Me tornei artesão

A Marianne estava apertada no meu peito como uma criancinha.
Eu a apoiava e era como se ela estivesse dormindo.
Desta maneira andei por horas.
Quem me tivesse encontrado ter-me-ia considerado um louco.
Uma pessoa de quem eu gostava estava nos meus braços.
Mesmo assim, era apenas um pedacinho de terra, mas nessa terra havia vários sentimentos que me eram queridos.
Isto era amor humano?
Seriam pensamentos humanos puros?
Ou também estes seriam falsos, ordinários e maus ou de imaginação?
Era apenas porque eu não tinha ninguém a quem me agarrar, eu procurava apoio dela?
Eu merecia poder possuir este sentimento?
Em todo o caso este sentimento eu aceitava e eu ficava feliz por isso.
Subindo a escada para entrar no meu quarto eu a enfaixei num pano de seda e a guardei.
“Durma bem, Marianne, saiba que eu amo você!
Não me esquecerei da nossa juventude, sempre pensarei em você, provavelmente isso me dará apoio.”
Depois peguei o necessário e cambaleei para fora.
A minha viatura já estava pronta, rapidamente fugi como se o diabo estivesse nos meus calcanhares.
Andei a noite toda, até meio dia do outro dia, quando tinha que trocar de cavalos.
Novamente prossegui.
Eu queria deixar este país o mais rápido possível, antes eu não poderia estar tranquilo.
Eu tinha medo de perder a minha vida, eu queria viver, porque ainda era jovem demais para morrer.
Ainda não tinha alcançado a idade adulta, mesmo assim pensei sobre tudo; quão jovem que eu era, vivenciava as coisas mais audaciosas.
Em criança já pensava igual aos adultos.
De onde vinha aquele desenvolvimento forte?
Dos meus pais?
Eu tinha herdado isso?
Por que eu era tão diferente deles?
Deus criava homens diferentes?
Um não era igual ao outro?
Ele sabia o que Ele tinha criado?
Mas por que todas essas contradições de caráter?
Por que um embatia no outro?
Por que alguns aceitavam a sua posse e para mim era uma maldição e eu desprezava tudo?
Por que e para que servia isso?
Tinha algum significado?
Deus plantava duelos entre as pessoas?
Ele, conhecedor de Tudo?
Achei que o Homem possuía mais do animal do que de alguém com dotes intelectuais.
A natureza ao meu redor estava linda.
Era tão perfeita que não se podia duvidar disso.
Só o Homem não prestava.
Eu ia para um país estranho e eu estava sozinho neste mundo amaldiçoado.
As grandes cidades me atraíam, aí, aonde havia vida.
Eu queria ver a vida e viver e me enriquecer pela vida.
Aquilo que estava por trás de mim tinha morrido.
Tudo estava morto, só a Marianne vivia ainda em mim.
Aquela noite, descansei um pouco e segui no dia seguinte.
Já eu estava fora de casa há uma semana e seguia sempre em frente.
Todos os pensamentos sobre aquilo me turvavam.
Estava sentindo entrar em mim novas forças, totalmente diferentes.
Finalmente cheguei ao Sul onde eu permaneci.
Troquei a minha papelada por dinheiro, tinha que me dar sustento por alguns meses.
Rapidamente me tinha posto sob a direção de um grande mestre em arte que me deu os primeiros ensinamentos.
Eu era um aluno grato.
O meu amor pela arte crescia e entendia o que meu mestre falava, para que eu fizesse progressos rápidos.
O meu coração jubilava de alegria, tudo corria como eu desejava.
Ele estava muito contente comigo.
Quase todos os dias e noites eu aprendia, absorvia tudo o que tinha a ver com a arte e isto se tornava parte de mim.
As aulas mais difíceis eram brincadeira de criança para mim.
A minha alma absorvia, eu era artesão de corpo e alma.
Como me sentia feliz.
Assim se passaram anos despreocupados.
Eu permaneci aqui mais de três anos.
Não soube mais nada dos meus pais.
Eu vivia na vastidão do mundo, eu podia ir onde bem quisesse, porque eu era o meu senhor e mestre.
Dentro de mim já mudou muita coisa.
O meu caráter se desdobrava, nesse havia muitas características, mas a maior e mais linda que eu mesmo senti que eu possuía era o meu grande entusiasmo pela minha bela arte.
Este sentimento crescia por cima de mim; nela me perdia e isso me instigava a fazer grandes coisas.
O meu mestre me profetizou um futuro brilhante.
Na minha arte havia um estilo próprio que não era entendido.
De onde vinham aqueles sentimentos em mim, era um enigma para mim.
Se eu continuasse desta maneira eu deveria mudar de mestre.
Ele me aconselhou um dos seus amigos que alcançou um alto grau de perfeição e onde poderia terminar os meus estudos.
Depois de um ano decidi partir.
Para mim ele foi um pai e eu gostava dele com coração e alma e chorou quando tive que ir embora.
“Tem que ser, meu Lantos”, assim ele disse, tem que ser, de mim já não pode aprender mais nada.
Você precisa desenvolver ao máximo o seu dom e para isso precisa de outros mestres.”
Por ser necessário eu parti.
Agora eu me pude movimentar mais livremente, mas eu aspirava um objetivo, um ponto, que era alcançar o máximo.
Aquele dom existia dentro de mim; eu era, como disse o meu mestre, um artista nato.
Graças a Deus, pensei, portanto não nasci para ser soberano.
Do passado eu não pensei nem por um segundo, somente quando ele falara estas palavras.
Estabeleci-me numa cidade onde a arte florescia e aceitei uma religião, porque era necessário.
Não lhe descrevo a vida daquele tempo, apenas o que se considera necessário.
Sigo o meu caminho interior e além disso lhe contarei quem encontrei no meu caminho e o que vivenciei.
Alguma coisa continuou igual naqueles séculos todos, pelo menos mudou pouco, mas mesmo muito pouco.
É a vida interior do homem que ainda não consegue negar a sua descendência animalesca.
O homem não mudou em nada; ao contrário, é como se ele estivesse indo de morro abaixo, mas na verdade isso não é bem o caso.
São apenas situações temporárias.
É cair e levantar.
Se você sonda e sente uma única pessoa, assim sonda e sente um povo inteiro, poderá sentir continentes.
O que o Homem individualmente vivencia, vivencia um povo.
Se ele cair, cai um povo, caem continentes.
Isso está registrado na psicologia cósmica; são leis, é o ciclo da alma.
Aquela alma segue o seu caminho para alcançar as esferas divinas.
A Terra tem milhões de anos, assim também o Homem e, mesmo assim, aquele ser intelectual mal cresceu acima do animal.
Na Terra ainda se vêem a presença de seres pré-animalescos em vultos humanos.
Esteja atento.
Sai do caminho deles, porque não são alcançáveis por centenas de anos.
Comecei a trabalhar com coragem renovada.
Admiravam a minha atividade e fiz muitos amigos.
A minha personalidade se transformou e o meu nome obteve uma reputação especial.
Viam em mim um futuro mestre.
Anos se passaram.
Aprendi muito e estava contente comigo mesmo.
Agora entendia totalmente o meu sentimento dos meus anos da infância.
Para mim só sobrou o enigma de quem eu recebi este dom.
Muitos me perguntaram se eu tinha herdado este dom dos meus antepassados.
Eu podia responder, porém eu omiti a minha verdadeira descendência.
Pensei muito sobre isso, porque eu não entendia, como já disse, de quem vinha aquelas minhas forças.
De Deus?
De um poder mais elevado?
Não me era evidente.
Continuei procurando e questionando e aquele problema cresceu muito com força.
Eu era um analítico nato, eu queria saber de onde vim, para que servia tudo.
Eu queria conhecer todos aqueles problemas da vida.
Não conseguia assimilar a dureza da humanidade.
Os meus sentimentos amadureceram à medida que eu envelheci e desci na vida para entender melhor aquela verdade.
Eu sempre estava em pensamentos e já me chamavam de sonhador.
Com isso me senti muito lisonjeado e estava orgulhoso de me verem assim.
Sentia-me mais velho que a idade que eu tinha alcançado.
Com isso atraía os irmãos mais velhos de arte e eles me convidavam para se aproximar deles.
Começaram a falar de mim.
Eu queria terminar os meus estudos com uma grande obra de arte.
Para isso escolhi uma mãe com criança e as interpretei na perfeição.
Nisso coloquei aquele sentimento com o qual eu quis que a minha mãe me amasse.
A estátua vivia e tornou-se um grande sucesso.
Depositei todo o meu amor, minha alegria pura de alma, como eu me sentia e possuía em criança.
A obra foi coroada.
O sorriso na face materna fazia degelar até os corações mais frios.
A criança, com ambas as mãos elevadas, olhava a sua mãe e almejava pelo seu amor.
Este sentimento grande e santo havia em ambos os seres.
Duas almas estavam unidas, um sentir, um pensar, um amor.
Assim senti o amor materno em criança, porém, esse não me foi dado, então afundara para não subir mais por ela, minha mãe.
Em torno e dentro do meu produto havia esta grande força.
A luta na minha juventude que ficou para trás, amadureceu e fez crescer em mim o sentimento pela arte.
Eu ia ao encontro da minha felicidade com passos largos.
O meu interesse se focava só pelo corpo humano e a sua beleza.
Profundezas eu sabia vencer, e por isso fiz muitos amigos, mas também muitos inimigos.
Um invejava a felicidade do outro, matavam pela honra e fama.
Uma vida humana não tinha valor, matavam por uma futilidade.
Tudo isso me chocava e sofria com isso, porém, este sofrimento durou pouco.
Senti que eu vivia sério demais e por isso me atirei no turbilhão da vida efervescente.
Os anos que se seguiram foram numa euforia de fama e honra.
Estava na hora de eu andar com as minhas próprias pernas, algo desconhecido me instigou a fazer isso.
Eu me soltei, me organizei e contratei um servo que me foi aconselhado por um dos meus melhores amigos.
Mas eu não confiava no homem que fazia tudo por mim.
Havia algo me perturbando.
Procurei mas não encontrei.
Não consegui sondar o seu caráter.
Mais uma vez perguntei ao meu melhor amigo, de nome Roni se pudesse confiá-lo em tudo.
“Como chegou a isso, meu bom Lantos”, ele disse, “não sou o seu amigo?”
Já me arrependi que desconfiava dele, mas não consegui me desfazer do sentimento, porém o repreendi fortemente e não queria mais pensar sobre isso.
Combinei com o meu servo que nenhum ser pudesse entrar no meu atelier sem o meu conhecimento.
De ninguém eu queria que ficasse a saber em que eu estava trabalhando.
Cada vez eu aparecia com produtos novos com que eu surpreendia o mundo e esmagava os meus irmãos artistas.
Eu alcançaria também os grandes que ainda estavam bem acima de mim.
Logo eu seria um mestre.
Eu me orientava nessa direção, a minha arte me levava a isto.
Não me livrava de ódio e inveja.
Num dos meus encontros me fizerem sentir isso com clareza.
O meu melhor amigo fazia parte deles o que me causou muito sofrimento.
Ele tentou esconder isso atrás do seu rosto lindo, mas eu não deixei de sentir.
Quando tentei sondar o seu caráter, não me foi possível.
A sua aparência era de um Adônis.
Eu gastava horas com ele, mas não consegui conhecer o seu interior verdadeiro.
Ele era encantador e o meu melhor amigo num momento mas de repente mudava e eu conheci o outro lado dele que me era muito desagradável.
Tentei-me livrar dele, mas também não foi possível.
Era como se um poder invisível nos mantinha ligado.
Achei tê-lo encontrado antes, mas não me consegui lembrar.
Mesmo assim, sua aparência não me deixava em paz.
Eu pensava nele a toda a hora, mas para mim ele continuava impenetrável.
Os meus sentimentos correspondiam aos que eu sentia em criança e que me instigavam de me livrar da minha família.
Aquela força tinha vencido, eu fui embora e me tornei o que quis.
Seriam forças invisíveis?
Estava eu sob influência e eu agia segundo ela sem eu querer, nem saber?
Agora sentia mais apurado e mais conscientemente essas forças da minha juventude; era como se eu despertasse.
Afastei-me para pensar sobre este problema e fazia longas caminhadas como antigamente.
Na natureza muita coisa me ficou clara.
Eu senti que ambas as forças eram um: uma vontade, um sentimento direcionava tudo isso.
Era Deus?
Uma força Toda-poderosa que criou o céu e a Terra, Homem e animal?
Que direcionava e liderava tudo?
Isto era liderança, ou eu era auto-sugestão?
O que era?
Para o meu amigo eu sentia amizade verdadeira e, mesmo assim, eu tinha que reconhecer honestamente, o odiava.
Mas a que propósito, para que odiá-lo?
Ele me fez mal nalguma coisa?
Ele era invejoso, não me permitia o lugar, o grau elevado que eu tinha alcançado.
Isso era humano, muito normal e não devia me perturbar com isso.
Mesmo assim ele não me deixava em paz, e por mais que eu pensasse e analisasse todas as suas características, não conseguia entender.
Os meus sentimentos se diferenciavam dos dele e mesmo assim éramos até bons amigos.
As suas ações eram espontâneas, porém não sensíveis, muito desvantajosas pela sua arte.
A sua espontaneidade e ambição esmagavam as vibrações mais profundas da sua alma, a força para poder sentir seus produtos.
Ele era rápido demais em tudo, sem pensar.
Ele não sentia o silêncio da vida.
Não estava consciente dele, ele agia no momento e se dava totalmente sem pensar.
No seu oceano de vida fazia tempestade dia e noite, era atirado para a esquerda e para a direita e se satisfazia vivenciando a vida como ela vinha.
Deixei-me conduzir por ele por um bom tempo e juntos vagueamos pela vida efervescente.
Mas aos poucos procurei por um porto seguro.
Esta vida era cansativa demais para mim, eu almejava por tranquilidade, pelo silêncio, para me poder encontrar.
Pensei e repensei sobre tudo em que eu fiquei ligado.
Eu era um sonhador e pensador, como me chamavam.
Mas ele não alcançaria a minha altura ou teria que adquirir estas características; só então a sua arte viveria.
Eu tinha e sentia apenas um objetivo, ele possuía muitos.
Na arte da pintura, como naquela época a exerciam, ele tinha alcançado um nível, porém na arte plástica ele não me podia igualar.
Agora eu possuía fama e honra, toda a posse terrena estava aos meus pés.
Mesmo assim, às vezes me assaltava um humor triste e não me sentia satisfeito.
Mas quando eu sentia isso, via crescer a minha arte e ela se tornava com vida.
Então e eu via de maneira diferente homens e animais e podia alcançá-los com mais facilidade.
Eu amava, mas não conheci o verdadeiro amor.
O amor que me ofereciam não me dava nada.
Era conseguido facilmente, aquele amor era transparente demais.
Quando se abriam o coração era totalmente tomado.
Pela ansiedade da alma a toda hora se deixavam seduzir.
Mas aprendi como me proteger, não queria ser brinquedo destes sentimentos e isso me levou a pensar.
Conheci e entendi a sua natureza.
Mesmo assim procurei pelo verdadeiro amor, mas não o encontrei.
Estaria na Terra aquele amor?
Não haveria num outro ser um amor assim?
Não haveria neles a força que torna feliz a vida na Terra?
Não saberiam o que significava o amor e não dariam conta de precisarem respeitar o sentimento do outro?
Não entenderiam nada da verdadeira e real felicidade como o Todo Poderoso entendia?
Mesmo assim, como artista eu gostava de um ser assim.
Os seus olhos que riam, suplicavam e afagavam, me eram queridos.
Todo o seu corpo era para mim um templo de beleza, magnífico e de felicidade.
Eu poderia dar a minha vida por este ser, mas ele me devia amar de verdade.
Na minha juventude mais tenra eu já possuía estes sentimentos, mas agora eram conscientes e desenvolvidos.
Esta felicidade imensa e poderosa eu desejava possuir.
Como a minha alma desejava entender, como eu almejava por aquele único ser, aquele amor e lindo que me levaria ao pináculo e espiritualizasse a minha arte.
As que encontrei até agora não possuíam nada daquelas forças de sentimento elevadas.
Possuíam mais nada que desejos animalescos, egoísmo humano bruto e paixão, o que me fazia enjoar.
Aquele som rítmico, que deveria levar à consciência aquelas forças mais profundas de alma, simplesmente não estava nelas.
Elas se desenfreavam, vagueavam de um ao outro.
O Criador de todo este poder se tinha enganado?
Ele conhecia a Sua própria criação?
Por que Ele criava espécies e tantos sentimentos incompreensíveis?
Por que Ele dava a este ser aquela força desconhecida?
Porque não tinha unido o feminino com o masculino, não lhes dando uma afinação igual, de maneira que se entendiam e sentiam um amor e viviam segundo a Sua vontade?
Este não tinha sido o propósito de Deus?
Também disso falava a Santa Escritura e também os eclesiásticos.
Não, eu não consegui descobrir, não conseguia abranger este problema misterioso.
Mesmo assim, isso me ocupava e perguntava por quê e para quê?
Onde é que eu encontraria este ser invejável, dotado com beleza radiante e com aquela força que faz feliz de maneira que a vida se torna um paraíso?
Onde estaria ela?
A minha alma clamava por este ser; eu ansiava em podê-lo admirar.
Por um sorriso, um beijo de mão eu daria a minha vida.
Isso eu sentia, aquelas forças chegavam a mim em consciência.
Neste humor triste e suplicante eu almejava pelo ser que sentia como eu, por um ouvido que podia ouvir e um rosto que expressava todos aqueles sentimentos.
Eu procurava e sondava centenas destes seres, mas não encontrava o que eu queria possuir.
Não estava na Terra: Deus deve se ter enganado.
O Homem não era perfeito; eu não via nem sentia amor como Ele possuía e deveríamos ter dentro de nós.
Na minha infância O amei, eu tinha o meu próprio Deus Ele esteve bem perto de mim; neste momento Ele estava tão longe e inalcançável.
Eu gostaria de fazer Lhe perguntas, milhares aos quais Ele, o Todo poderoso me poderia responder.
Nos meus anos de infância o meu Deus se desfez; agora eu desfiava até que não sobrara mais nada da Sua Criação.
Também estes sentimentos vinham da mesma fonte secular.
Porém naquela altura eu era inconsciente e desejava possuir Deus; agora mais idoso, conhecendo a vida e o sentir do Homem eu queria desvendar aquele poder.
O meu corpo tinha crescido, o meu espírito se desenvolveu e mesmo assim não me mudei em nada.
O que eu sentia em criança eu possuía também agora e vice versa.
Eu era só mais consciente, mas na maior profundidade da minha alma eu adormeci, porque isso tudo eu não entendia.
Porém, num ponto eu era despertado e muito consciente; era o amor.
Aquele amor eu queria possuir e me aquecer, só então eu estaria no ponto de alcançar o grau mais alto.
Nele via a mais alta inspiração, aquele ser me empurraria às possibilidades sem fronteiras.
Do passado surgiu-me um pensamento curioso, algo amoroso que um dia eu possuía.
A minha Marianne!
Em todos aqueles anos não pensei nela por um segundo.
Ela ainda vivia?
Ela possuiria todas aquelas características?
Como num espaço isolado aquele pensamento estava escondido dentro de mim.
A Marianne pertencia ao passado, era a única coisa que eu amava desse tempo.
Eu também teria apagado ela da minha memória se a nossa juventude não tivesse sido tão bonita.
Eu gostava dela, amava-a, ela tinha sido a minha vida e o meu sol e continuaria a ser até a minha morte.
Ah, se eu pudesse vê-la nesta vida, ela possuiria o meu coração e os meus sentimentos mais profundos da alma.
Ela me entendia, me sentia; não éramos estranhos um para o outro, poderiamos ser considerados irmãos no verdadeiro significado da palavra.
Isto me estava claro, eu sentia, os meus sentimentos por ela não mudaram em nada.
Estranho que não me lembrei dela antes.
Mas a minha vida tinha sida preenchida, o meu trabalho me tomou tempo demais.
Marianne, onde está você?
Quando eu tivesse alcançado o meu grau máximo eu visitá-la-ia.
Eu queria vê-la mais uma vez antes de morrer.
Ela me tinha consolado e mimado sem saber.
Decidi encontrá-la se ainda estivesse viva.
Corri rapidamente para casa.
Esta caminhada me devolveu as minhas lembranças da juventude, na vida quotidiana não teriam surgido dentro de mim.
Logo cheguei em casa e peguei a sua estatueta.
Desembrulhei as faixas dela e estava curioso se ela ainda estava viva.
Com muito cuidado completei este trabalho e sim, ela não estava danificada, ao contrário, tornou-se mais sólida e mais radiante.
Neste momento pensei ver nela uma donzela.
Marianna, você está viva?
Diga-me, onde está você?
Venha comigo, deixe-nos sermos amigos ou amantes.
Ainda está livre?
Então, venha, menininha querida, cante para mim, a sua voz me inspira e dê-me aquele amor suave, mas puro que é o mais supremo.
O pano de seda em que a estátua se encontrava deitada, estava totalmente descolorido, mas a terra, essa com “quê” mantinha a sua força?
Enfiei nela as minhas unhas, mas a matéria estava dura como mármore.
Era curioso.
Sentei-me e falei algum tempo com ela.
“É você a minha criança querida?
Venha comigo, Marianne, nenhum cabelo da sua cabeça será lesado.
Minha felicidade de juventude está contente nesta vida?
Ria uma vez, fique alegre, me deixe ouvir a sua voz e venha.”
A estatueta começou a movimentar-se?
Pensei, mas logo rejeitei estes sentimentos; eu não queria me tornar um sentimental.
Coloquei a num pedestal e olhei um bom tempo para ela.
Dentro de mim amadurecia-se um plano.
Fiquei preocupado que mesmo assim um dia se desintegrasse e assim teria perdido tudo aquilo que me restava daquele tempo.
Eu faria da estatueta uma Marianne de tamanho natural como agora eu a sentia, via e amava.
Mas como nitidamente tinha a representado nos meus anos de juventude!
Como calculei tudo exato.
De quem eu tinha este dom?
De onde recebi este sentimento artístico?
Eu nasci com isso!
Mas nesta vida tudo tinha que adquirir, sempre aprendendo, para, um dia, entender e possuir.
Este enigma continua insolucionável?
A estatueta possuía uma sensibilidade, pela qual neste momento eu deveria me esforçar se eu quisesse igualá-la.
De onde vinha este sentir aguçado na arte?
Eu tentaria desvendar isso, mas primeiro eu tinha que criar esta obra de arte com a qual eu obteria fama e ainda mais honra.
Durante horas eu estava mergulhado em pensamentos profundos.
Deixei-me ir e imaginei a sua personalidade e a sentia como nunca.
Como ela seria linda e amorosa agora se o meu sentir se revelasse estar certo.
Mas ao mesmo tempo descobri nela traços levianos, o que me fez sofrer.
Mas o seu rosto radiava uma sinceridade como ainda não tinha visto.
Também amor, e este falava mais alto.
Ah, se eu pudesse chamá-la minha a envolveria com o meu amor.
Surgiam muitos pensamentos em mim e depois sumiam de novo.
Diante de mim havia um grande pedaço de mármore, logo poderia começar a obra, tudo estava preparado.
Senti-me chegar à disposição adequada para realizar algo lindo.
O meu coração batia mais forte que o normal, mas na minha alma havia um sossego devoto, o que me fez admirar porque na realidade eu não era assim tão devoto.
Eu não rezava nunca, eu não seria capaz.
Todavia eu aprendi algumas orações, mas já as esqueci.
Não senti nenhuma vontade para rezar, porque toda a hora eu me rebelava contra Deus.
Juntei todas as minhas coisas necessárias e comecei a trabalhar.
Num ritmo rápido, tendo pleno conhecimento em mim de todo o ser de Marianne, trabalhei o mármore branco.
A cada batida crescia a minha amizade e amor por ela.
Não sei quanto tempo trabalhei, mas uma batida tremenda me despertou.
Trabalhei como se eu tivesse num sonho, porque me envolvia de corpo e alma neste trabalho.
O que aconteceu?
Uma estatueta velha caiu do seu pedestal.
Pedaços estavam espalhados à minha volta.
Era um sinal, ou era coincidência?
Juntei os cacos para que eu pudesse continuar a trabalhar.
Que pena esta interrupção, estava tão mergulhado no meu trabalho.
Foi amedrontador; um calafrio passou por mim.
A minha inspiração se rompeu e precisei esperar um tempo até poder voltar naquela situação invejável.
Sentia-me intensamente feliz, porque eu estava ligado ao tempo mais lindo da minha vida.
Depois de algumas horas de trabalho árduo me senti cansado e tentei dormir um pouco.
Na parte da manhã acordei e novamente comecei a trabalhar o que aguentei até depois de meio dia.
Por que aquela pressa?
Havia em mim uma força impulsionadora para terminar esta estátua o mais depressa possível.
Fui instigado a grande pressa como antes disso nunca tinha vivenciado e senti-me numa disposição peculiar.
Havia uma força desconhecida que me inspirava, mais forte que nunca.
Depois de me alimentar, dei uma longa caminhada.
A natureza me daria forças novas e fortificaria o meu espírito.
Depois da caminhada encontrei o Roni.
“Meu bom Lantos”, assim ele disse, “onde esteve tanto tempo?
Não lhe encontro faz tempo.
Está fazendo uma obra nova?”
O seu rosto radiava e ele estava muito bem humorado e aberto; pelo menos julguei sentir.
“Desde alguns meses tenho algo amoroso”, assim começou a falar; era a única coisa que o interessava.
Não respondi e deixei-o falar.
“Muito amorosa, Lantos, e ela canta tão bonito, como um rouxinol.”
Os seus olhos faiscavam e radiavam luz.
Onde encontrei pessoa assim no passado, eu o conhecia.
Ele prosseguiu: “Ela me ama, mas mesmo assim!”
Entendi o que quis dizer com isso.
Depois a atiraria como um trapo fora e a sua honra estaria manchada, se ela ainda a tivesse.
A sua maneira antiga de amar.
Você é um canalha, pensei e senti surgir ódio, porém me reprimi.
Respondi: “Por que me conta sempre segredos de coração?”
“Você não é o meu amigo, o meu melhor amigo, Lantos?”
Era assim, mas me arrepiei da sua vida.
Também eu levei uma vida assim, mas sarei disso em grande parte.
“Está trabalhando?” perguntou interessado.
“Sim” respondi, “e por alguns meses não estarei comunicável.”
“Posso admirar o seu novo produto?”
“Não”, eu disse severamente, sem querer, “ainda não.”
“Ah”, ele disse, “Como você é curto!”
Senti a sua inveja, o seu rosto lindo torceu e surgiu um traço cruel em torno dos seus lábios.
Pensei ver um pouco atrás da sua máscara, mas ele se refez e era a bondade em pessoa.
Depois me despedi dele.
Ainda pensei muito sobre o nosso encontro, mas não consegui sondar o Roni.
De onde ele veio afinal?
Algum amor errante carente por amor se emaranhava na sua teia de aranha e então estaria perdido.
Quem a ele se aventurava teria que se submeter a tudo, lhe aguardava sofrimento e dor.
Nele se escondia uma força demoníaca; ele estava acima de todos aqueles seres que beijavam os seus pés.
O Adonis brincava com almas de mulheres e partia corações.
Um jogo demoníaco!
Ele as esmagava, as esvaziava, porque parecia que elas até consentiam.
Era nada mais que paixão.
Entre elas havia inocentes, e por estas eu sentia dó.
Eu já falei com ele sobre isso, de poupar estas inocentes, mas ele não estava acessível por razão alguma.
Fazia o que queria.
Ele era um sedutor da pior espécie e se orgulhava disso.
Nos últimos meses senti aumentar uma aversão intensa por ele e, por isso teria de me livrar da sua influência.
Todavia parecia não ser possível e comecei a pensar em poderes invisíveis, depois rejeitei este pensamento porque eu era sereno demais.
Achei ridículo supor algo assim.
O seu mundo era o meu, todavia eu não poderia ter vivido a sua vida.
Eu tinha outra mentalidade, porque para um comportamento desses evidenciei ser sensível demais.
Era como se ele fosse meu oposto; mesmo assim, nós dois amávamos a vida.
Eu procurava por uma vida, ele não procurava, mas tomava a vida de quem quer que fosse, pobre ou rica.
Nele vivia apenas um desejo, possuir a pessoa, possuí-la totalmente, mas só materialmente.
Os meus pensamentos me chamaram de volta ao meu trabalho e me apressei para casa.
Imediatamente entrei na disposição pretendida e comecei a trabalhar.
Me sentia como anestesiado; era uma sensação magnífica.
Só então o artista está feliz e sente a sua própria criação.
Como conheci bem agora a Marianne!
Ela vivia dentro de mim e eu nela; éramos como um só.
Por ela eu podia morrer; agora senti isso claramente.
Ah, se a tivesse comigo, eu poderia fazê-la feliz.
Eu imaginei-me no seu ser profundo e representei todas suas características em mármore, onde a esculpi.
A estátua crescia.
A obra avançava rapidamente e admirei a mim mesmo.
Agora o meu poder me parecia sem limites, neste momento eu alcançaria o grau mais alto.
Algumas semanas se passaram como num relance e eu tinha progredido bastante.
Em torno da sua boca amorosa havia um sorriso doce, todo o seu ser irradiava amor.
Se ela ainda estivesse em vida, neste momento ela seria assim.
Eu a representei como a senti.
Os seus cachos louros dourados se alcançavam nos seus ombros num brilho acetinado, e começou a viver.
As semanas pareciam para mim dias ou mesmo horas e me sentia o homem mais feliz do mundo.
Era o meu amor por ela que me instigava para esta altura?
Não podia ser outra coisa, porque este produto de criação era da mais alta ordem.
Eu estava observando ela de alguma distância.
Dentro e em torno da estátua havia silêncio, o que me dava sossego.
Ela estava ali como uma rainha.
O seu exterior combinava com o seu interior, ambos foram bem acertados e eu estava contente.
“Onde está, Marianne?”
Diga-me, onde vive neste momento.”
Novamente a senti sorrir.
Neste momento comecei a polir.
Caía um raio de sol sobre a toda a estátua.
O seu ser radiava como um sol, ela possuía o que procurei nela, não podia ser diferente.
Logo eu terminei.
Beijei-a em ambas as bochechas, interiormente a agradecia por esta inspiração bela e rompi em lágrimas.
Por mais que tentasse resistir, lágrimas me corriam pelo rosto.
Achei que eu era um fingido, mas surgiu algo em mim que não havia como negar.
Eu estava muito, muito triste, mas por quê, na verdade?
Todo aquele tempo eu era o homem mais feliz do mundo.
Nada me perturbava, tudo fluía, eu vivia, sentia o seu amor, a sua personalidade e isso me dava uma grande felicidade.
Por que eu tinha que chorar agora?
Por que?
Toda hora me perguntava, mas não descobri.
Fiquei enfurecido porque eu era ingrato, o que não queria ser de maneira alguma.
O meu amor era verdadeiro, isto eu ousava admitir.
Pensei muito tempo, de repente eu sabia.
Era minha aspiração por aquele amor.
Há pouco isso corria até fundo da minha alma o que me fez chorar.
Ah, como esta vida na Terra podia ser linda, mas se tornava numa tortura quando se sentia o verdadeiro amor puro.
“Ah”, clamei a toda a hora, “onde está, Marianne, onde vive?”
Se eu ousasse rezar eu suplicaria a Deus para me indicar o lugar onde ela vivia, mas eu não acreditava em milagres.
A estátua estava pronta; muitos me invejariam.
Com certeza eu magoava até sangrar o meu amigo Roni.
O que ele alcançava no amor eu alcançava na arte.
Eu preferia mais essa que a sua vida amaldiçoada.
Amaldiçoada?
Eu também não fui amaldiçoado na minha juventude?
Não havia uma maldição na minha vida?
Os meus pais me amaldiçoaram e eu a eles.
Ainda ouvia claramente as suas palavras, ainda essas palavras açoitavam a minha alma.
Eu não deveria pensar mais nisso; isso passou.
Agora eu estava diante da minha Marianne, a minha mais pura inspiração.
Eu mostraria este produto de arte a todos, mas primeiro quis descansar um pouco, porque o trabalho mexeu muito comigo.
Absorveu todas as minhas forças vitais, mas eu fí-lo com dedicação.
Por ela eu queria fazer tudo.
Senti-me verdadeiramente cansado, mas alguma distração me faria bem e fui até o lugar onde artistas se reuniam.
De caminho de repente parei, porque perdi o fôlego.
Diante de mim estava o Roni, que deparou com a minha postura.
Maldito, pensei, sempre ele se cruzava comigo.
Isso significaria alguma coisa?
“Se assustou de mim, Lantos” ele começou a conversa.
“Está tão pálido.
Trabalhou demais.
Onde esteve ultimamente, trabalhou todo aquele tempo?”
Eu olhei para ele; o seu rosto era como uma máscara sardônica.
Por alguns segundos nós nos sondamos, ele me sentia e eu o sentia, neste momento sabíamos ambos que éramos inimigos e, para lhe agredir eu disse: “O meu novo trabalho está pronto.”
Agora era a minha vez de perguntar “Você não está bem?
De repente você virou tão pálido, tem algum problema?
A sua felicidade no amor passou?”
Continuei a olhá-lo e o senti claramente.
Ele invejava a minha arte.
Como eu o odiava.
Canalha, pensei.
Porém, ele permaneceu super amigável e cortês em tudo.
“Aonde você vai, Lantos?”
“Procuro por alguma diversão”, eu disse honestamente, “estou um pouco cansado.”
Senti que voltei a mim e pelo seu trato cortês o meu ódio tinha diminuído.
Ele era um homem curioso.
Juntos seguimos andando.
“Como você acha o seu trabalho?” Ele perguntou interessado.
Eu disse: “Nunca alcancei algo tão lindo ainda.”
“Ah, você me deixa curioso.
Posso admirar?”
“Não, ainda não”, respondi friamente.
Com isso o olhei, mas o seu rosto fechado escondia os seus sentimentos interiores.
“Qual é o significado deste trabalho?” ele perguntou novamente.
Me assustei, mas consegui me controlar, ele não iria dividir os meus sentimentos mais sagrados.
Esquivei-me da sua pergunta dizendo : “Depois, mais tarde.”
“Progredi, Lantos.”
“Progrediu, você diz?”
“Sim, no meu novo amor.”
“ora, ora” eu disse, mas pensava nos meus próprios assuntos.
Progrediu?
Como progrediu?
Em quê?
Progrediu no amor?
Ele não estava a fim de destruir?”
“Acabou o jogo”, ele disse, “sou vencedor.”
“Vencedor, você diz?”
“Ela, de quem falei, se lembra, está aos meus pés.
Magnífico, Lantos, uma beleza, mas um ser simples.
Muito simples, ela me parece uma camponesa de antigamente.”
“Ridículo!”
“Mas ela canta lindamente e é uma aparência linda, mas vejo o seu passado,”
“Passado”, perguntei.
“Sim, eu a sondei um pouco.
Ela sonhará da sua felicidade.
Ela está me aguardando, vem comigo, você não está procurando distração?”
“Não, eu disse, “fique à vontade”.
Despedimo-nos, mas eu estava muito distraído.
Por que me assustei tanto, o meu coração batia na garganta quando o vi.
Por quê?
Novamente estava claro para mim que o encontrei antes na minha vida.
Como conheci este canalha?
Ou eu imaginava alguma coisa; ele não era de trato cortês?
Provavelmente eu estava um pouco estafado.
O que me interessava as suas aventuras de amor.
Mas eu era diferente?
Se eu continuasse desta maneira não sobraria amigo nenhum para mim.
Eu era caprichoso, descontente e ríspido e deveria ser diferente com ele.
O que eu estava imaginando na verdade?
Eu já sentia remorsos que o tratei de modo tão rude.
Já me chamavam de extravagante e isso eu não queria ser.
Eu era como todos.
Ou era diferente?
Tentei de me conhecer melhor; era mais do que necessário.
Mas depois de algum tempo me perdi dentro de mim e dei muita risada por causa disto.
Neste momento alcancei a idade de trinta e oito anos, trabalhei até grande nível e podia estar satisfeito.
Logo eu comemoraria novos triunfos com a minha criação mais nova, a minha Marianne.
A minha Marianne?
Estranho que pensei nisso só agora.
Eu já falava da minha criança, a minha Marianne.
Será que ela me ama como eu a amava?
Isso eu tinha que aguardar.
Em todo caso nós éramos amigos e isso já me deixava feliz.
Agora eu descansava um pouco, é que, apesar de eu querer estar com os meus amigos, eu tinha voltado para casa.
Isso era estranho, mas com certeza era porque eu estava tão distraído.
Este trabalho deixou-me perfeitamente fatigado e esgotado.
Não podia ser outro, a estátua era uma obra de arte.
O trabalho foi emocionante e ainda, quando eu a olhava um pouco, aquelas forças penetravam em mim.
Mais uma vez insisti com o meu servo a não deixar ninguém, seja quem for, entrar no meu santuário.
Pendurei um pano sobre a Marianne.
Vi como cada dobra deste pano tinha se desdobrado.
Guardei tudo dentro de mim, porque ainda não confiava o meu servo inteiramente.
Me achava um mestre terrível, mas eu de qualquer maneira nada podia mudar.
Sentia-me agitado e intranquilo e não conseguia concentrar os meus pensamentos num ponto só.
Com certeza eu precisava de um pouco de tranquilidade.
Mesmo assim fiz mais um passeio, mas os meus pensamentos voltaram-se para Roni.
O seu fanatismo me perturbava, achava-o um blefista.
Cedo ou tarde também chegaria à minha felicidade.
Eu aguardaria pela felicidade, porque querer procurar por ela seria uma loucura.
Quanto tempo já não procurei, mas não havia os que carregavam verdadeiro amor puro, que podiam amar verdadeiramente.
Roni se atirava nesta vida para obter inspiração?
Muitos se embebiam antes de conseguir realizar alguma coisa.
Mesmo assim as suas figuras viviam e as achavam lindas.
Era um mundo e tanto!
Das muitas inspirações que obtive a última foi a mais bela.
O que era inspiração na verdade?
Era ligação consciente com algo mais elevado?
Senti que não podia pensar.
Como isso me tinha abalado.
Sentia-me febril, a minha cabeça ardia.
O silêncio da natureza me faria bem.
Eu estava doente, ou havia uma doença chegando?
Sentei-me num lugar lindo com flores e ciprestes à sua volta.
Aqui era como num paraíso, só perturbava o Homem.
Eu sentia que também eu perturbava.
Pássaros cantavam a sua canção, o seu gorjeio me fazia bem.
Eu observava vida nova em todo lado.
Tudo isso era a criação de Deus; também nós Homens.
Por que vivíamos nesta Terra, na verdade?
Por que estávamos aqui?
Quanto eu queria saber e conhecer o Homem.
Que profundidade tinha o Homem?
Quem o conhecia?
De onde ele vinha?
Havia um prosseguimento?
Uma vida após esta?
Ou a vida chegava num fim com a morte?
Que proveito havia em estar aqui?
Um dilacerava o outro.
Eu via apenas sofrimento.
Havia um prosseguimento eterno?
Se fosse assim, eu tinha muito a consertar.
Estava na Bíblia, os clérigos falavam disso, mas ninguém sabia com certeza.
Mesmo assim isso me ocupava sempre.
Eu andava constantemente com estes pensamentos.
Por quê?
Eu perguntava a toda hora.
Eu era consciente demais?
Eu vivenciava a vida intensa demais?
Eu não estava contente?
Eu procurava algo.
Era a felicidade caseira?
Para mulher e filhos e uma vida feliz?
Isso não estava reservado para mim?
Deus não era um Pai de Amor?
Por que ele não dava felicidade aos Seus filhos?
Era curioso, até agora não me sentia contente, apesar de que possuía fama e tudo pelo que aspirava na minha juventude.
Havia algo que me tirava a felicidade desejada.
Eu via como num abismo profundo e nunca descobriria o enigma.
Era a mesma força que me deixou intratável em criança?
É que eu não era domável, “algo” me empurrava fora da casa.
Agora eu buscava e sentia claramente, eram os mesmos sentimentos.
Então aquela força era o meu destino?
Eu era possuído pelo Demônio?
Ou eram forças naturais, leis das quais eu não podia escapar?
Se eu aceitasse isso eu me sentia como se não tivesse vivido, como se houvesse uma força que me governava e segundo qual eu tinha que agir.
Será possível?
Havia forças que me deixavam intratável?
Até onde o Homem era a si mesmo?
Ele tinha uma vontade própria?
Ou não tínhamos nada a querer?
Vivíamos inconscientemente, em nada consciente?
Até onde se estendia a consciência?
Estávamos aqui para nos tornarmos conscientes?
Todas as pessoas vivenciavam estas coisas?
Eu nunca ouvia o Roni e muitos outros fazer perguntas, apenas viviam e estavam felizes.
Um dia eu vivenciaria isso?
Ou era porque eu sonhava e era diferente deles?
Havia na Terra quem estava conscientes?
Se não, quanto estamos distanciados disso?
Onde está o início e onde o fim?
Assim eu poderia continuar e fazer mil perguntas, mas nenhuma era respondida.
Um véu denso cobria tudo e também a minha própria vida.
Eu estava diante de um mistério.
Eu me achava um problema, porque não me aprofundava.
Um dia eu me conheceria?
Eu estava consciente de mais nada, inconsciente em tudo.
Sempre havia ali este mistério, aquela força desconhecida que governava a minha vida.
Eu ficaria louco se continuasse assim.
Pare Lantos, pare, você pergunta demais.
Vive a sua vida como Roni e outros e você será feliz!
Olhei para cima.
Acima, atrás daquela veste lisa roxa-azulada do firmamento havia o segredo.
Ali vivia Deus e havia o Seu Céu.
Ali chegaríamos um dia para sermos julgados.
Eu receberia muito castigo, seria queimado e amaldiçoado, porque não tinha vivido como um santo; ao contrário, vivi alegre e desenfreado.
Provavelmente isto não era o propósito.
Se devia rezar, e muito e isso eu não fazia mesmo.
Também aos pobres não tinha dado nada, eu vivia só para mim.
Estes eram todos pecados e deveria expirar por isso quando eu vivesse naquele lado, se pelo menos fosse a verdade, porque eu tinha que aguardar isso.
Ninguém sabia.
Eu estava marcado como um pagão, como um incrédulo, isso era terrível.
Se eu continuasse a viver eu deveria passar por aquele fogo eterno.
Por aqueles poucos pecados que eu tinha cometido.
Era terrível.
Chamavam O de um Deus de amor, mas era isso amor para amaldiçoar os Seus filhos?
Eu tremia deste Deus, que os clérigos conheciam e do qual falava na Bíblia.
Comecei a ser crente?
Pelo menos comecei a pensar sobre religião.
Eu não sonhava mais, mas analisava.
Algo mudava dentro de mim, cada dia, mas chegar a um conhecimento certamente eu não alcançava.
Devia eu me tornar consciente pensando desta maneira?
Eu me perguntava isso a toda hora.
Atrás disso, ali estava, vivia, ali estava Deus.
Que amplidão!
Ah, aquele espaço imenso; sentia me ficar pequeno.
Ele, o Criador de toda esta vida, de Céu e da Terra, se envolveu numa bruma.
Continuava invisível a todos.
E os homens queriam conhecê-Lo tanto, também eu.
Tudo acima disso me parecia ilimitado, eu não via o seu fim.
Atrás disso batia o coração de Deus por todos os Seus filhos.
Porém, eu não ouvia, por mais que me esforçava.
A minha audição não prestava por Seu som poderoso?
Ou eu me afinava erradamente?
Devia eu me afinar como vivenciava a minha arte.
Muitas pessoas perguntavam como eu: por que e para quê esta vida, para que esta injustiça, todo este horror nesta Terra?
Homens rogavam por Ele mas não obtinham resposta.
Homens clamavam e gritavam por ajuda mas não eram ouvidos.
Viviam em dor, sofrimento e miséria, fome e frio e pediam para serem livrado disso, mas não acontecia.
Também os que iam todos os dias à igreja, rezavam sem parar, também as suas orações não eram ouvidas e também perguntavam por quê e para quê.
Não tinha fim o seu sofrimento.
Nenhum Deus de amor interveio e clamava um basta aos soberanos, ele os deixava destruir vidas humanas.
Mesmo assim, era um Deus de amor.
Incompreensível, reconhecê-lo como um Deus de amor e justiça.
A nenhuma questão se obteve um forte sim ou não.
Tudo permanecia envolvido naquela bruma invisível e não chegavam à verdade.
Era esta a vida inconsciente?
Era Deus algo inconsciente?
Veria eu errado?
Estaria eu rebelde?
Todas as pessoas não sentiam como eu?
Eles não procuravam pela vida verdadeira?
Ou seria eu uma exceção?
Tinha o Homem que encontrar o seu caminho neste caos?
Diziam que tinham que crer, assim chegariam à verdade.
Eu olhava e olhava muito tempo para cima, mas não encontrava Deus.
Lá em cima continuava rígido, misterioso e insensível.
Da profundidade do Universo me chegava um riso de escárnio que não era apreensível por ninguém.
Este continuava azul.
Só à noite se tornava visível a vida das estrelas.
Mas também disso os cientistas não entendiam muito.
Havia ali o segredo de toda a criação?
Eu deveria ter-me tornado um cientista, porque a ciência me interessava fortemente.
O homem procurava milhares de anos, se questionava “por quê e para quê.”
Quanto tempo ainda deveriam se questionar?
Quando chegaria o momento que Deus falasse: “Veja, Eu vivo.
Sintam que Eu amo todos vocês, que dirijo e governo tudo o que não entendem, nem podem abranger.”
Isso eu não vivenciaria mais, para isso a minha vida era curta demais.
Provavelmente amanhã eu já estaria morto e então todo o questionar e suplicar pela verdade pertenciam ao passado.
O Homem tinha um poder imenso e mesmo assim, era um ser do momento.
Aquele que encontrou ontem, hoje já não existia mais, porque a morte já o tinha chamado.
Ele estaria no Céu ou queimaria eternamente no Inferno.
Morte, sim, o que era a morte na verdade?
Uma palavra com um som horrível.
Eu não entendia a morte, tão pouco os outros problemas.
Eu tinha três problemas: a morte, Deus e a minha própria vida.
Para mim Deus era o maior enigma.
Ele criava algo poderoso e o deixava morrer.
Quando eu tinha realizado algo lindo, eu o admirava horas e nunca me satisfazia, eu tinha que admirar sempre.
Porém, o que era a minha criação em comparação com a Dele?
Nada mesmo.
Como é miraculosa a sua Criação, o Homem, o Animal e toda a outra vida.
Mas o mais bonito de toda a Criação é o Homem.
Mas quando morre e se desfaz em pó, volta ao nada.
Mas por que Ele criou o Homem?
Eu podia ver, ouvir e sentir e podia ir onde eu quisesse.
No Homem tudo era perfeito e, assim mesmo, um dia tinha que morrer.
Pior, depois deveria queimar!
Para os pequenos pecados que ele cometia, também tinha que expiar.
Eu sofria com isso e achava o julgamento duro demais.
Esta vida podia ter um objetivo?
Para mim tudo isso era uma tortura, algo impenetrável.
Como eu poderia aceitar a palavra de Deus agora que eu sentia isso dentro de mim?
Crer e não entender, aceitar tudo sem hesitar, me parecia impossível.
Roni era como um Adonis, o seu corpo atraente, mesmo assim também ele morreria um dia.
Senti muito, mas não apreciava a sua vida.
Na sua morte eu via e sentia a justiça.
Mais alguns anos e também a sua beleza teria passado.
Ele invejava a minha arte e o meu sucesso.
Como podia Deus depositar um caráter desses nele?
Um corpo perfeito e, assim mesmo, um bicho.
Porque um bicho ele era indiscutivelmente.
Cada mulher que se encontrava com ele era perdida irreversivelmente.
Ele a sugava e então a atirava longe dele.
Era esta a vontade de Deus?
Por que ele dava a este bicho tanto poder para destruir e romper?
Se ele não morresse, provavelmente eu conseguiria matá-lo.
Assim não havia nenhum sofrimento e dor e não era mais rompido coração inocente algum.
Mas também ele morreria, com certeza.
Veja, só por isso eu poderia ser grato a Deus.
Só neste ponto Deus era perfeito e justo.
Ninguém, Homem nem animal poderia continuar a viver, manter a vida.
Tudo morria e tinha que perecer.
Ele não tinha dado a Roni somente a sua beleza, mas também lindos dons que ele desperdiçava.
Ele fazia nada da sua arte, ele se desenfreava e só produzia miséria.
Assim era o meu amigo Roni e, mesmo assim, era um filho humano agraciado.
Deus não é incompreensível?
Quem poderia entendê-Lo?
Isso não ia contra tudo?
Um ser bicho como ele deixava solto, podia fazer e desfazer o que bem entendesse.
Que injustiça terrível!
Outros poderiam fazer algo lindo se tivessem um sentimento de arte semelhante neles.
Muitos almejavam por isso e, mesmo assim não recebiam nada daquelas características soberbas.
Isso também era um enigma para mim.
Na minha juventude isso já surgia dentro de mim e me perguntava, por que um recebia tanta felicidade terrena e outro passava fome e miséria.
Senti surgir mais perguntas em mim, mas questionar mais era um trabalho sem fim.
Agora me sentia mais calmo e não tão agitado.
Este aprofundamento do pensar na natureza livre me deu tranquilidade.
Estar a filosofar me fazia bem, me melhorava a disposição.
Já era fim da tarde quando voltei para casa.
Eu queria começar uma nova estátua e depois colocaria a Marianne em exposição.
O que representaria agora?
Algo que me levaria à inspiração máxima.
Do mais profundo do meu interior surgiram pensamentos dos quais eu tremia.
Algo assim me parecia impensável.
Como deveria interpretá-Lo?
Eu não O conhecia, não O sentia e não entendia nada Dele.
E eu tinha que senti-Lo, totalmente para que saísse algo.
Mas em mim também havia ainda o pensamento da morte, aquele terror que cortava a vida do homem que eu também queria interpretar.
A morte, aquele pensamento surgiu dentro de mim tornar-se-ia uma peça linda, um produto de criação da mais alta ordem.
Mas ainda senti surgir uma outra ideia e parecia me atrair ainda mais.
Eu faria um Adônis e fá-lo-ia morrer.
Isso teria que representar o Roni, nele havia a vida e a morte.
Como eu poderia emendar ambos?
Pensei muito tempo para sentir a ideia toda.
Como eram lindos estes pensamentos; me achei um gênio a pensar.
A morte e o Roni, e Deus como Criador deste grupo.
Como este conjunto era pensado profundamente.
As pessoas se ajoelhariam em oração se eu conseguisse realizar este trabalho.
Já sentia o significado desta estátua.
Para mim era Deus, a vida e a morte.
Não podia ser mais bonito, mais profundo e mais perfeito.
Retornei ao lugar de onde eu vim para pensar mais.
A natureza tinha que me ajudar senão eu não conseguiria.
Eu tinha que sentir, totalmente dentro de mim, só então eu poderia vivenciar isso.
Uma vez chegado ali eu estaria pronto e poderia começar a retratar.
Desta representação todos o iriam reconhecer, o meu amigo, que eu odiava.
Eu depositaria nesta estátua todo o meu ódio.
Eu zombaria da sua vida, mostrar-lhe que estava destinado a morrer.
Eu estava alegre e sentia-me feliz que aqueles pensamentos surgiram dentro de mim.
Será que um dia um artista pensou nisso?
De onde vinham estes pensamentos?
Eram meus?
Eram profundamente assustadores, quase inatingíveis para um Homem.
Mesmo assim devia ser possível completar isso.
Ainda era um pensamento inconsciente, mas com certeza tornar-se-ia consciente.
Agora também isso me ficou claro, porque comecei a sentir algo do inconsciente e do consciente.
Quando eu pensava sobre esta estátua eu estava consciente de poder criá-la.
Era este o conceito correto, a consciência verdadeira, ou não era o caso?
Agora comecei de novo.
Mas eu devia ficar só com aquela, não pensar noutras coisas, somente deixar entrar em mim esta grandeza para levá-la à consciência.
Sentia-me feliz, em despertou uma força nova.
Todos os meus irmãos de arte vivenciavam os seus produtos de criação como eu?
Eu perguntaria isso a alguns que ainda sentiam simpatia por mim.
Provavelmente podiam me dar novas impressões.
Porém eu não lhes diria nada do meu plano, isso continuaria o meu segredo.
Levantei-me e rapidamente fui até eles, talvez ainda os encontrasse.
Eu não teria sossego mesmo, eu tinha que agir logo.
Ao mesmo tempo eu tentaria sondar o meu amigo Roni, por que era necessário, porque eu tinha que conhecê-lo totalmente.
Eu faria longas caminhadas com ele, deixá-lo-ia entrar no meu atelier para que a minha amizade parecesse mais forte.
Eu teria que vê-lo mais vezes, me encontrar mais com ele, ou a minha criação não seria perfeita.
E esta estatueta colocaria a coroa no meu trabalho.
A minha ideia era soberba, incrivelmente linda e profunda.
Eu queria vê-lo, eu queria observá-lo por muito tempo.
Se ele o sentisse eu diria que comecei um novo trabalho e que teria semelhança com ele.
Ele me iria estranhar, mas me consideravam como um sonhador de qualquer modo?
Achei bem agora e fazia proveito disso.
Eu esperava encontrar muitos outros também.
Eu sondaria os sentimentos de todos se era possível pelo menos.
Apenas agora comecei a dar importância aos meus amigos e procurar pelo seu íntimo.
Quando entrei, vi que ele estava presente.
Será que estava bêbado?
Ele veio ao meu encontro e apertou cordialmente a minha mão e disse: “Meu Lantos, bom amigo, finalmente novamente juntos.
Os dias demoram demais para mim!”
Estranhei a atitude dele, de manhã ainda me encontrei com ele.
Com ele era sempre assim, beber e divertir-se, ultimamente não trabalhava nada.
Que controvérsia: o seu corpo lindo e o seu caráter horroroso.
Comecei a sondar os seus sentimentos e penetrei o meu olhar nele.
“Eu a retratarei, Lantos, farei algo lindo do meu amor”, ele falou.
Tive-me de esforçar para não desatar a rir.
Ele faria algo lindo, então ele estava apaixonado e o seu poder quebrado.
Nós nos sentamos num nicho.
Roni estava muito barulhento e eu solicitei para ele se acalmar.
“Como quiser, Lantos, eu me controlarei.”
Ele nunca se esquecia da sua cortesia, embora o vinho tivesse ensombrado o seu sentimento e descontrolado a sua cabeça.
“Uma bela tarde, Lantos, que pena que não foi comigo.”
Parecia que se lembrou do nosso encontro e disse: Podemos ir juntos até você?
Você verá um par lindo e arregalará seus olhos.”
Não podia ser melhor e aceitei ávido.
“Amanhã poderá vir”, eu disse.
“Se quiser leva ela consigo, quero muito encontrar me com ela.”
Ele pegou as minhas mãos e as apertou cordialmente.
“Pensei que concordasse.
Você é o meu amigo, Lantos e continuará a sê-lo, não é?”
Não respondi e ele seguiu: “A que horas nos pode receber?”
“À uma hora da tarde”, eu disse; para mim era indiferente.
Preciso-lhe participar de alguma coisa, Lantos.”
“Eu escuto,” eu disse, curioso para o que ele tinha e me falar.
Naturalmente sobre a sua vida e sua conquista mais recente.
“Eu tenho ido longe demais, Lantos, tem que acontecer alguma coisa que me é muito desagradável.”
Imediatamente entendi o que ele queria dizer.
Canalha, pensei, mais essa.
“Você pensa em casá-la?”
Ele desatou em gargalhadas, me soou nos ouvidos como uma risada demoníaca.
“O que está pensando, Lantos.
Eu amo demais a minha liberdade, bom amigo.
O que você me aconselha a fazer?”
“Não sei, nisso não posso lhe responder.”
“Ela merece, Lantos, ela é bonita.”
“Por que não casa com ela então?”
“Como eu lhe disse, minha liberdade me é muito querida.
Mas diga o que devo fazer?
Não posso me livrar, onde quer que eu esteja, ela me acha e pergunta o que fazer.
Ela é mais forte que eu, ela não está para brincadeira, Lantos.
Esta vez errei a conta, porque um ser assim ainda não encontrei.
Acredite quando lhe digo que quero muito me livrar dela, sacudir ela de mim, mas não é possível.
Conheço-a melhor do que a mim próprio.
Venha, me aconselhe, o que devo fazer?”
“Você quer fazer a sua estátua?” perguntei.
“Algo semelhante, mas não sei se conseguirei.
Devo fazer alguma coisa, mas o quê?
Esta é apenas um meio, sabe, para conseguir tempo para pensar.
Mas a minha liberdade, minha amada liberdade , Lantos!”
Animal falso, pensei, como você é vil.
Todas as minhas boas intenções eram abafadas pelos seus pensamentos demoníacos.
Inesperadamente ele disse: “É verdade, devo ir.
Ah como não me lembrei disso.
Devo ir, Lantos, até amanhã, não é?”
Ele estendeu a sua mão e foi-se embora.
Uma pessoa estranha.
Agora há pouco estava embriagado, agora, de repente, estava sóbrio.
Como era possível?
Por que de repente esta mudança?
Os seus afazeres eram falsos, apenas uma desculpa?
Eu me deixava enganar?
Ele estava brincando um jogo comigo?
Não, eu ia longe demais, tinha que acreditar nele e confiá-lo um pouco mais.
As horas passavam e eu ainda me encontrava no mesmo lugar em pensamento.
Finalmente me levantei e fui embora.
Não tinha sondado os meus irmãos de arte, não pude perguntar nada, os que se encontravam ali tinham que despertar primeiro.
Nelas não estava aquele sentimento, estavam vazios e inconscientes.
Então “eu” estava consciente?
Em tudo sempre essa vida consciente e vida inconsciente.
Eu fui atingido profundamente com tudo que ele me contou.
Pobre criança humana que era atingida por este sofrimento.
Primeiro ele a chamava de camponesa, depois uma beleza, e agora isso.
Se ela era uma personalidade diferente dele, me interessava encontrar e conhecer aquele ser.
Para mim era uma impossibilidade ver através da máscara de Roni e ela era capaz?
Mas as mulheres diferem muito dos homens, viam mais nitidamente e sentiam mais profundamente quando se referia a tudo e por tudo.
Eu estava muito curioso não só em vê-la, mas também em conhecê-la.
Provavelmente isso me ajudaria no meu novo trabalho.
Talvez ela fosse um milagre, dotada com outras forças do que as que eu conhecia e possuía.
Ela era maior que ele em tudo?
Quase não era possível.
Então ela deveria ser uma Diaba.
Também nele eu via um Demônio em vulto de Homem.
Que belo par!
Encontrar um Diabo e uma Diaba era um gozo, mas ao mesmo tempo arrepiante conhecer um par assim.
Já almejava pelo dia seguinte.
Lamentava que não os tinha convidado para esta fim da tarde ou mesmo de noite, mas já não era possível.
Portanto eu tinha que esperar até amanhã e não ser impaciente.