O passar para o Além
A tia de André já estava doente há alguns anos; às vezes havia alguma melhora na situação, mas geralmente ia mal.
Ela não possuía beleza física, mas gostavam dela pelo seu caráter bonito, por sempre tentar animar e ajudar as pessoas, por dar o quanto podia.
Segundo a opinião do médico, ela poderia viver por algum tempo ainda, mas André recebeu a comunicação de Alcar, que aqui nenhuma cura seria possível e ela logo passaria.
Durante os últimos meses André fez muito por ela; dava-lhe apoio e ela achava magnífico quando ele vinha a ela para ajudá-la.
“Rapaz,” ela sempre dizia, “você tem algo lindo.
Você ainda poderá ajudar muita gente.”
Muitas vezes ela lhe dava algo, para dar a outros enfermos.
Ele gostava muito dela, ela era tão amorosa e boa.
Alcar lhe disse que esta semana a doença pioraria; ele lhe contaria mais amplamente o que deveria fazer.
A mãe sentia, com isso, muita tristeza, isso ele sentia.
Ele mesmo não achava tão ruim que ela morresse, porque no Além ela seria feliz.
É que ela já sofreu o suficiente.
Quando ela fosse embora, ficaria livre de todo seu sofrimento, tornar-se-ia sã e poderia andar, quando tirasse a veste material.
André falava muito com a mãe quando ela estava deprimida e a tristeza a dominava.
“Vai, mãe, não fique tão triste assim.
É que ela será feliz.
Com ela não precisa se preocupar; ela é uma mulher boa, uma pessoa especial, não será infeliz porque ela esta pronta para morrer e ir embora.
Para ela é uma salvação.
Acredita em mim?
Tenha confiança mãe; Deus lhe dará a força para carregar isso.
Não dificulte para você, Alcar nos ajudará.
O que o mundo astral não faz por nós.
Como temos recebido muito ultimamente!
Venha, deixa-nos sermos fortes e gratos.
A tia já sofreu por tempo suficiente; você gostaria de segurá-la aqui; já não são grandes os seus sofrimentos e você quer que ela fique aí deitada?
Não, isso você não quer.
Você gosta demais dela para querer isso.
O que é a morte para ela?
As palavras de Alcar que eu lhe passo, nada dizem à senhora?
Não é a morte uma salvadora se soubermos que a vida é eterna?
Mostre agora que sabe.
Venha mãe, não chore mais.”
André a encorajava, porque ela gostava muito da sua irmã, que agora ia passar.
“Sim,” pensou a mãe Hendriks, “André tem razão.”
Anos a fio a doente sempre tinha ficado na cama e agora viria o fim.
Ela sentia que seu rapaz dava-lhe coragem e força, para carregar a perda.
Ele falava com a convicção de alguém que tem conhecimento de causa.
Aos domingos sempre estavam juntos.
Ele não ia a lugar algum e tinha apenas poucos amigos.
Eram alguns com quem podia falar sobre as coisas, das quais ele estava tão repleto e para o quê ele se dava totalmente.
Não o entendiam mesmo e ele não estava a fim de fazer aquilo que os outros queriam.
Não, isso não conseguia mais, agora que recebeu algo lindo assim.
Eles só falavam de coisas fúteis, terrenas e estas não o interessavam mais.
Não se sentia mais atraído por estas pessoas e então não mais as procurava também.
Eles queriam tanto levá-lo ao caminho que leva à vida sem objetivo.
Ele sentia-se feliz com todos os tesouros espirituais que Alcar lhe deu e evitava os outros, porque não queriam fazer nada, a não ser o que era fácil.
Todas aquelas pessoas então, deveriam viver como viam a vida; ele não participaria disso.
Ele queria viver como sentia que precisava, cientemente.
A maioria das pessoas não viviam por elas mesmas, mas eram vividas pela vontade dos outros.
Ele sentia repugnância das pessoas que tentavam passar a sua vontade aos outros, forçar o outro a fazer aquilo que eles quisessem.
Também achava horrível quando eram-lhe oferecidos presentes, onde havia interesse próprio em jogo; isso ele sentia na hora e então não tinham mais valor para ele.
O que não era dado com amor, de coração, comprometeria o receptor e era impossível continuar a conviver com este tipo de pessoas quais, desta maneira, queriam impor-lhe a sua vontade.
Ele sentia-se irrequieto em sua companhia.
Então era melhor ficar só e ir ao caminho que foi-lhe mostrado; honesto e direto em amor verdadeiro a Deus.
Os homens deviam dar por amor, não para conseguir bens terrenos e influência mundana, ou por norma exterior; nem para receber gratidão.
Ele queria viver como o Alcar queria.
Repleto deste pensamento, numa manhã ele desceu, onde encontrou a sua mãe sozinha.
Após desejar-lhe um bom dia, perguntou: “Onde está o pai?”
“O pai foi à igreja; eu já fui, assisti a missa das sete.”
A mãe o olhou, mas nada disse.
André sentiu, a que a mãe se referiu; a igreja não os sossegava.
Depois do café da manhã, ele se vestiu.
“O tempo está bom, mãe?”
“Sim, rapaz, está magnífico lá fora.”
“Está bem, então vou dar uma volta.
Perto de meio dia eu volto, mãe.”
“Está bem, André.”
A mãe o olhou, vendo-o ir embora, ela gostava muito do seu filho.
Como ele mudou!
Ultimamente ia pouco à igreja.
Desde o tempo que aquilo começou, não viu mais a igreja.
Ela sentiu que o pai ainda não tinha dado a última palavra sobre isso.
Toda a hora voltava ao assunto.
Gostava quando André ia junto com ele.
Mas André não fazia; ele não sentia mais nada pela igreja, mas Hendriks não estava contente com isso.
Não obstante as suas conceções estranhas, o rapaz poderia ir à igreja, ele falou para a sua mulher.
Perto das onze, Hendriks chegou em casa.
Onde está o rapaz, Marie?”
“Ele foi passear, pai; perto de meio dia estaria em casa.”
Foi um sermão bonito hoje cedo, Marie.
Não entendo que não atrai o rapaz.
Não consigo entender, pois, isso também é bonito.
Não, Marie, não estou contente com isso.”
Embora a mãe quisesse muito que ele fosse com o pai, ela tomou partido de André.
“Ah, Willem, deixe-o.
Ele, porém, não faz mal algum.
Pois ele reza, ele mesmo diz, a cada dia.
É verdade, ultimamente não conseguimos mais segui-lo, preciso reconhecer, mas ele é direito.
Tudo o que ele faz é bom, não é?
Pois, isso você precisa reconhecer.”
“Sim, tudo isso está bem, mas ele deveria ir à igreja.”
André estava fora, gostosamente na natureza livre.
Ali havia tudo, via a vida em tudo e gozava de tudo.
Esta era a criação de Deus e a isso os Homens passavam ao lado.
Não entendia que, sem razão alguma, sem pensar até, pudessem destruir toda essa beleza.
Eles quebravam as lindas flores que havia ali num e noutro lado, sem razão, enquanto passavam por elas.
Quando ele se encontrava fora, sempre sentia Alcar ao seu lado.
Oh, se as pessoas pudessem ver uma vez que fosse, apenas por alguns minutos, então saberiam como é brilhante o mundo à sua volta.
Eles veriam também as suas irmãs e os seus irmãos, que vivem atrás do véu.
Poucos, a quem contava, puderam acreditar que ele falava lá fora, com o seu amigo novo.
Ele e o Alcar tinham uma estreita ligação espiritual; tornou-se um laço tão estreito.
Logo de manhã, ao acordar, ouvia o Alcar desejar-lhe um bom dia.
Toda a manhã isso acontecia.
Desde o início sempre era assim.
Muitos iriam rir dele se contasse e todavia, era a verdade.
O Alcar era o mais querido que tinha na Terra e, mesmo assim, para outras pessoas não era visível.
Fora, entravam inteiramente em contato e quando em casa tornava-se abafado demais, o Alcar sempre o mandava à natureza esplêndida de Deus.
Então, dizia o seu líder: Vá para fora, André, lá sempre podemos alcançá-lo.”
Principalmente, quando estava muito triste porque tinha estado nas Esferas, era a natureza que o fortificava.
Entre os Homens então ele não aguentava ficar, as diversas influências o pressionavam muito.
Os Homens não sabiam que influências os circundavam.
Mas ele as sentia.
Agora ele já havia progredido tanto que podia constatar uma doença, se a pessoa, que vinha consultá-lo sobre um paciente, concentrasse os seus pensamentos firmemente no doente.
Este era o fio da telepatia, disse Alcar, mas, o que era o mais maravilhoso, ele então sentia a doença e a dor, no mesmo lugar, onde a pessoa em quem pensava, a sentia.
Então, se isso se realizara, ele via tudo nitidamente e ainda muitas outras coisas que aquelas em que o visitante pensava.
Depois disso, a telepatia era desligada e ele era ligado ao doente.
Recentemente, ele deu provas lindas a alguém, das quais o mesmo se encantou e considerou como milagres.
Também era milagroso, mas, para ele já não: ele achava muito normal.
Mas demorou muito tempo até alcançar este ponto.
Oh, mas que tempo horrível ele tinha passado.
Agora o pior já passara, o Alcar lhe falou.
Mesmo assim, vinham sempre novas causas de dor e sofrimento.
Estas não vinham do Alcar, porque o Alcar era um Espírito de amor, porém vinham dos Homens.
Aqui fora, na natureza livre de Deus porém, era magnífico.
Ele rezava muito nestas horas de tristeza e aos poucos todo o sofrimento se dissipava.
Esta manhã, de novo, se achou tão bom; tudo nele jubilava.
Mesmo assim sentia que o pai não estava satisfeito, por ele não ir à missa.
Todos eram educados no catolicismo e o pai e a mãe eram muito rígidos.
Logicamente a igreja se esforçava para mantê-lo.
Porém ele estava plenamente convicto de que não precisava da igreja.
Aqui fora ele podia alcançar Deus, melhor do que entre todas as pessoas na igreja.
Sempre o incomodava muito que o vigário se contradizia nos vários sermões, mas o bom homem não sabia melhor.
Ele pediu por conselho ao Alcar e este lhe falou: “Nós lhe damos a nova fé, rapaz, a fé pura, uma vez que não é para fazer sensação.
Infelizmente, muitas pessoas pensam que já está bom desde que participam duma sessão.
Nós, porém, não queremos sensação, não apresentamos alucinações, não idolatramos, mas retiramos o lado espiritual de tudo.
Isso nos faz progredir para as alturas, isso deve ser aceite.
Não tem importância qual é a fé confessada, desde que procuremos por Deus e queiramos o Bem.
Não é preciso ser um palácio aonde se pretende encontrar Deus; lembre-se disso.
Todas as religiões são um só enquanto se procure pelo Bem.”
No seu quarto, ele tinha um lugarzinho calmo onde podia chegar mais perto de Deus.
Lá estavam penduradas as suas peças religiosas recebidas mediunicamente, as quais foram-lhe entregues pelos espíritos mais elevados.
Lá se encontrava amor e luz.
Ali ele rezava a Deus e pedia força.
Não, não lhe era possível retornar novamente à igreja do jeito que o seu pai queria tanto.
Na natureza ele se podia desligar de tudo.
Os Homens não sentiam isso o que ele não conseguia entender.
Quando ele estava fora, ficava cheio de pensamentos elevados e então retornava a casa, revigorado de corpo e alma.
Isso era magnífico, ali Deus habita, mais do que naquele prédio bonito.
O brilho de ouro e prata na luz trêmula da vela, incenso e exibição exterior, eram um impedimento para se tornar um com a criação de Deus.
Na natureza de Deus não era necessário tudo isso.
Muitas pessoas não viam a força divina em tudo; com que se podiam tornar um, porque dentro deles não existia este calor.
Eles só viam a forma, mas não sentiam a vida que Deus colocou em tudo.
Mas, mais tarde não se aproveita nada da forma.
Forma, o que é forma?
Matéria pura, egoísmo puro, só terreno, assim como ele a sente e a vê, é a forma.
Os Homens que apenas se seguravam na forma, que lhes mantinham mais um pouco no caminho certo, estas pessoas não percebiam que a Terra é um grande jardim da vida.
Deus entregou tanto infinitamente, mas nada era considerado.
Tomaram como evidente e por nenhum momento pensaram em ser gratos por esta graça.
Quantos doentes que não podiam deixar a cama, teriam um céu na Terra e trabalhariam arduamente se conseguissem e pudessem passear na natureza esplêndida, que Deus criou para nós, mas geralmente acontece que não se dá valor e nem se vê o que está presente em abundância.
Ouve agora os pássaros cantarem!
Como cantam carinhosamente.
Ali voou uma mãe com alimento para os seus filhotes.
Tudo por amor puro, amor limpo.
Os Homens não sentem a imensa força na natureza que domina tudo pelo amor infinito para toda a criação.
O André via e sentia intensamente aquele amor em tudo quanto é lugar.
Na natureza ainda nada se encontrava deformada; ali tudo era verdadeiro e puro, porque não é pelo poder dos Homens que se altera isso.
Cada vez a Humanidade pecava contra as leis divinas por sua própria culpa, pousavam dor e sofrimento sobre ela, então resmungava, se erguera contra Deus e clamava: “Como é que Deus pode permitir isso?
Porque é que Ele não intervem?”
A Humanidade não entendia que não era Deus quem a castigava, mas que as suas próprias ações erradas e pensamentos levaram a desgraça sobre ela.
Que pobre entendimento tinham de Deus.
Deus, que é Amor, nunca castiga.
Deus que é justo, ama todos os Seus filhos e é Seu propósito que todos se tornem felizes, façam o bem e subam cada vez mais nas alturas.
André achava os Homens estúpidos; cada um fazia da sua vida, aquilo que ele mesmo queria fazer dela e quando desandava, não procuravam a culpa em si mesmos, mas em Deus.
Nunca tentavam se conhecer a si mesmos; por auto-conhecimento poder-se-ia encontrar Deus em tudo.
Hoje pensava muito na tia.
O pai iria lá rapidamente e depois, quando chegasse a casa, ouviria dele como é que ela estava.
Não iria prolongar-se muito mais.
O Alcar lhe disse que precisava ajudá-la.
Durante as suas caminhadas, muitas vezes, ouvia a voz do Alcar; geralmente no lado direito da sua cabeça e com muita clareza.
Isso acontecia muito ultimamente, mas recebia comunicações dele também de outras maneiras, as vezes por transmissão de pensamentos ou por inspiração, mas também, muitas vezes, via uma lousa negra e uma mão que escrevia nela com giz branco.
Assim, recebia ordens de como agir.
O último modo de transmissão ele precisava estar calmo, isso não acontecia durante o caminhar.
O Alcar mesmo, também escrevia por ele e se servia então da sua mão esquerda, enquanto ele mesmo sempre escrevia com a mão direita e não sabia como fazer com a esquerda.
Ele tomou lugar num morro alto, de onde pôde ver sobre a cidade e como acontecia muito, quando estava contemplando quieto, ele começou a ver.
Se ele o quisesse, sempre podia ver e isso era necessário toda a vez que viessem buscar a sua ajuda.
A qualquer hora podia entrar em contato com o Alcar.
De repente, viu a lousa diante dele; depois o próprio Alcar.
Então o Alcar tornou a sumir, porém a sua mão ficou e começou a escrever.
Primeiro o seu nome; depois escreveu: “Consegue ler tudo?”
“Sim,” disse o André em pensamentos e imediatamente a mão escreveu: “Magnífico.
Eu quis usar esta maneira para dar-lhe algumas notícias para amanhã.
Veja.
Hoje de manhã eu estava com a sua tia, a doente agora regride rapidamente.
Prepare os seus pais, é que amanhã ela falecerá.
Você me entendeu, André?”
Ele respondeu afirmativo, é que ele leu tudo e se assustou muito.
Imediatamente o Alcar escreveu: “Também o ajudarei com o pai; ele não está satisfeito que você não vai à igreja.
Mandei-lhe para o campo, hoje de manhã, para poder atuar melhor em você.
Esteja à disposição esta tarde meu filho, e nós o convenceremos.”
O Alcar escreveu o seu nome na lousa, embaixo.
Depois mais nada, mas agora ele ouviu o seu líder, quem conferia tudo, dizer: “Diga o que viu, André.”
Ele o fez e o Alcar disse que estava bom.
Este conferir era necessário, é que, quando as pessoas precisavam de ser convencidas pela cura, não se podiam cometer erros.
Então entregar-se-iam de vontade para serem tratados.
Dos pacientes não queria ouvir nada, sobre a sua situação de saúde; eles vinham consultá-lo e ele devia dizer o que não estava em ordem.
Para isso ele era magnetizador clarividente.
O Alcar lhe disse de aviso : “Cuidado, André, nada de franjas, só o necessário.”
Com isso ele queria dizer: a doença.
Como o Alcar sempre lhe mostrava tudo de várias maneiras, sempre podia comunicar aos Homens as causas corretas da doença e eram provas convincentes para eles.
Ele sentia-se feliz quando podia ajudá-los.
Agora ouviu a voz do Alcar dizer: “Escuta, André, quero contar-lhe algo que tem a ver com a passagem da tia e sobre o seu lugar nesta vida.
Tente me entender.
Muitas pessoas estão de mãos vazias no mundo e isso poderia e deveria ser tão diferente.
Há ainda tanto para ser feito e é tão difícil meu rapaz.
Que todos ansiassem pelo mais elevado.
Almejassem um laço assim como existe entre nós.
Então seria bem mais fácil e mais bonito, no mundo e na vida.
Mas quando houver momentos em que gostaria de dar de coração aberta, o mais lindo e o melhor que está dentro de você, então, de repente, você se encontraria de coração vazia porque perante o mundo e perante os Homens você não pode.
E assim o bonito, que o Homem tem, o dom divino mais sagrado é escondido.
E, então, não quer mais deixar aparecer e mostrar o bonito, porque em cada vida humana, uma vez, virá aquele que nunca se satisfaz com isto.
A tia sentia muita tristeza por isso, André.
‘Por isso o seu coração não estava cheio o suficiente.
E há os que sempre querem ter vantagem, querem ter mais.
Não por egoísmo; uso esta palavra de propósito, André, mas principalmente, para eles mesmo poderem dar de coração cheio.
Por isso lhe era tão difícil, porque ela dava mais do que tinha recebido.
Cada um experimentará isso uma vez na sua vida.
Uma vez só, porque Deus deposita apenas uma vez o amor sagrado nos corações das pessoas.
Um amor para sempre, eternamente.
Um o recebe mais cedo, outro mais tarde, mas há uma altura em que todos nós o ganhamos.
E se não pudéssemos confiar nisso, se não soubermos que Deus, em Sua grande bondade, nos dará este amor, seríamos profundamente infelizes, profundamente.
Assim temos na nossa vida a confiança na disposição santa de Deus, o saber, que só ele deposita amor nos nossos corações e, também, que finalmente nós carregamos aquele amor e o levamos aonde deve ser entregue.
E quando chegarmos ao lugar certo, aqueles corações se abrirão e o amor fluirá, fluirá cada vez mais rico e você verá, como se fossem as flores de Deus que Ele espalha das suas mãos; então, também verá a luz que vai ao seu encontro.
Este é o momento sagrado que Deus tem reservado para você, Homem.
Aguarde pelo seu tempo; isso vem para todos, para cada um, mais cedo ou mais tarde.
E o que é uma parte de uma vida do Homem, comparada com a eternidade?
O que são dez, vinte anos de uma vida terrena, em comparação com a eternidade?
Nada, pois!
Dê felicidade e receba felicidade que possa receber na Terra, naquele amor sagrado.
Mas saiba que no Além a vida é muito mais longa, interminavelmente longa.
Amor é o mais alto, o mais sagrado e o mais santíssimo.
Isso não quer dizer, meu rapaz, que não há nada mais sagrado que o amor?
Pode ser diferente também?
Dê amor, como a tia fazia.
Porque o amor que Deus deposita nos corações dos Homens, é o bem mais bonito e mais sagrado que podem receber.
Confie, confie na força santa de Deus, na justiça de Deus e na fé, que cada um recebe na sua vida o que Deus quer, no momento em que Ele quer.
E embora você diga, Homem, na sua mesquinhez, que acha que para você alcançou este momento, saiba que não tem noção alguma.
Porque esse momento só chega quando tiver maturidade para isso; porém virá.
Muitos estão de corações vazios na vida, muitos de corações a transbordar; estes últimos serão felizes.
E nós, no “Além”, jubilamos, como Deus ajuda vocês, Homens.
Jubilamos que Deus os ajuda para a eternidade.
Onde habita amor puro, lá há a bênção de Deus.
Não podemos jubilar então, ou será que não devemos?
Há muitas pessoas que amam e carregam neles o amor de Deus.
Isso proporciona tanta beleza à sua volta e tudo que é bonito que é puro e santo, proporciona alegria ao nosso lado.
A tia carregava este amor nela.
Homens que amam, que carregam neles o amor de Deus, não podem ser maus, porque eles levam o mundo adiante e nos ajudam também, enquanto ainda vivem na Terra.
E quando então chegar o momento que os olhos dos Homens se fecham e a luz sair deles, então não terá terminado aquele amor, é que continua a viver no “Além”.
Assim foi e assim continuará a ser e a confiança nisto deve ser-lhe um consolo.
E embora a separação demore muito, saiba então que os que o amam sempre estarão perto, os apoiando e os ajudando onde for possível.
E se todas as pessoas pudessem ver, perceberiam como estão ali com eles, suspirando.
Assim a vida vale a pena ser vivida.
É que Deus entregou a cada pessoa a sua tarefa.
A sua tarefa ainda não foi concluída, André; a dela sim.
Aqui preparam o momento da sua chegada e aos que ficam, clamo: “Não resmunguem nem reclamem, porque é a vontade de Deus”.
Amor é o mais alto, o mais alto na Terra e do nosso lado.
É que o amor é uma faísca da luz de Deus, da luz eterna, santa de Deus.
Assim ela o receberá, André, e diga que todos devem ser fortes quando ela se fôr.”
O Alcar parou de falar.
Este era o sermão para o André, que vinha direto do Além.
Isso lhe contaram os mortos.
Oh, se todos os Homens pudessem ouvi-lo, então seriam felizes como ele.
Agradeceu ao Alcar em pensamentos e devagar voltou para casa, com as palavras do Alcar no coração e gozando a Harmonia que reinava na natureza.
Estes eram os jardins de vida de Deus na Terra, onde os Homens podiam ser felizes desde que vissem em tudo o trabalho de Deus.
Então, esta magnificência seria acessível para muitos, para todos.
Aqui a sua oração subia nas alturas, ele sentiu.
Aqui tudo era puro e havia Deus em tudo.
Das palavras de Alcar os Homens podiam aprender muito e os apoiaria, desde que quisessem ouvi-las.
Ele encontrou o pai e a mãe num clima tenso e logo pensou na tia.
“Oi pai, oi mãe.”
“Oi rapaz.”
“O senhor esteve com a tia, pai?”
“Sim, ela regrediu.”
Ele pensou nas palavras de Alcar e quase não ousou dizer, mas tinha que ser.
Ele sentiu a pressão do Alcar.
“Amanhã ela falecerá, pai, e esta noite eu vigiá-la-ei.
Esta noite é a última.”
O Hendriks e a sua mulher se assustaram muito, porém se mantiveram firmes.
O André sentiu que o pai estava aflito e logo começaria a falar ; o Alcar já o avisara antes.
Ultimamente ele tomava rápido os pensamentos dos outros, mas nunca abusava disso, nem quando pudesse usá-los em favor próprio.
Então só se preparava para aquilo que havia de vir.
Assim também agora.
A mãe estava triste; ela sentia tristeza agora que a sua irmã regredia.
O André pensou: “Se pelo menos começassem a conversar, então eu poderia animá-los e apoiá-los.”
Eles não poderiam suportar como ele.
Eles não viram o Além.
Mesmo assim tinha que ser.
É que eles sabiam muito sobre a vida após a morte.
A mãe começou a chorar.
De imediato o André se levantou, foi até ela e colocou as mãos na sua cabeça.
“Sossega, mãezinha, seja forte.
Eu a magnetizarei, lhe darei força nova; assim a tensão diminuirá.”
Após alguns minutos ela também ficou mais calma.
Venha, mãe, fique calma, controle as suas lágrimas.
O que significa isso?
Então, fique firme; por que chora?
Não é bom que chore e fique triste.
Ela não ficou doente por tempo suficiente?
Você desejaria que ela continuasse aqui?
Ela não ficou, anos a fio, presa à sua cama?
Oh, mãe, você não sabe o que faz.
Você não sabe o que a morte significa.
Agora você já presenciou muito, ouviu e viu tanto e mesmo assim está deprimida e nós precisamos ajudá-la.
Fiquem fortes e ajudem a tia.
Não o torne mais difícil para ela; porque uma pessoa que passa para a outra vida é muito sensível.
Esta sensibilidade tem a ver com o falecer.
Então, muitas vezes está numa situação de meia-inconsciência.
Nesta situação o Espírito está receptivo para todas as vibrações que são lançadas a ele; portanto, mãe, o que acontece agora?
Porque se você chora, com a sua tristeza, você dificulta mais a separação da vida para ela.
Por isso peço-lhe mais uma vez: Não se desespere e não dificulte-lhe a sua partida.
Acredite-me mãe, o morrer é esplêndido.
Se você pudesse ver o que eu vejo, se para você o véu fosse levantado por um momento, como você estaria feliz comigo; estaria convencida.
Mas sei que para a senhora não é fácil, porque não pode ver.
Ela partirá ao Além e ali será feliz para a eternidade.
O Alcar me contou esta manhã.
Ela é uma alma que andou pelo caminho certo; não vagueava, mas também ela precisa se purificar, quando chegar no Além, porque uma pessoa erra, mãe, querendo ou não.
Para a senhora tudo isso deve ser uma prova.”
Agora,o André estava no meio dos seus pais e de vez em quando olhava-os fundo nos olhos.
O Pai e a mãe olhavam-no com admiração em silêncio.
Às vezes ele era que nem uma criança; às vezes ele falava mandando.
Não conheciam mais o seu próprio filho.
O André seguiu com voz alta:
“Como seria magnífico no mundo se todos os Homens soubessem; o Homem viveria melhor e não seria consumido pelas suas paixões inferiores, das quais, todavia, terá que desistir um dia.
Os Homens cuidariam melhor de si mesmos, do seu nível espiritual.
Agora se contrariam; uma pessoa provoca dor e sofrimento à outra.
E por quê, pergunto-lhe?
Porque não sabem.
Eles esquecem que, para Deus, nós todos somos irmãos e irmãs e isso permanecemos sempre.
Isso nos leva a Deus.
Se as pessoas não querem reconhecer, como deve ser e como, um dia, será, não poderão sentir a santidade disso.
É mesmo, se o mundo soubesse, se os Homens soubessem, não existiriam situações intoleráveis assim.
Então a separação não lhes seria tão dura e a ida da tia não significaria perda para vocês, mas apenas uma despedida breve, porque nós todos nos reveremos e se vivermos corretamente, como Deus quer, então, um dia, seremos felizes.
A tia é uma mulher que para muitos era um exemplo a seguir.
Ela vivia como os verdadeiros cristãos devem viver.
E isso ela sabia, mãe, porque sentia que não seria amaldiçoada.
Ela sentia porque estava aberta para o amor de Deus e até sabia que, embora se completasse a vida tão mal, Deus não amaldiçoa ninguém.
É justamente isso que me mantem fora da igreja, pai.
Deixe-nos conversar sobre isso duma vez.”
O Hendriks corou.
Este era o ponto frágil que o André mencionou; mas fez como se não percebesse nada e seguiu: “Ninguém é maldito, pai; não é isso que nos diz a nossa fé.
Maldito!
Não é horrível que isto seja apresentado ao Homem?
Acredite-me, tira a coragem de muitas pessoas para viver melhor.
Deixa-os indiferentes.
Oh, como os estudiosos cometeram um erro grave por lhes ensinarem desta forma.
É esta a imagem que fazem da Onipotência de Deus?
Você pensa que os ouvirei?
Como eu poderia, pai?
Pode você exigir isso de mim?”
O Hendriks não disse nada e o André prosseguiu:
“Pois não, isso você não pode, pai.
Até estes estudiosos espirituais não podem me levar a isso.
Maldito!
É terrível.
Não pode ser verdade; sinto, que não é verdade e você pensa que vou fingir enquanto não posso acreditar neles?
O Alcar é o meu líder espiritual e ele me ensina a verdade pura, minha nova fé.
Esta é a verdade do “Além”, esta é a verdade da qual os mortos, que não são mortos, vêm nos convencer.
Estejam sossegados.
Rezo muito, dia e noite, para os meus pacientes e também para mim mesmo, por força e apoio e isso consigo melhor fora ou dentro do meu quarto, do que entre todas as pessoas na igreja.
Ali, o Homem, que quer ser um com Deus, é distraído.
Como podem ter pensamentos assim sobre Deus, sobre Ele, que é onipotente em tudo!
Como Ele pode amaldiçoar um filho!
Não faz sentido, pai, são mentiras, não é possível.
Não chegaremos no Inferno e não seremos queimados.
Os Homens acreditam o contrário e nem isso é verdade.
Não existe um Inferno, nem um, assim dito, Purgatório; tudo isso não existe.
O Homem faz um Inferno dele mesmo e carrega nele próprio um Purgatório.
Isso é a escuridão na sua alma, porque não vive como deve.
Pode sentir um céu dentro de si, se viver com simplicidade, se rezar em humildade e se fizer apenas a vontade de Deus, então, já pode ter o Céu aqui na Terra.
Acredite-me, pai, os piores, os mais afundados ainda não serão queimados e, todavia, isso lhes é ensinado.
Isso lhes é apresentado e se porém são desviados é difícil para eles encontrar o caminho certo de novo.
O que agora é contado?
“Ah, sou mesmo mau demais; não há nada que possam fazer comigo, estou perdido;” e assim persistem nos seus pecados.
Tiraram deles o último pedacinho de esperança; não enxergam mais nenhuma saída e não têm forças para melhorar, elevar o seu nível espiritual.
Não, pai, se tivéssemos um Deus assim, se o nosso Pai Onipotente fosse assim, como seria faltoso este Onipotente?
Então, nós Homens, deveríamos ter dó de Deus.
Ninguém se perde, pai, ninguém.
Tudo o que vive continua a viver.
Um dia, todos eles serão felizes.
Esta é a nova verdade e o núcleo de tudo está em nós mesmos.
Não deve ser apenas sensação, mas deveremos atuar firme sobre nós próprios, melhorar a nós mesmos.
O nosso nível espiritual deve ser aumentado por esta esplêndida e santa verdade.
O Alcar nos dá alimento espiritual.
Mais uma vez, pai, você queria que eu fingisse indo com você à igreja?
Digo-lhe isso: não se deixe influenciar por um religioso, que nem mesmo possui a fé pura.
Segundo o Alcar, a espiritualidade está perdida na sua própria doutrina e esta se tornou fria, privada de todo calor.
São palavras bonitas, sem amor.
São feitos sermões ungentes, quais anunciam a perdição eterna.
Nisso se vê como Deus é pouco entendido.
Mas não é magnífico, pai, todo o dia nós vivenciamos, não só eu, mas vocês dois também, o falar com os mortos que vivem e estão felizes?
E todos eles, os milhões que vivem no “Além”, dizem: “Não há nenhum Inferno, não há nenhum Purgatório.”
Todos eles dizem que o Homem carrega aquele Inferno interiormente; ele carrega tudo dentro dele mesmo, ele mesmo tem tudo, porque fez de si um Inferno.
É assim.
Mas, se o Homem é mau e se quiser consertar, neste caso, Deus ajuda este Homem, porque Ele ama todos os Seus filhos, os perfeitos, bem como os imperfeitos.
Pai, não é triste que, neste século, o Homem ainda não está salvo desta doutrina, destes castigos que ele mesmo aplica a si mesmo?
Devemos então, prosseguir aceitando tudo sem refletir?
Se o senhor pensasse assim, pai, eu lhe digo isto: Do “Além” nos trazem uma verdade nova.
Devemos prosseguir em crer enquanto podemos saber puramente?
Antigamente, o senhor também pensava como aquele religioso.
Devíamos deixar os mortos descansarem; mas, felizmente, o senhor mesmo viu que vieram a nós por si mesmo.
Sim, pai, vieram por si.
E nem você, nem a mãe, tampouco eu, nenhum de nós três chamou um Espírito.
E você, então, não pode ser feliz, agora que nós mesmos recebemos as provas?
Com isso podemos prosseguir.
Pode imaginar uma graça ainda maior?
Acredite em mim à vontade pai, o amo, amo a vocês os dois e não danificarei nenhum fio de cabelo da sua cabeça velha.
Ajudá-los-ei e dividirei amor e sofrimento com vocês.
Tira este pensamento da cabeça.
Deixe o vigário dizer o que quiser.
Não faço coisas más, procuro Deus no meu próprio quarto, sozinho, ou na natureza.
Ali consigo rezar.
Ali consigo me entregar.
Ali sinto que o meu espírito sobe a Deus, assim como o do Seu filho deve fazer.
O que já tem acontecido!
Não recebeu ainda suficientes provas convincentes, ?
Todavia, nós mesmos pudemos ver como vagueiam, terrivelmente, estes religiosos.
São estes seres religiosos, pai, que suplicam a Deus, para fazer o seu país vencer na guerra.
Eles se desviaram do caminho certo e arrastam milhares consigo nos seus erros.
Cada sacerdote suplicava a Deus para que o seu país vencesse, mas Deus não deu nada; Ele deixou-os à vontade.
Eles achavam que Deus era corruptível e tentaram, com sacrifícios e orações, puxá-Lo para o seu lado.
Mas a oração que foi mandada para o Céu, em primeiro lugar, visava assassínio e, em segundo lugar, estava cheia de amor próprio.
Todos eram por si mesmo deuses, que quiseram tornar a eles mesmos, um Deus.
Oh, que desvio, pai, é horrível.
Pudemos ver, recentemente, como eram benzidos todos os automóveis que andavam juntos no cortejo.
O coração dói quando se deve ver algo assim.
Se mantém calmo se conseguir, ao ver uma coisa dessa.
Digo-lhe, pai, é zombar com as leis Divinas, com o próprio Deus.
Devem ser benzidas, coisas materiais, contra acidentes?
Deixa o Homem suplicar, por ele mesmo, a bênção.
A Sua própria alma é que mais necessita.
E o que era o efeito daquela bênção?
Apesar disso, aconteceram acidentes e não podia ser diferente, porque era um acontecimento físico.
E por trás das nuvens, bem aqui à nossa frente, acima, milhares e, mais uma vez, milhares de inteligências olhavam, aqueles que impediam este acontecimento frio, para que esta zombaria não alcançasse as Esferas.
Mas Deus vê tudo e sabe tudo.
Assim, Deus sabe que isso é zombar com Ele, é que Ele não abençoa automóveis; Homens sim, que Lhe suplicam para serem abençoados.
Assim Deus sabe tudo, também que estas pessoas se desviam do caminho.
A fé em que fui criado não me dá satisfação, pai, e agora sei melhor.
E jubila em mim porque agora consigo esclarecer tudo tão bem.
O núcleo de todas as religião é o mesmo.
Se pelo menos o Homem quiser o Bem, o que tem a ver se ele é Judeu, Cristão ou Muçulmano?
Todos estes caminhos levam a um fim: o Além.
Os Homens dizem: “Então veremos quem está com a razão,” mas digo-lhes que todos têm razão se seguirem o caminho certo e procurarem por Deus em simplicidade e respeito.
Se os Cristãos realmente seguissem a doutrina de Cristo, agiriam com mais amor ao seu próximo.
A doutrina que fizeram em torno do Grande Exemplo, está morta e dura; tornou-se um culto de formas.
Neste momento, Homens mandam os seus irmãos para a guerra; se eles fossem Cristãos de verdade, não matariam.
Pai, não lhe quero deixar triste.
Mantém a sua fé, mas eu profetizo que antes de passarem dois anos, o senhor será espiritualista comigo.
Então, nós mesmos faremos cultos que serão puros e livres do amor próprio e do egoísmo.
Amo todas as pessoas, porque são filhas de Deus.
E se viesse mais uma guerra, pai, não iria junto.
É preferível eu mesmo receber a bala do que tirar a vida de outros.
Assim irei ao Alcar, ao Além, que é mais lindo do que toda a beleza na Terra e de mais valor que todos os tesouros terrenos.
Nós não acreditamos, porém nós sabemos.
Estamos em ligação com a eternidade, fazemos parte do Universo e continuamos a fazer parte disso, também quando não mais vivermos a nossa vida terrena.
Isso, na sua fé, não lhe é dado, pai, este saber, este vivenciar em comunhão com os que vivem no “Além”.
Existe uma língua, pai, que qualquer um entende, é a linguagem do amor.
A língua do amor, a língua de Deus, pode ser entendida por todos os que querem entender.
Aquela linguagem interior, aquela faísca da luz Divina que há em cada um de nós, unirá a Humanidade toda.
Esta parte do Fogo Divino nos levará a Deus, se quisermos ser filhos Dele e se quisermos ser abençoados por Ele.
Precisamos tentar, já na Terra, a viver como irmãos e irmãs, seja qual for a nossa convicção.
Estar em harmonia com tudo, estar em união com tudo que vive, esta é a vontade de Deus.
Não poderá existir mais ódio, porque todos quererão o Bem.
E cheios dessas boas intenções todos receberemos o mais elevado.
O que é que já nos presentearam, pai, por várias confissões religiosas.
Ultimamente tive uma conversa com um senhor que me perguntou se eu conhecia a Bíblia.
Respondi: “Não,” então ele disse: “Eu sim.”
Durante a nossa conversa ele expressou a convicção que, quando um dia morresse, chegaria com Cristo no Paraíso, visto que Cristo mesmo disse ao assassino na cruz: “Hoje você estará comigo no Paraíso.”
É que isso diz tudo!
Perguntei-lhe: Então você pensa que, quando deixar a Terra, chegará na Esfera de Cristo?, porque Paraíso significa Esfera?
Cristo tem o Seu Paraíso e isso é a Sua esfera.
Esta é a Sua esfera, não é?”
“Sim,” era a resposta, “de certeza absoluta.”
“Isso você pensa?” questionei-lhe de novo.
“Sim, senhor, isso eu penso e isto eu sei.”
Saiu da boca dele provocante.
Pedi para que ele não ficasse bravo, porque não era necessário.
“Mas,” eu disse, “não penso assim sobre isso, senhor.
Quero fazer tudo como se deve fazer, como é suposto.
E venho com amor verdadeiro e não com amor próprio.
Não quero mentir para Homem algum ou enganar ninguém, ainda menos prejudicar.
Quero dar amor, o quanto que eu puder.
Com isso quero lhe dizer, senhor, que quero viver corretamente.
Quero ser um Homem simples, um filho que ama a Deus em simplicidade.
E, quando, um dia então, eu morrer, apesar de tudo não chegarei na Esfera de Cristo.
Nós viemos à Terra afinal para aprender.
Espero sim, possuir alguma luz, que já significa felicidade no Além.”
“Oh, não,” ele disse, “Eu vou ao Paraíso.”
Ainda perguntei-lhe se estava em união com Cristo.
Hesitou um pouco, então respondeu que não podia responder a esta pergunta.
Fui embora, pai.
Com Homens que estão cheios de amor próprio, presunção e idolatria não se pode argumentar.
Nós, pobres Homenzinhos materiais, poderíamos estar em união com Cristo?
Nós que estamos ainda cheios de erros, cheios de fraquezas humanas, mesquinhos e materializados, nós quereríamos nos comparar a Ele?
Oh, como estas almas pensam pouco sobre o Filho perfeito de Deus.
Todavia, é uma prova clara que não entendem a doutrina de Cristo.
Os Homens que têm esses conceitos não sabem que estão cheios de orgulho, porque querem comparar-se com o Filho de Deus, o Seu Filho perfeito.
Nada, a não ser idolatria, pai.
O Cristo é um oceano e nós somos gotas de água em comparação a Ele.
Esquecemos que estamos na Terra para aprender.
O Cristo veio para nos ensinar; nós, ao contrário, estamos na Terra para purificar-nos dos nossos erros.
E porque, na nossa passagem para o Além, não poderemos chegar ao Paraíso, pai?
Porque nenhum Homem, entenda-me bem, nenhuma pessoa que vive na Terra, tem sintonia com o Paraíso de Cristo, ou Esfera.
Não poderíamos nem suportar a luz que Ele irradia e ficaríamos encandeados se Ele aparecesse de noite diante de nós.
E vi esta luz na minha primeira viagem com o Alcar às Esferas.
Isso era poderoso e santo, pai.
Oh, Homem, não voe alto e não imagine demais.
A sua deceção será demasiado grande quando tiver deixado a Terra e alcançado o Além.
Ali, só o seu bem espiritual tem valor, aquilo que carrega no seu interior.
“Mas,” questionam estas pessoas, “e todos os nossos homens famosos?”
Deixem eles pesquisar, então, mais tarde, experimentarão que muitos homens famosos estão infelizes se eles, aqui na Terra, na sua idolatria, nos deram exemplos errados.
Digo-lhe, pai, um Homem precisa de centenas de anos para se desenvolver.
Só então, se amarmos a Deus, se fôr da nossa própria vontade, aos poucos nos tornamos Homens no sentido verdadeiro da palavra.
No “Além” continuaremos no caminho da perfeição.
Na Terra não é possível alcançar um nível desta altura, para isso esta vida é curta demais.
E o que diz, ter sabedoria e conhecimento terreno quando esquecem do espiritual, ou tentam enganar a si mesmos que não existe, que não faz parte da Direção de Deus.
Se estes estudiosos, estes Homens de raciocínio, imaginem que possuem a alta luz que um Cristo possui, então, digo lhe pai, que eles se desviam do caminho.
Estas pessoas idolatram e isso traz lhes grande sofrimento, que só sentirão a sua dimensão quando largarem a veste física.
Que deceção profunda experimentarão, quando perceberem que não estão na Esfera de Cristo, mas que os levaram a uma Esfera que é tão fria, egoísta e sem amor, como a sua doutrina.
Aquilo, em que estão sintonizados interiormente, assim será a sua Esfera.
É amor próprio que estas pessoas têm, nada além de imaginação e deslumbramento por eles mesmos e por outros.
Você sabe o que significa estar em união com o Filho perfeito de Deus?
O que somos em comparação a Ele?
Não, pai, não aceito.
Eu não poderia aceitar, porque sinto, interiormente, que isso não existe.
Algo lindo assim não podemos esperar como Homens após a nossa partida da Terra física.
Os que crêem nisso, porque Homens estudiosos lhes apresentam, eles e aqueles estudiosos se desviaram.
E a sua dor e o seu sofrimento serão enormes.
Eles constroem à sua volta um rochedo que não existe.
Eles se colocam num pedestal e quando Deus tira este pedestal debaixo deles, não podem mais se manter e caem para baixo e se machucam ou são esmagados pelo seu amor próprio, idolatria e alucinações.
Muitos estudiosos que andavam no caminho espiritual, estão profundamente infelizes na vida após a morte, porque a sua doutrina estava privada de todo o calor e amor.
Experimentámos isso da última vez na nossa sessão, pai.
Os Espíritos que vieram até nós, não eram Homens dos altos círculos da sociedade e estes estudiosos não levaram com eles milhares pelo seu caminho?
E, todavia, não foram estes desviados no caminho?
Falo a verdade, não é?
O senhor presenciou isso.
Não é lógico então, que nós, da Terra, não chegaremos na Esfera de Jesus?
Porém, eles acham que sim e por isso queria clamar-lhes: Examinem-se e conheçam-se a si mesmos; assim verão que não possuem esta força espiritual.
Deixem-se flagelar e crucificar diante de nós e verão que o Céu não se abrirá.
Nenhumas nuvens escuras escurecerão o sol e a Terra não rachará; tudo continuará como está, nada mudará com a sua morte, porque tudo em vocês é material.
Deus vê isso, mas deixa, porque vocês são apenas humanos.
Porque são Homens com erros como nós, e não divindades com força espiritual.”
Os que pensam recebê-la, serão todos cegos pelos que acham saber, mas o seu saber nada mais é que sabedoria terrena, pensamentos próprios que são desprovidos de sentimento espiritual.
Deixem que eles nos mostrem provas e mostrem quem são.
O Cristo não retornará à Terra porque, após todas aquelas centenas de anos, ainda não é entendido.
Quando entenderem as Suas palavras, só então os Homens agirão segundo o Seu espírito e retornarão a Ele e a Deus de Quem, no seu erro já se desviaram há tanto tempo.
Eles se esquivam dos caminhos de Deus, como o líder contou no Além, mas devem viver como Ele quer.
Só então estarão prontos a serem filhos de Deus, assim como devemos ser, sem presunção ou amor próprio.
Também há pessoas que pensam que Cristo fala através delas.
Assim tão afastado já alguns chegaram na Terra.
Mas, no Além acham isso um sacrilégio.
Estas pessoas não falam mais em nome de Deus, como afirmam, com a voz do próprio Cristo.
Estas pessoas estão no caminho espiritual, mas elas idolatram.
Elas abusam da força de Cristo e caminham à frente de si mesmo.
O Waldorf vivenciou isso.
Contar-lhes-ei isto, assim poderá ver como nossas orações são ouvidas e como no “Além” atuam para nos ajudar.
O Waldorf servia de instrumento e precisou fazer este trabalho espiritual.
Ele me contou tudo, também o Alcar precisou ajudá-lo.
Foi horrível, ele contou, mas ficou forte com isso e aprendeu como precisava rezar e como precisava amar sem interesses próprios.
Não pude contar antes, porque não teria entendido.
O Waldorf era o médium para o Alcar e os seus amigos, o que lhe foi contado apenas quando tudo passou.
Ele serviu de instrumento para o mundo superior.
Uma vez ele foi posto em contato com um senhor, um homem bom e gentil.
Ele rezou muito e intensamente e suplicou a Deus por força; há tempo pedia nas suas orações por sabedoria, força e amor.
Ele era muito sensitivo e foi ajudado por inspiração.
Recebia muitos versos e escritas e estava muito feliz com isso.
Mas sem demora, acabou por ir longe demais.
Muitas pessoas à sua volta aceitavam tudo dele, porque assim eles raciocinavam, ele era uma pessoa extremamente religiosa e em tudo colocava o seu amor em Deus.
Se ele tivesse a luz, poderia ficar acima de tudo e como ele pensava em possui-la realmente, apesar de que nada mais era do que presunção, todos os outros eram ofuscados com ele.
Assim ele teria prosseguido, como tantos na Terra, se ele não tivesse suplicado a Deus para faze-lo conhecer a verdade.
Ele rezava intensamente pela verdade, e Deus a entregar-lhe através dos seus enviados, que trabalhavam por meio de um instrumento terreno.
Assim mostraram-lhe a verdade e Waldorf foi ligado a ele.
Depois disso, os líderes espirituais de Waldorf começaram a ajuda-lo.
No início recebia mensagens pequenas, depois maiores, que ficaram cada vez mais bonitas, tudo para aumentar a sua vaidade.
E gradualmente ele se julgava tão alto que achava ser infalível.
As mensagens escritas, recebidas por ele, referentes a sua situação espiritual tornavam-se cada vez mais sublimes e aos poucos construiu-se um rochedo, até aquele rochedo se tornar um pedestal.
Foi mais longe e finalmente chegou a ponto de julgar que não era mais liderado por espíritos, mas pelo próprio Cristo.
Mas nem isso foi o suficiente ainda.
Ele imaginou que agora estava tão desenvolvido que Cristo falava através dele e agora a sua vaidade chegara ao cúmulo.
Porém, isso lhe seria fatal.
O que aconteceu então?
De repente Waldorf recebeu uma escrita sobre sabedoria, força e amor e isso devia lhe enviar.
O Waldorf não sabia até então, com que forças ele lidava, para quem trabalhava e qual era o seu propósito.
Sabia sim, que servia de instrumento para o Além.
Logo retornou a notícia daquele senhor, que expressou a sua admiração sobre as notícias bem recebidas.
“Imagine,” assim ele escreveu, “tudo está correto.
Rezei há anos por sabedoria, força e amor, e agora me são dados pela sua intervenção, sem que você soubesse que rezei por isso.”
Isso não podia ser coincidência, pai, porque na Terra ninguém sabia.
A sua prece foi atendida e, para ele, isso foi uma prova muito grande, pelo que estava mais do que feliz.
O propósito disso tudo, foi mostrar-lhe que poderes invisíveis conheciam a sua situação interior de alma; mas não ficou por isso.
As mensagens que Waldorf recebia, tornaram-se cada vez mais fortes.
Porém, agora não mais a favor de terceiros; ao contrário, foi lhe apontado que descesse do seu pedestal.
Agora teve a verdade pela qual ele tinha rezado.
Mas ele não se queria desviar.
Continuava no rochedo que ele mesmo construira.
Então veio a luta, a batalha espiritual, pai, e ele foi ferido, o que lhe fez contrair o coração.
Todos que estavam à sua volta se preocupavam muito com ele.
Uma notícia seguia a outra, tudo se revelava.
Mesmo assim, não queria entender que tudo isso lhe era dado porque pedia intensamente pela verdade, que lhe foi entregue por caminhos terrenos.
Mesmo assim, manteve-se irredutível e não queria descer.
O Waldorf teve uma notícia que ia contra tudo, mas isso o destemido não queria aceitar.
Ele ficou furioso e mandou ao Waldorf uma escrita que, como comunicou, ele mesmo tinha recebido do “Além”.
O Waldorf devia senti-la e lê-la e assim entenderia qual o carimbo que estava nele impresso.
O Waldorf a segurou nas mãos e ficou nervoso, para ele era o sinal que não estava puro.
Pela influência superior fica-se calmo, pai, e se sente feliz; a influência que saía desta escrita, ora, não se encontrava a esse alto nível.
Continha as seguintes palavras:
“Homens, líderes e espíritos, agora chega, agora acabou.
A minha vontade, as minhas ordens, agora devem ser obedecidas.
O meu filho não aguenta mais isso; Você atacou o Meu filho agora o suficiente.
Pare com a sua escrita, nada está bem.
Os líderes não sabem que Eu estou aqui com o Meu filho.
Ele falará com a Minha voz e Eu desejo que escute.
Todas as ordens que lhe dou você deverá obedecer.
Tenham cuidado e não vá longe demais.”
Mais ainda continha esta escrita.
O Waldorf teve notícia logo em seguida que precisava parar de vir até ele.
Isto lhe foi comunicado pelos seus líderes.
Da primeira escrita constava claramente que os líderes mais altos sabiam porque o Homem pedia.
Mas quando teve uma escrita que devia levá-lo de volta, que lhe dizia que as suas inspirações não prestavam, então não havia nada, mas nada mesmo que os líderes do Waldorf – e não Cristo – lhe deram.
A sua escrita era lhe dada por Cristo e ninguém podia com isso, todavia, Ele estava acima de tudo.
Ele era um instrumento, pelo qual o próprio Cristo falava e de Waldorf e os seus líderes não aceitava mais nada, porque Waldorf, com a sua sabedoria terrena estava muito abaixo dele.
Como então o Waldorf podia lhe contar o que devia fazer.
Isso ele não aceitava e então não entendia que tinha voado alto demais, já que construía para ele um rochedo que era pulverizado no caminho espiritual pela menor tempestade que lhe sinistrava.
Não queria descer, porque assim, todos os amigos que tinha levado sob a sua influência, deveria liberar e não tinha coragem para esta humilhação.
Ele que estava em união com Cristo, estava tão fraco que não podia suportar a verdade espiritual.
Tudo que pedia, tudo que escrevia eram os seus próprios pensamentos.
Mas, porque suplicava intensamente pela verdade, esta foi lhe dada.
Isto me diz, pai, que foi a ajuda espiritual do “Além” que o levou à verdade.”
Agora, de repente, o André entrou em transe e o Alcar seguiu através dele:
“Não falava de quase todos os seus pedidos, a minúscula divindade humana que se tinha envolta na sua própria auréola?
Não é como se estas pessoas pensassem ser infalíveis, enquanto estão tão cheias de falhas humanas?
Então, não é verdade que não querem descer do pedestal onde elas próprias têm se colocado?
E quase todas as palavras de desespero e dúvida não são o efeito de subir no pedestal criado por si mesmo?
Enquanto estas pessoas se elevam à sua divindade própria e nesta dignidade se colocam em pedestais, não poderão ajoelhar humildemente e também não lhes será possível ver Deus acima e através de tudo.
E só isso é a primeira exigência: sentir a onipresença de Deus, a aproximação de Deus, de ver os caminhos de Deus.
Mas o caminho a Ele passa por deceções, já que repetidamente se tropeçará e o maior tombo será o tombo do seu próprio pedestal.
E estas deceções são jubiladas no “Além” porque, quando tiver bem entendido e também sentido realmente bem esta deceção, de fato chegou-se a adiantar mais um passo no caminho que Deus nos indica.
Homens, sejam finalmente filhos de Deus.
Sinta, apesar da sua superioridade, finalmente e de vez que são apenas pózinhos insignificantes.
Homem, tire a coroa da sua cabeça, que você mesmo colocou, curve-se profundamente e permita a Deus um momento de confiança; só então saberá quão pequeno, lamentávelmente pequeno, você é na verdade.
Estas palavras dirijo também a eles que duvidam do espiritismo.
Mais, não precisam saber.
Mas diga também ao André: ele me entenderá.
É tão simples, mas o Homem não procura por Deus, mas, em primeiro lugar, por si mesmo.
E embora não querendo saber, todavia procura a si mesmo.
E embora ele também pense que só quer procurar a Deus, todavia, infelizmente, ele volta a procurar muitas vezes a si mesmo, já que se acha infalível, não é?
Mas, finalmente, verá a luz, a eterna luz infinita e o amor de Deus o ajudará a encontrar o caminho certo.
E embora este caminho passe muitas vezes por espinhos e embora muitas vezes se torne escuro à sua volta, aquele que almeja, um dia, verá a eterna santa Luz das luzes.
Deus abençoe o seu trabalho.
Como é magnífico dizer isso a vocês.
Tomei a fala do André, porque quero mostrar-lhes que estou com ele e o ajudo em tudo.
Tudo, que ele lhes contou é a verdade.”
O André voltou ao seu corpo e seguiu:
“Por isso os espíritos vieram a nós, pai; para revelar-nos o único caminho que leva a Deus.
Por isso o espiritualismo é uma causa santa.
Esta é minha nova fé.
Por que lhe conto tudo isso, pai?
Porque a igreja não pode me dar isso, porém a ajuda espiritual do “Além” sim.
Espíritos vêem quem e o que é Cristo quando estão nas Esferas superiores, mas uma pessoa que ainda vive na Terra, simplesmente não poderá ter esta sintonização, muito menos estar em união com Cristo.
O que este Homem pensava?
Imaginava ser o único filho de Cristo.
Deus não ama, com Cristo a nós todos?
Era ele o filho único?
Cristo morreu só por ele?
Não, pai, isso vai longe demais.
Era amor próprio e idolatria que lhe influenciava.
Ele deveria ter sido mais forte, infinitamente mais forte, para não ser machucado; se ele na verdade tivesse possuído esta força, não teria caído.
Os nossos próprios sentimentos, a nossa própria intuição nos diz que não pode ser assim e quanto mal nasce daquilo.
Neste caso podemos ver quais são as consequências quando alguém esta tão cego, não só para ele mesmo, mas também para todos os que o seguem.”
O André conversou durante duas horas com o pai e a mãe.
A mãe chorou novamente, não mais de tristeza pela partida para o Além da sua irmã, mas porque o seu filho falou como nunca falara antes.
Era este o seu rapaz?
Oh, como era possível!
O Hendriks estava a olhar, muito silencioso.
Então olhou para o André e disse: “Meu rapaz, siga o seu próprio caminho, como é lhe foi dito, já que nós não podemos mais ajuda-lo; sinto que tem razão.
O Alcar conversou connosco o que nos fez bem.”
O André se aproximou do seu pai, colocou as suas mãos na sua cabeça e o apertou, cheio de amor, contra si.
Ele estava muito feliz com esta aprovação.
“Agradeço-lhe, pai.
Também a tia chegará lá onde o Alcar e todos os líderes, que sempre nos ajudam, estão agora.
Estou tão feliz que neste dia nós nos pudemos entender.
Mas agora chega; mais tarde, falaremos sobre isso de novo.
Vão os dois ter um pouco com a tia; assim eu fico em casa, porque esta noite vigiá-la-ei.
Na manhã ela passará para o Além e então poderei ver como ela nós antecede para a “Vida Eterna”.
Tenha coragem e esteja firme, já que nós, como é do nosso conhecimento, carregamos a perda com resignação.
Não queiramos dificultar a sua partida.
Ela entrará pelo portão, o portão o “Além” e ela não será impedida.
E ela será linda, pai, jovem e imaculada.
Isto nos é reservado para todos nós, se quisermos nos aproximar Dele em simplicidade, como os Seus filhos.”
O pai e a mãe foram embora.
“O que você acha agora do rapaz, Marie?
Não era mais ele que falava connosco.
De onde ele tira toda aquela sabedoria?
Na verdade, estou impressionado e podemos agradecer a Deus por ele poder fazer este trabalho.”
Ambos estavam agora firmemente convictos, que nada além do Bem fazia parte dele.
Como ele falara, como ele explicou tudo tão claro!
O André ficou só e foi ao seu quarto.
Ele queria muito ficar só, só com o Alcar, que ele ouvira logo.
“Agradece a Deus por uma graça dessa, André, e reze para que possamos sempre receber a força para convencer a todos.
Tente sempre se aproximar de Deus em simplicidade.
Durante a conversa tomei posse de você; você sabe como eu faço.
Se deixe levar sempre assim e fique sempre disponível para mim, mas preste bem atenção aquilo que lhe trazemos.
Preste bem atenção a todas as vozes que você ouvir.
A voz mais profunda faz-lhe ouvir a verdade; todas as outras estão erradas.
Ajudá-lo-emos em tudo; não nos feche sobre pensamentos próprios e o saber próprio.
Neste caso não poderíamos alcança-lo mais, porque as nossas vozes não seriam ouvidas.
E assim, arrastaria a sua própria voz do caminho certo: morro abaixo.
Reze, reze muito; sempre mais.
Suplique por simplicidade e a força para poder fazer o Bem.
Tudo por Deus, porque é Ele que quer.”
O Alcar partiu.
Quando o pai e a mãe voltaram, o André desceu.
“O médico esteve com a tia agora há pouco, André,” contou o pai, “e disse que receia o pior.”
O André, que vigiaria a tia, à noite, combinou com os seus pais que, de manhã às cinco horas, viriam com ele, já que o Alcar lhe participou que ela passaria perto das sete horas.
“Veremos se acontece, pai, mas se o Alcar diz, precisamos acreditar.”
“Bem, André, nós iremos.”
O André passou a noite desenhando.
O Alcar, novamente fez uma peça linda e chamou-a: “Entre”.
Também a tia entraria.
Logo ela entraria no Além por este portão.
Referia-se à sua força interior.
Então, como ela deve estar rica, interiormente!
O portão era uma beleza só de flores, de cores magníficas.
Se olhasse através do portão se via ao longe uma paisagem maravilhosa que se cobria de inúmeras cores lindas.
Num morro havia um templo e antes daquele Templo via-se uma cruz, qual, como símbolo de Cristo, barrava a entrada e era como se fosse perguntar à falecida: “Você está pronta para entrar aqui?”
A tia estaria pronta sim para entrar e não seria impedida pelos raios reluzentes que a cruz emanava.
Ela poderia suportar esta luz.
Como o Alcar estava cheio de amor por ele, para mostrar-lhe tudo em imagens.
Ele entendeu este desenho e sentiu o que o seu líder queria dizer com isso.
O pai ainda foi ver, um pouco, a tia e perguntou-lhe como estava passando.
“Nada bem, rapaz, ela está sem ar e respira pesadamente.”
“Eu a ajudarei, pai; lhe fará bem.”
Ele desejou uma boa noite aos seus pais e se afastou.
Primeiro deu um bom passeio, porque queria estar refrescado à noite.
Perto da meia noite tocou a campaínha e a enfermeira o deixou entrar, que cuidava da tia.
“Como está a tia, irmã?”
“Está igual, nada bem.
O médico esteve aqui há pouco.
Se piorar precisaremos chamá-lo imediatamente.”
O André foi ao quarto onde a tia estava acamada.
Ela estava em repouso profundo; os olhos estavam cerrados e as mãos dobradas.
Ela reza com certeza, pensou.
Como a pobre mulher sofreu!
E mesmo assim queriam mantê-la, apesar de já estar acamada há alguns anos.
Mas agora Deus a tomava para Si.
Como a morte, na verdade, era magnífica, que a libertava de todo o sofrimento.
Se as pessoas pudessem ver isso, não estariam com medo e não mais teriam angústia para morrer.
Mas também não tomavam mais a vida, porque perceberiam que não podem tomar a vida, porque o espírito prossegue pela eternidade no lado além do túmulo.
O André foi à moribunda e magnetizou-a por algum tempo o que, evidentemente, lhe fez bem, porque ela abriu os seus olhos e o olhou.
Ela sorriu, para lhe mostrar que apreciava o tratamento.
Depois tomou lugar na frente dela, aguardando o que aconteceria.
Algumas horas se passaram em sossego.
Ele já viu o Alcar que o fez saber que precisava prestar muita atenção.
O quarto estava iluminado de vermelho-suave e sentiu uma influência que lhe disse que aqui realmente algo estava para acontecer.
A doente ficou irrequieta e ele foi ter com ela.
Ela mantinha os olhos fechados.
Novamente colocou as mãos na sua cabeça, o que a acalmava após alguns instantes.
Mas um som pesado, escarrado, logo vinha do seu peito e parecia quase impossível que ainda conseguisse respirar.
O André sentiu que tinha febre alta, mas após o tratamento a temperatura baixou ligeiramente.
A irmã quis saber como pôde conseguir este resultado e ele contou-lhe o que fez.
Já tinha falado mais vezes com ela e sabia algo destes fenômenos.
Venha sentar comigo, irmã, então lhe contarei o que vejo e a farei vivenciar como uma pessoa passa para a Vida Eterna.”
Agora ele viu claramente, atrás da cama, duas pessoas e o Alcar contou-lhe que eram o pai e a mãe dela que vinham buscá-la.
A irmã não viu nada, mas ela escutou com toda a atenção o que André lhe participou murmurando.
Ele viu, que ambos os espíritos, a toda hora, olhavam para trás, como se tivessem à espera de alguém.
Novamente disse Alcar: “Preste atenção, André.”
Alguns minutos depois ele viu aparecer mais quatro Espíritos.
Dois deles eram um pouco mais novos que os outros.
Ele constatou uma forte semelhança familiar entre estas inteligências mais novas.
“Agora vejo seis espíritos, irmã, dos quais, provavelmente os mais novos são o seu irmão e a sua irmã.
Eles eram gémeos, morreram muito novos e seriam agora mais ou menos da minha idade.
O terceiro, dos quatro que chegaram por último, é grande e forte; o quarto também eu não conheço.”
O André se concentrou para poder continuar a ver bem.
Depois que todos saíram de perto da cama, um, dos que chegaram por último, começou a dar passes longos sobre o corpo da tia, das pernas à cabeça.
O André contou à irmã como acontecia; ela achou isso muito estranho.
Depois desse tratamento ter demorado mais ou menos quinze minutos, ouviu o Alcar dizer: “André, você viu aquele espírito?”
“Sim, Alcar,” ele respondeu.
“Dê atenção a tudo que faz, já que é ele que precisa cuidar da passagem da tia; é um médico espiritual que fará este trabalho.
Ele sabe como os moribundos precisam ser resgatados e libertos do seu corpo físico.
Na tia ele aplica estes passes três vezes, mas às vezes é necessário aplicar mais.
Isso tem a ver com a situação espiritual de quem passa.
Muitos não são fáceis de libertar; isso tem a ver com a sua vida espiritual e da maneira que amaram Deus.
Para os que amaram fortemente a matéria, que ansiavam pelos bens materiais e não conseguem largá-los, a batalha, que lhe chamam de batalha mortal, será muito pesada, porque não se quiseram encontrar com Deus na sua vida terrena.
Para eles, estes passes, talvez, precisem ser repetidos de dez a vinte vezes.
É uma situação horrível quando o médico espiritual precisa fazer o seu trabalho com uma alma assim.
Com a tia acontecerá três vezes, André, um sinal que na sua passagem não haverá luta.
Agora ele partiu por um breve momento, já que não só a tia, mas muitos passarão esta noite.
Assim, cada um no Além tem uma tarefa a fazer, que quer cumprir cheio de amor.
Este médico espiritual sabe mais que os seus colegas terrenos, porque aqui fica diante de muitos casos que, com a sua força espiritual, deve sentir e constatar com nitidez, para poder auxiliar o Homem que passa.
Agora ele vai visitar outros moribundos.
É o seu trabalho suavizar o choque que o espírito recebe ao deixar o corpo e a dar apoio aos recém-nascidos, antes deles entrarem na Vida Eterna.
Não pense que é assim tão simples fazer um Espírito entrar nas esferas, para sempre.
O médico precisa cuidar de tudo; em primeiro lugar, do rompimento do cordão fluídico.
Se isso fôr executado de maneira correta, ao chegar, o Espírito não experimentará nenhum efeito negativo.
Tudo tem que acontecer no tempo certo, nem demasiado cedo nem demasiado tarde.
Disso o médico espiritual deve estar completamente a par.
Ele faz os seus cálculos segundo a radiação do moribundo, na qual a sua situação espiritual se espelhar.
Nisso, ele pode ver nitidamente o que deve fazer e quantas vezes precisa repetir os passes.
Este médico, um dia viveu na Terra e se retornasse novamente, a Terra seria abençoada, porque no “Além” aprendeu indiscritivelmente imenso.
Agora você pode perceber como é terrível quando, de repente, o Espírito é arrancado do corpo, como, por exemplo, num acidente.
Nesse caso, é muito rápido e o choque é demais.
Muitos, que chegam aqui desta maneira, continuam inconscientes por muito tempo.
Isto também tem a ver com a sua situação espiritual no momento que passam.
Na Terra não se pensa em todas estas possibilidades.
A passagem é o nascimento do Espírito nas Esferas, assim como a criança nasce na Terra.
Mas o Espírito precisa de mais ajuda, no seu nascimento, do que a criança.
O médico espiritual precisa de todas as suas forças para isso e usa também as de outros, para resgatar os moribundos.
Também os pensamentos dos que ficam, podem ajudar para que se libertam mais facilmente do seu corpo.”
O André contava tudo o que ouvia do Alcar à irmã que se interessava muito por isso.
Agora você precisa prestar atenção, irmã, logo a tia se tornará irrequieta, é que vejo a sua mãe ao pé da cama.
Ela se concentra firme na agonizante e a tia sentirá os seus pensamentos e os absorverá.
Isso acontece muito com os que passam.
Eu conto-lhe isso antes irmã, porque julgo que sei o que vai acontecer.
Muitos que morrem clamam pelos familiares, que foram antes deles.
Pensam então que deliram, mas isso não fazem não; eles vêem efetivamente, com os olhos espirituais, os seus queridos diante deles.
Vê, a tia já está agitada e agora vejo outros Espíritos perto da cabeceira da cama.
Num dado momento o André e também a irmã ouviram-na clamar baixo: “Mãe, mãe, oh, me ajude.”
Falando, ela se levantara um pouco, mas depois tornou a cair nos travesseiros.
Veja, irmã, estou feliz que pude contar-lhe antes, quando a tia ainda estava calma.
Agora ela viu a sua mãe.
Eu já lhe contei, que a minha avó tentou se fazer visível para ela, através do contato entre ambas, portanto, ela conseguiu.”
Durante mais ou menos uma hora, a respiração da doente se tornara muito difícil e a situação ficou cada vez pior.
O médico espiritual voltou e assim como da primeira vez, aplicou os passes magnéticos sobre ela.
Após este tratamento, olhou por algum tempo a parte de cima do seu estômago.
Alcar disse: “Este é o lugar onde o Espírito, desamarrado do corpo físico, é solto.
Nós o chamamos de célula da vida e o cordão, pelo que o Espírito está ligado ao corpo, é o fio da vida, como já lhe contei antes.
Aquele lugar, na Terra, é chamado de plexo solar.
Aí começa a separação.
O médico examina esse lugar e à medida que enfraquece a luz da vida, ele determina quanto tempo ainda pode durar.
Esta luz torna-se fraca, e mais fraca, mas depois, quando o Espírito estiver solto do corpo material, tornar-se-á totalmente visível.
Agora vejo claramente que a tia passará as sete horas; vejo acontecer.”
Agora são três horas de manhã; a moribunda tinha ainda quatro horas de vida na Terra.
Tudo isso André contou à irmã; ela então, poderia ver se assim aconteceria.
A doente ainda estava inconsciente e o André perguntou ao Alcar se podia, também, fazer alguma coisa.
“Não se preocupe, meu rapaz, ela ainda voltará uma vez à consciência.
Também isso vejo e posso constatar antes.
A grande alegria por ver a sua mãe – que não era delírio, mas que viu realmente – deixou-a impotente, porque o corpo não resiste mais às grandes emoções que ela sentira.
As consequências disso você já viu.”
A irmã perguntou se não precisava avisar o médico, mas o André disse que ainda não era preciso, porque dali a pouco acordaria novamente.
“Não podemos fazer nada por enquanto, irmã, porque recebi a notícia do “Além” que ela de novo voltará a si.
Portanto, poderemos aguardar o que acontecerá.”
Devagar, a noite se arrastou e a doente acordou perto das cinco e meia da manhã.
“Você vê, irmã, que tudo se cumpre?
Foi me comunicado pelo meu líder, senão, nem poderia saber.
Como os Espíritos sabem tanto, não acha também, irmã?”
O pai e a mãe, agora também chegaram e o André, precisou ajudar primeiro a sua mãe, é que, senão, grande emoção a tomaria.
O médico foi avisado e logo chegou.
O Alcar disse ao André que, durante o exame do médico, devia fazer um breve passeio; havia tempo suficiente para isso.
Então, ele estaria refrescado e poderia concentrar-se bem, quando o grande acontecimento tomava o seu início.
Então ele foi para fora e o ar fresco da manhã lhe fez bem.
O passeio demorou meia hora e totalmente refrescado, entrou.
O médico estava conversando com os seus pais e a irmã e ele sentiu que a irmã contou-lhes algo, daquilo que ela conviveu.
Ele tomou lugar, novamente, no seu cantinho, em frente à cama.
A doente agora ficou muito agitada, porque o médico espiritual estava ocupado com ela, novamente; pela terceira vez.
Agora, o grande processo seria consumado aos poucos e a tia passaria.
O André estava tenso; eram seis e quinze e a tia ainda vivia.
Via claramente em volta da sua cama, uma nuvem cinza que tornava se cada vez mais branca.
A moribunda estava envolvida numa nuvem, todos os espíritos ainda estavam presentes e olhavam tensos para ela.
Não só do lado terreno havia tensão, do lado dos Espíritos ela era maior ainda.
O André viu que aguardavam, com impaciência, a passagem da tia.
“Isto é um grande acontecimento, André,” disse o Alcar, “isso pode estar acompanhado de dor e sofrimento, mas também de grande felicidade.
Aqui, é um felizardo aquele que passa.
Ela será muito bonita, mas mesmo assim todos aguardam com um sentimento de medo, o choque, que pode ser causado pelo rompimento do cordão fluídico.”
Novamente passaram-se quinze minutos e a nuvem branca agora flutuava claramente visível, acima da cama.
O médico espiritual pediu para os Espíritos masculinos o ajudarem.
Agora o processo começava a se consumar.
Eram quase seis e meia.
“Os que estão felizes,” continuou o Alcar, “precisam ser ajudados mais duas ou três vezes e já lhe disse que precisa de muita força e sabedoria para se completar corretamente.
Com a tia, tudo acontece em silêncio, mas com muitos que estão presos aos seus corpos continuam assim, os primeiros dias, após o seu falecimento, isso é um tormento terrível.
Para estes, o morrer é muito pesado e lhes traz muito sofrimento e dor, perante o que, também o médico Espiritual fica impotente.
Esta miséria, o próprio Homem prepara, porque ele mesmo assim quis.
Eu poderia me prolongar muito sobre isso mas vou deixar para até mais tarde.”
O André percebeu que o médico espiritual tinha se dobrado sobre a moribunda.
À volta dela estavam os outros e via claramente que a nuvem branca se deslocava até a sua cabeça.
Ali se misturava e ficava suspensa a flutuar como uma grande massa.
“O Espírito que, daqui a pouco, partirá , fará uso desta nuvem; está designada para os primeiros dias da sua vida nas Esferas.
Para a tia é possível usá-la, porque ela está num nível alto na sua situação espiritual, mas aos que são infelizes, falta esta força espiritual, porque não estão preparados para morrer.
E eles se privam e sentem isso, porque é o primeiro alimento de que precisam para existir nas Esferas.”
Aos poucos a nuvem branca subia, mas disso André ainda não podia distinguir nada.
De repente a tia se moveu e levantou.
Ela falou mas ninguém pôde captar algo compreensível.
A mãe estava com ela e a manteve abraçada.
Não conseguia mais falar com clareza, mas, mesmo assim, passavam algumas palavras pelos seus lábios, que todos entendiam.
“Lá, lá!” ela disse.
Então escapou uma quantia de catarro da sua boca e a mãe a colocou de novo nos travesseiros.
Um pouco antes desse momento o médico tinha apalpado os seus pés e balançado a cabeça.
O André deduziu que a tia faleceu.
Imediatamente, um movimento se formou entre as inteligências.
Ambas as mulheres eram visíveis, novamente, e muitos outros Espíritos, que ele não conhecia, também estavam agrupados à volta da cama.
A nuvem branca ainda estava subindo devagar, tão devagar que quase não era visível.
O André não conseguia ver forma nela, pela qual poderia notar se ela parecesse com algo.
Era um momento solene que nunca esqueceria.
Agora ouviu o Alcar dizer: Quando o médico espiritual estava curvado sobre ela, ele rompeu o cordão fluídico.”
Ele não tinha visto isso, porque precisava prestar atenção a tanta coisa.
Por isso ele ficou grato por Alcar tê-lo dito.
Acima, nas nuvens, começou a formar-se uma imagem que parecia com uma cabeça e depois, era claramente visível, ele viu duas mãos cobrir os olhos como se quisessem protegê-los contra a luz, cintilante demais.
Assim o corpo astral subia devagar.
As duas inteligências femininas, a sua mãe e a sua irmã, a apoiavam e seguravam-na nos braços.
Oh, que amor radiava de tudo isso!
O André estava no seu canto em silêncio, emocionado em lágrimas.
Como era magnífico poder ver isso, como Homem físico.
Ele estava muito comovido por este grande acontecimento.
A tia já tinha deixado a maior parte do seu corpo e agora via claramente o seu rosto, porque as suas mãos não o cobriam mais.
Como ela estava linda e rejuvenescida!
Seguramente trinta anos mais nova ela se tornou e agora parecia uma mulher de trinta e cinco anos.
O seu corpo astral radiava várias cores que a envolviam completamente.
Nesse momento ela se tornara visível até acima dos joelhos e a saída do corpo teve um andamento mais rápido.
A seguir os seus pés ficaram visíveis: a tia tinha largado completamente o seu corpo físico.
A nuvem que estava em volta do seu corpo se fechou e a tia se tinha libertado.
Em seguida ouviu o Alcar novamente.
“Ela continuará nesta luz, até acordar nas Esferas.
Ela está num sono profundo e será levada, pelos seus familiares, ao lugar onde o interior dela tem sintonização.
Mais tarde ela verá todos eles.
Muitas vezes, isso acontece antes.
As vezes, até, logo depois de sair do corpo, mas isso tem a ver com várias situações.
As cores que você via, indicam a força espiritual da tia.
Ela irradia esta luz, estas cores; é o reflexo da sua situação de alma, o seu próprio bem, a sua felicidade.”
O Alcar falou com calma e pausadamente e o André entendeu tudo claramente.
“Agora ela não verá o seu corpo, Alcar?”
“Não, André, ela não.
Muitos sim.
Nós podemos acordá-la sim e então ela poderia absorver brevemente tudo isso, mas ela está sossegada e ficará assim, seja aonde fôr que a levam.
Há, também, muitos que adormecem enquanto deixam o corpo.
Estes são levados a uma situação, até certo ponto, anestesiada, da qual logo se refazem.
Eu lhe disse que poderia lhe contar muito sobre isso, mas o farei mais tarde e tratarei de tudo em separado.”
Os familiares olhavam ainda uma vez para a mãe e o pai, que ficaram para trás com o corpo físico da tia.
A mãe da mãe do André foi até ela e ele viu que a beijou, mas a mãe não percebeu nada, apesar dele ter visto nitidamente e ouvido o beijo.
Tudo isso se desenrolou só para ele.
Então, viu que o médico espiritual ainda tirou algo do corpo físico e depois, a viagem às Esferas, deu início.
Agora, todos haviam partido.
Tudo ficou escuro diante dele e terminara o lindo evento que se desenrolou durante a noite, a passagem duma alma para o Além tinha terminado.
O André não conseguiu encontrar palavras para isso; dentro dele estava em silêncio e ele estava impressionado com tudo que pôde vivenciar.
A tia estava linda quando partiu; isso viu muito claramente.
Achavam feio o seu exterior, mas aqui poderiam contemplar como ela era interiormente.
Isso era real.
Era magnífico o morrer e o partir para aquele outro mundo.
As pessoas estavam agora com medo disso?
Era tão maravilhoso, desde que estivessem prontas para partir.
Ao sucedido poderiam ver que Deus sabe e dirige tudo.
Eram sete horas e três minutos; tudo que Alcar previu se cumpriu novamente.
A mãe estava muito triste.
O médico tinha fechado os olhos da tia e a irmã ia cuidar com outra pessoa do amortalhamento.
Primeiro rezaram e quando isso terminou, o André viu que também a última nuvenzinha clara, acima da veste que serviu a tia na Terra, tinha dissipado.
“Venha, mãe, vamos para casa.”
Em casa o André contou tudo aos seus pais, o que viu e ouviu esta noite.
A mãe ficou bem mais calma quando ouviu como era lindo o que ele viu.
Trabalhava nela calmamente, parecia que, pelo saber novo, recebia força.
A descrição que o André tinha dado dos pais dela era totalmente correta e a irmã e o irmão que viu, realmente eram gémeos e faleceram muito novos.
O André foi ao seu quarto para dormir algumas horas.
Ainda via todas as imagens diante dele.
Primeiro a nuvem, depois as cores lindas, então a tia que nesta nuvem foi levada ao seu lugar no Além e, no fim, os familiares.
Como tudo era bonito!
Como tudo era grandioso.
Como é onipotente Deus que vigia sobre tudo e regula tudo.
Isso, todos os Homens deveriam saber, assim, a vida seria mais fácil e viveriam melhor.
Se vissem isto, não lhes faltaria coragem, como é o caso com muitos.
Aqui aguardava-lhes algo lindo, logo receberiam luz e então seriam felizes.
A tia possuía esta luz; linda, branca-clara que iluminava ela mesma e todos os outros que vieram buscá-la.
Que força grande ela deve ter carregado interiormente.
Para o André agora estava tudo claro e compreensível.
É que na Terra sempre a tinha visto nesta mesma luz.
Esta luz era a sua própria radiação.
Desta maneira podia conhecer todas as pessoas.
Na sua radiação podia ver como eram interiormente e agora sabia, melhor do que nunca, o que significava esta luz colorida.
O Alcar lhe contara que viu muito bem e que esta comparação estava correta.
Sim, era maravilhoso morrer assim.
Como todos que a buscavam, eram lindos e felizes.
O Alcar disse que, mais tarde se juntaram alunos do médico espiritual, homens e mulheres, todos cheios de luz, cheios de felicidade e jovialidade.
E como reinava a harmonia!
Tudo estava organizado e acontecia na altura devida.
Cada um no “Além” tem o seu trabalho e cada um faz o trabalho que lhe foi encarregado sem se meter com o trabalho dos outros.
Todos trabalham para uma causa: levar o Bem, fazer o Bem.
Assim deveria ser também na Terra.
Ali os Homens deveriam também entender um ao outro, como seria magnífico isso.
Com estes pensamentos adormeceu e não sentiu que o líder, que o amava tanto e trabalhava com e por ele – seu instrumento –, dava passes longos sobre ele para tirar todo o seu cansaço.
Após algumas horas acordou, refrescado, como se tivesse dormido a noite toda e Alcar lhe contou o que fez.
Sentiu que isso precisava ser assim, ele precisou ser ajudado, senão o cansaço não teria sumido.
O pai e a mãe estavam satisfeitos e calmos, depois de todas as provas que lhes deu e agora deveriam estar convictos, que a morte não é a morte.
Também a irmã que esteve presente, a noite toda, estava muito admirada que tudo tinha se desenrolado como ele previu e contou antes.
Ela prometeu continuar no caminho que lhe foi indicado.
O André estava feliz que tudo tinha se desenrolado de modo tão bonito.
Assim, ia sempre em frente e logo daria grandes provas do seu dom de ver e do bom contato com o Alcar.
E principalmente ia mostrar como é bom como médium, cuidar de não fazer nada sem a direção dos líderes.
Há um grande perigo em observar, se pensamentos próprios não são eliminados.
Agora a tia tinha entrado pelo portão no Além.
O Alcar lhe contou que ainda não tinha acordado.
Para ela, o acordar, demoraria alguns dias, o que era muito pouco, porque para muitos poderia demorar semanas ou meses.
Também acontece muito que os falecidos, algumas horas após a morte, retornam à Terra para então, livres do corpo físico, poderem presenciar tudo e consolarem os que ficam.
A tia ficaria ainda, segundo o tempo terreno, mais uns dias na situação de adormecida e depois acordaria para sempre nas Esferas de felicidade, amor e vida.
Logo, novos acontecimentos aguardavam o André, porque cada dia ele era chamado ou vinham pessoas que precisavam dele.