estava diante da cama do sacerdote e ele abriu os seus olhos.
Uma onda de amor me percorreu, dois olhos me sondaram, dois olhos me sentiram, dois olhos me mandaram amor e falavam em partir.
Os olhos se cerraram suavemente, muito devagar e eu soube logo; se fecharam para esta terra.
Um choque atravessou o meu corpo.
Não se abririam mais para mim?
Como você mudou, pensei, meu amigo e Pai querido.
Muito mais não iria demorar agora.
Pensei no princípio, quando a minha paciente veio ter comigo e o meu líder Alcar me deu a notícia que o final se aproximava.
Como tudo era verdade.
Como era imaculado e que poder estava escondido neste acontecimento.
Quando eles assim o desejarem, os espíritos sabiam tudo e podiam saber tudo sobre o homem.
Será que os seus lábios ainda iriam falar?
Será que estes olhos azuis carinhosos iriam me encarar mais uma vez?
Será que na verdade não iriam se abrir mais?
Os poucos passos de trás da cama, onde eu estava, até o lugar, onde eu sempre sentava, me parecia uma eternidade.
Eu pude sentir algo entrar em mim, que me dizia que ele nem falaria ou olharia mais.
Nele estava a serenidade eterna e esta serenidade passou para mim.
Ao lado dele, ainda vigiava o jovem ser celestial, o seu filho, que era tido como morto.
Eu via e sentia o ser e este havia colocado as suas lindas mãos na cabeça do seu pai.
Uma luz grande radiava no sacerdote.
Ele partiria através desta luz, que o envolvia e que estava presente dentro dele.
Ele iria acordar e viveria nas esferas de felicidade e amor.
Eu senti o silêncio dos espíritos e neste estado só podia sentir, a palavra falada só perturbaria a serenidade.
Eu rezei intensamente, para que a sua partida não durasse muito mais.
Como era sublime este leito de morte!
Na aparição estava a paciência da eternidade.
As suas mãos imaculadas irradiavam essa luz.
O sacerdote estava num sono profundo; o magnetismo curativo o embalou no sono.
Passaram-se alguns minutos, quando ouvi que devia terminar.
Foi o meu líder, que me passou esta mensagem.
Ao mesmo tempo ouvi: “Se despede dele, Jozef.”
Ele partirá então? pensei.
“ Você logo saberá, agora vá embora!”
Olhei pela última vez para ele, que foi um amigo e pai para mim.
Adeus, sacerdote virtuoso, muitos sentirão a sua falta.
Eu demorei na porta do quarto.
Será que ainda abrirá os seus olhos?
Estes lábios não diriam mais nada, não tinham mais nada a dizer?
Ele estava deitado ali como uma estátua de mármore.
Até a sua respiração parecia adormecida.
Tive que deixar para trás algo lindo, mas algo mais lindo eu receberia em troca.
Mas disso eu não tinha ainda conhecimento, tudo isso viria depois.
Ali estava deitado um homem, digno daquele nome.
Como era bonito nessa altura o homem, assim ele radiava, era o desperto cósmico.
Vê, dessa forma o homem era criança de Deus, como Deus queria ver todas as Suas crianças.
Não seria magnífico o mundo, se todos os homens fossem assim?
Agora senti um impulso, que eu deveria partir: o Alcar me mandou sair do quarto.
Depois de descer as escadas, me perguntou novamente, se iria demorar ainda muito, mas eu não sabia de nada ainda, desejei forças e fui embora.
Para presenciar isso tudo era uma graça muito grande.
Senti-lo era felicidade espiritual, poder vê-lo era maravilha maior ainda.
O sacerdote foi como uma criança, ele foi Pai, pastor de almas, e amigo de todos que precisavam da sua ajuda.
Na condição de criança ele entraria nas esferas de luz, como Pai e pastor de almas ele foi a força impulsionadora e o anjo salvador.
Nele eu reconheci o símbolo da felicidade e verdadeira humanidade.
Os raios da vida eterna alimentavam a sua consciência diária, era a vida que ele viveu.
Passaram-se assim o Domingo e a Segunda-feira, sem ouvir algo sobre ele.
Segunda-feira à noite eu iria, como de costume, tratar um paciente.
O homem entrou exatamente à hora combinada.
Porém, durante o tratamento presenciei coisas das mais milagrosas, como nunca presenciei na minha atividade de médium.
Eu senti outra também forte interferência.
Esta interferência não era como a do costume e eu estava pensando sobre o seu significado.
O homem, que eu estava tratando, não sentia nada disso; era somente destinado a mim.
Concentrei-me no meu líder e ouvi o Alcar dizer “Olhe à sua volta, Jozef, quem está aqui.”
Quem está aqui? pensei.
“Olhe quem chegou”, ouvi novamente.
“Olhe quem está ao seu lado!”
Afinei-me espiritualmente, observei e me assustei muito.
Eu estava vendo bem?
Ao meu lado estava o sacerdote.
Ele radiava!
Meu Deus pensei, o que me está a acontecer agora?
Isso é possível?
“Você já morreu?
Estou vendo direito?” perguntei.
Então ouvi uma voz suave que reconheci e cheguei a amar tanto, dizer para mim: “Você me vê Jozef?”
“Sim”, eu disse,”eu vejo você ; eu acho milagroso”.
“Você me ouve, Jozef?”
“Eu ouço, sim, ouço!
Você já morreu?”
Então o ouvi dizer claramente: “Não, ainda não.”
“Ah, mas que problema” pensei.
O espírito de sacerdote X estava na minha frente.
Era um evento raro, pois aqueles que podem se manifestar imediatamente carregam um bem interior muito grande.
Pessoas assim têm entrado na vida eterna de consciência muito forte.
“Jozef”, ele disse, “eu flutuo, flutuo!
Agora vou morrer, oh, como aqui é lindo, Jozef!
Você vai me ajudar?”
“Naturalmente ajudarei.”
Achei que ia morrer de vergonha.
Vi o sorridente, aquele sorriso especial e lindo.
Também naquela outra vida ele não perdeu o sorriso.
Como era tudo milagroso; não encontrava palavras para tanto.
Meus pensamentos se agitavam quase não pude me concentrar mais.
Agora senti que era ajudado por Alcar.
Como ele era lindo!
Ao seu lado vi um ser jovem e bonito que eu conhecia.
Mais essa, pensei, esse é seu filho, como é possível.
O sacerdote já aparentava rejuvenescido e, mesmo assim, ele ainda estava ligado a sua veste material.
Pai e filho já estavam unidos.
Este momento era inesquecível.
Ele gostaria de se mostrar a todos os seus queridos, mas isso não era possível.
Aqui, ao meu lado, estava o sacerdote com seu próprio filho.
Porém, ele deveria retornar mais uma vez, mas não demoraria muito para ele estar livre dos seus laços terrenos e poder ir aonde ele quisesse.
Um homem morrendo saiu do seu corpo.
Não era milagroso?
“Alcar”, ouvi ele dizer, “Alcar está aqui; eu vi.
É lindo, Jozef.”
Ainda ele estava ao meu lado, vivia mais do que nunca.
Milagre assim eu ainda não presenciei.
Muitos eu vi passar para o Além, mas nenhum deles possuía o bem que ele evidenciava ter.
Descanso eterno radiava dele.
Senti bater intensamente o meu coração.
Em nada ele mudou, só rejuvenesceu.
O sacerdote olhou para mim, e disse: “Os livros, Jozef, tudo é verdade!
Lindo!”
Isso foi demais para mim; não tinha pensado nisso ainda.
Que se pode voltar do Além para contar isso!
“Ainda não posso falar muito”, o sacerdote continuou, “Tudo o que contém os seus livros é verdadeiro, Jozef”.
Lágrimas grandes de felicidade corriam pelo seu rosto, era felicidade dele poder me participar tudo.
“Agora devo ir”, ouvi-o dizer ainda, “mas voltarei.”
A aparição do sacerdote X e do seu filho desvaneceu e eu sabia aonde eles iam.
Regressava à sua veste material para viver as suas últimas horas na Terra.
Como agradeci a Deus por eu poder contemplar algo tão lindo e sublime.
Como nós todos devemos agradecer a Deus pelas provas da continuação da vida que nos são presenteadas.
Através Dele, recebi provas, nas quais eu nunca teria pensado, e isso tudo servia para convencer a humanidade de uma vida após a morte.
Tudo isso aconteceu durante o tratamento do meu paciente e ele nada ouviu, nem sentiu nem viu.
Tudo aconteceu sem o seu conhecimento, porque ele não estava “ligado”.
Será que ele poderia acreditar em mim, pensei, e se fosse contar a ele o que presenciei há pouco?
O homem iria refletir e refletir novamente sobre o assunto, para acabar por não dizer nada, porque ele não conseguiria resolver este enigma.
Tudo isso para ele era profundo demais.
Estive em contato com três seres, eu tratei uma pessoa, tirei-lhe as dores com que ele veio, e conversei com os seres em espírito, dos quais um se encontrava no leito de morte.
Que milagre o poder da natureza!
Porém era tudo bem simples, quando se conhecia estes poderes, e os podia ver, ouvir e sentir, desde que se estava disposto a aceitar.
Quando se tem a visão para ver, o ouvido para ouvir, para poder captar as suas vozes nítidas, mas suaves, então todos os problemas deixarão de serem problemas e o milagre deixará de ser milagre, mas eram as forças humanas do espírito, então era o amor que o ser possuía.
Para mim, foi o problema que se dissipou, e era um acontecimento natural.
Mas quem não consegue ver ou sentir, desata a rir de tudo.
Quem não tem essa sintonia, ri, mas ri da sua própria ignorância.
Homens na terra, isso não lhes diz nada?
Não os deixará feliz?
Vocês assumem que vivem eternamente?
Que prosseguimos mais e mais e seguiremos a nossa caminhada, que vocês evoluirão dum planeta para o outro?
Vocês sentem que a vida na terra já é a eternidade?
Que há a vida eterna dentro de nós?
Essas provas não mostram que aqueles que morreram na terra vivem em outra situação?
Depende de nós se eles nos podem dar essas provas.
Nós devemos nos abrir: abrir as portas das nossas moradias de alma.
Então nós receberemos; receberemos muito, muita coisa bela.
Os nossos entes queridos retornarão para nos amparar nas nossas últimas horas.
Eles nos darão provas que eles estão à nossa espera.
Não se ri duma ciência que você nem conhece, ou sente dentro de você.
Não se ri de nenhuma outra religião nem maldiz de nenhuma outra pessoa, pois você diz mal da sua própria vocação eterna.
Viva uma vida no espírito e os tesouros do espírito ser-lhe-ão lançados.
Então não serão abertos os portões do Inferno para você, pois as esferas de luz o aguardarão.
Mas o homem se maldiz, se só pensa em sua vida material e deixa morrer o seu interior, o corpo eterno, de fome espiritual.
Um declínio espiritual é uma entrada, vestido de trapos, na terra da paz eterna.
Milhares de anos já se passaram e o homem ainda se ri desses milagres.
Ele ainda zomba desses milagres e os cientistas se sentem “instruídos”.
Você ouve os espíritos bateram à sua porta?
Eles batem à sua moradia, mas você não quer deixá-los entrar e, mesmo assim, pedem para você abrir sua porta.
Um bate suave e o outro bate muito forte.
Todos batem, mas o homem mantém a porta da sua moradia espiritual fechada.
Ninguém é deixado entrar.
Ah, homem, não tenha medo, eles não estragam nada, eles vêm com nada mais do que amor, eles entram de mansinho, trazendo sabedoria espiritual.
Eles trazem luz, muita, muita luz e lembranças dos seus queridos que se foram antes de você.
Mas os homens dizem: “Não quero saber de tudo isso.”
As portas são barricadas e não querem falar sobre isso.
Aquelas batidas incomodam, eles vivem nos tempos modernos e não precisam daquele amor, porque eles têm o seu amor próprio.
Mas qual?
O amor próprio!
Então, fecha-se a porta e some o espírito.
E os poucos que abriram, logo esqueceram, ou estão decepcionados, porque o amor que o espírito lhes traz, vai além da sua compreensão.
Eles não pretendem aquela vida: não podem entender esse amor, porque têm que se sacrificar muito e para isso precisam de muita luta.
Para o amor espiritual, é necessário se anular a si próprio, desfazer-se da própria personalidade.
Mas os homens ficam surdos e endurecidos; não querem sentir aquele amor e ouvir aquele bater.
Não há como convencê-los.
Eles consideram os espíritos como “estranhos” e não querem saber disso.
Mas quando querem ver bem e nitidamente, então estará lá para eles, a sua Mãe ou Pai, irmã ou irmão.
São eles que retornam, de coração repleto de amor, para aquecê-los também, mas um morto assim eles não querem conhecer.
Mesmo assim, eles retornarão, vezes sem conta, até que as portas fiquem abertas para a eternidade.
Só então o espírito sossegará e todos estarão unidos.
Nessa altura a igreja e o espiritualismo serão um só, e a morte se torna “vida”.
Não estarão cheios de amor aqueles que retornam a nós?
Isto tudo não valerá o esforço de refletir sobre isso?
Aqui está a criança que batia, e Graças a Deus, fora ouvida.
Tudo isso se deve deixar atuar sobre nós.
Ligue os seus sensores espirituais e toque naquela vida invisível há milhares, que o ajudarão.
Através do sentir poderá ver, e o ver é o mesmo que saber.
Só então o coração humano se quebra e o homem curvará a sua cabeça.
Muitos voltam a tempo, mas outros chegam tarde demais.
Na escuridão da vida deles, seria como se fosse um alimento, que lhes traz a luz.
Como tudo isso é verdade, pensei tão verdade, quanto o homem tem coração e sabe que é gente.
Mas o homem, vivendo verdadeiramente como homem, não se conhece; não é horroroso?
O verdadeiro homem vivo deve contar àquele que se isola que ele é um morto vivo.
Esta profundeza da alma o homem não pode sondar.
Ele não pode aceitar a vida invisível e, mesmo assim, vive nele, sim, ele mesmo é esse grande problema.
Mesmo assim, ele maldiz a tudo que não entende e prossegue maldizendo, portanto também a si próprio.
Quando os espíritos, que conheceram aquela vida eterna, retornam a nós, devemos então fechar os nossos olhos para isso?
Será que podemos clamar a eles “Evita a nossa porta”?
Não podemos fazê-los entrar por um momento?
Eles nos levarão às regiões desconhecidas e nos mostrarão paisagens lindas, desconhecidas, em raios brilhantes.
Eles falarão de uma natureza magnífica e beleza e nos guiarão sobre mares entre rochedos perigosos e saberão contornar tempestades.
Quando o meu paciente partiu, Alcar se dirigiu a mim e disse que eu devia tomar nota das provas recebidas.
Eu contei a um amigo meu e à minha esposa o que presenciei e eu lhes contei que o sacerdote iria falecer naquela noite.
Na manhã seguinte, quando me vesti, vi o sacerdote.
Eu caminhei para a sala de estar e senti que estava a ficar sob influência.
Quando entrei na sala, vi perto da imagem de Cristo o espírito do sacerdote X.
Eu me assustei e fiquei paralisado.
Numa veste deslumbrante ele estava diante de mim e me olhou com aquele sorriso magnífico no seu rosto.
Eu me sentei no divã e senti que estava a ser ligado a ele.
Lá estava o meu amigo, ele faleceu na terra.
Ele se tinha despedido da vida terrena.
Agora ele era um espírito para a eternidade.
“Agora eu faleci”, ouvi-o dizer, “esta noite.
Ah, é tão lindo aqui!”.
Eu chorei, atingido profundamente por tanto esplendor e santidade e concordei, mas não pude dizer uma palavra, para mim era demais.
“Eu faleci e vivo”, ele disse de novo.
“Eu flutuo Jozef!
Jozef, eu flutuei até aqui”, ele repetiu.
“Ninguém sabe só você.
Ainda não posso falar muito.”
Falou pausadamente, palavra por palavra.
Eu vi que ergueu os olhos.
O sacerdote contemplou o cosmo infinito, lá iria ao encontro do descanso eterno, à sua posse na vida após a morte.
Ele já se distanciara longe da Terra.
A luz que irradiava era o amor que ele tinha dentro dele.
Ao encontro do amor, luz e felicidade!
“Para onde você vai agora?” perguntei após um instante.
“Agora vou ter um sono aprazível”, respondeu, “estou cansado”.
Agora vi, que o meu líder dirigiu a palavra a ele, o sacerdote olhava para ele, e partiu.
“Adeus, meu Jozef”, ouviu-o dizer ainda, “eu volto”, e diante dos meus olhos desvaneceu.
Tudo isso era indescritivelmente lindo.
Na mesma noite, todos os jornais estavam repletos de notícias sobre a sua ida.
Todos que o conheceram, o glorificaram pelo seu nobre sentimento humano.
Um sacerdote grandioso, pai e amigo, se foram; não havia como substituí-lo.
Ele sentiu a sua morte com antecedência; eu nunca presenciei um leito de morte assim.
Tão cedo eu não ia passar por algo assim.
Passaram catorze dias.
Numa tarde, quando eu estava calmamente no meu quarto, de repente, vi o sacerdote.
Alcar me chamou à atenção e me ligou a ele.
Ele se aproximou de mim, sorridente.
“Agora tudo passou”, ele disse, “eu acordei, eternamente acordado”.
Ele me abraçou e ficou em silêncio.
Absorvido em pensamentos profundos estava ele, e senti em que estava pensando.
Um filme da vida passou agora por mim.
Então eu vi chegar o momento do nosso contato e nisto havia passagens lindas, lindas demais para alguma vez poder esquecer.
De seguida vi o seu falecimento e a entrada dele no mundo espiritual.
Tudo era grandioso, poderoso e profundo.
Ele estava ao meu lado como um sábio.
Na sua vida tinha adquirido a sabedoria e agora fazia parte dele.
Ele me mostrou muitas situações no espírito onde ele já estivera.
Desligado da Terra, ele vivia na terceira esfera.
Mais uma esfera e ele entraria no País de Verão.
Depois, ele me mostrou outra imagem.
Era a imagem dela, que o levou até mim.
“Agradeça a ela e mande lembranças a todos os outros.
Eu vivo e sou feliz.
Até à vista, Jozef, eu voltarei”.
Chegou a hora em que eu iria relatar tudo isso.
Quando recebi o recado de Alcar, vi junto com o meu líder, o sacerdote.
Ele alegrou-se em poder retornar a mim e poder assistir a tudo aquilo no além.
Ele sentou ao lado da minha escrivaninha e depois de estar sentado, ele partiu de novo.
Ele ainda não tinha muito para contar.
“Mais tarde”, ele disse, “Eu preciso primeiro que muita coisa se torne parte de mim, primeiro preciso ver tudo!”.
Uma descrição da esfera dele ele não podia dar.
Ele não era homem de muitas palavras e precisava conhecer a existência espiritual ainda.
Eu conhecia, porém, a terceira esfera, eu estive lá com o meu líder e também eu conhecia a felicidade que eles os que vivem lá, possuem.
Todos são espíritos da luz, e têm amor, amor puro.
O que devo acrescentar aqui ainda?
As provas falam por si.
A todos os amigos e parentes clamo deste lugar: “Seu sacerdote querido está vivo e está feliz.
Vocês tornarão a ver o sacerdote, porque ele não há de esquecer-se de vocês.
Se isto convencer só um de vocês, ele e o seu filho já estarão contentes.
Ele aguarda por vocês e agradece pelo vosso amor.”
Transmiti isso tudo na pura verdade, tal e qual como eu presenciei.
 
Quem se chama de mestre na terra
É o aluno no Além.
Alcar