A mediunidade

O André, quando era criança, já possuía o dom de clarividência e também o de falar com seres invisíveis.
Ele conseguia ainda se recordar claramente como se sentia na juventude e brincava com crianças espirituais.
Dava-lhes nomes bonitos e sempre via com elas um homem alto, escuro, que trazia os pequenos e os levava de volta.
E, numa certa manhã, quando obteve ligação com o Alcar e o viu e ouviu, então, naquele mesmo instante, reconheceu o seu amigo alto e escuro da sua infância e entendeu porque trouxe até ele os seus amiguinhos.
Ficou-lhe mais claro ainda quando o Alcar, na sua morada espiritual, lhe contou da sua vida em que ele podia pôr à prova as suas próprias experiências.
Ele nasceu com esse grande dom.
Também nunca lhe passaria pela cabeça fazer se passar por clarividente se não possuísse esse dom.
Para ele era um enigma haver tantos ainda que se apropriavam desse dom sem possuí-lo.
Como eles se atreviam, ajudar homens, curá-los, dispôr do bem-estar dos outros, se não tinham este dom.
Não era só que a mediunidade ficava em descrédito, mas ao mesmo tempo o espiritismo era manchado e tirado a fé dos que ficaram para trás em dor e sofrimento.
Havia até aqueles que pagavam caro por esta sabedoria a estes por si chamados médiuns.
Tinha recebido inúmeras pessoas que choravam como crianças porque lhes tiraram toda a fé.
Muitas vezes doía-lhe, porém era culpa deles mesmos, porque foram crédulos demais.
Não sabiam que muitos se passavam por médiuns, enquanto não sabem nada da vida do Além.
Eles enchiam os seus bolsos com estes crédulos e eram os parasitas da Humanidade.
O Alcar lhe disse que eles eram muito piores do que o ladrão que rouba bens terrenos.
É que eles se escondiam atrás da máscara dos seres espirituais e conheciam a Bíblia de cor, mas por trás atiravam as suas flechas materiais àqueles que não estavam conscientes de nada.
Contra isso não se podiam defender.
O Alcar lhe disse: “Um ladrão é um desastre para ele próprio e para os outros, porém aqueles que parasitam naqueles que se encontram em dor e sofrimento, são o veneno da vida.”
Eles abusam de Deus e depois Deus será que protegeria as suas práticas obscuras?
Eles falam de amor e de Deus e muitos caem nesta fossa profunda que é invisível.
Todos que quiserem se ligar aos seus passados, precisarão primeiro vivenciar tudo isso.
Então haverá sofrimento como nunca sentido antes.
Porém, não passa muito tempo, então, eles e a sua escritura sagrada desmoronarão e serão reconhecidos.
Mas até lá, já se passaram meses de sofrimento: dor e tristeza aumentaram e sentimentos foram destruídos, de tal forma que tudo está transformado numa situação deplorável.
Toda a sua confiança está desfeita em pó, não acreditam em mais nenhum médium, o espiritismo tornou-se uma obra do Diabo.
Sentem-se como médiuns enviados por Deus, que pelas provas espíritas alcançaram tão longe.
Tudo isso era transmitido nas sessões deles, porém, a ciência rotulava isto de charlatanismo e tudo mais.
Será de admirar que falavam assim?
Quando os crédulos chegavam até eles, ficavam em êxtase sobre o que os seus contatos lhes transmitiam, porém isso não estava em conformidade com a pureza dada pelo Além.
Por onde quer que estivessem, pelo mundo fora, onde era dado alimento espiritual, se podia separar de tudo, porque falava de amor, o que significava a verdade espiritual.
O alimento deles era grosseiro, como a sua própria vida e o seu sentimento humano.
Na verdade doía a muitos que carregavam este dom no seu interior, que a mediunidade era tão manchada!
Ele conhecia homens que tinham falecido e que na Terra tinham grandeza no amor, mas quando apareciam nas sessões, pareciam uns pobres coitados.
Isso era possível?
Então eles tiveram uma recaída na vida após a morte?
Os contatos transmitiam isso.
Eram doutorados que trabalhavam através deles e para os quais eles serviam de instrumento.
Eles não só se apropriavam de um dom que não lhes pertenciam, como também manchavam um médico terreno que conheceram ou que eles arbitrariamente aceitaram.
Quando então um médico começava a falar da sua glória terrena não sobrava nada.
Então se tornaram uns pobres coitados, com recaída e mudados de vez.
O André via através deles e sabia que não eram doutorados, mas que só viviam na sua imaginação.
Porém, os crédulos, ou aqueles que não conheciam estas leis, eram logrados porque respeitavam estes doutorados.
Assim os homens que viveram na Terra e dedicaram a sua vida à Humanidade em sofrimento, não era só manchado o próprio ser, mas também os seus nomes, porque estes médiuns fizeram-no passar por doutorados.
Veja, para ele isso era incompreensível.
Mães profundamente desoladas que não conseguiam dormir tranquilas nem uma noite, exaustas de nervosismo pelas noticias trazidas, vieram visitá-lo.
Então, ele escutava histórias longas sem fim, tão terríveis e intensamente tristes que lhes fizeram sangrar o coração.
Um sofrimento ainda era maior que o outro.
“Não,” assim disseram, “não é ele, ele era tão diferente.”
E quando o André disse que a culpa era delas, responderam: “Mas senhor, eles falam da Bíblia e de Deus.”
Deste modo os seus corações eram rasgados e as suas almas pisadas.
Havia os que vendiam anjos de guarda quando era conveniente.
Os seus contatos cuidavam disso e quando alguém saísse de perto deles, podia estar seguro que o anjo de guarda andava atrás para protegê-lo de todo o mal.
Não era terrível?
Havia longas filas de anjos de guarda à espera no Além para serem admitidos e aceitar uma tarefa na Terra.
Mas, que os médiuns precisariam consertar isso tudo, não se lembravam disso.
Tinham eles um dom divino?
Seriam mesmo seres espirituais que eles representavam?
Estavam ligados com o Além?
Davam alimento para a alma que fortaleceria os homens?
Isto iria mudar o mundo?
A sua tramóia?
Era esse o apoio que davam para os que ficaram para trás?
Eram ligações espirituais estabelecidas pelos espíritos?
Tudo era apenas sensação para aparecer às custas de dor e sofrimento de outros.
Ainda em criança o André já possuía os seus lindos dons e estava em ligação com o Alcar.
Contudo sabia que não podia desenvolver nenhum homem para torná-lo médium; porque isso era um dom inato.
Mesmo assim, haviam seres que davam cursos e em três meses entregavam dez a vinte médiuns.
Alguma vez pode ser?
Era possível?
Havia muitos.
Com isso eram partidos corações, feridos até sangrar.
Pobre santo espiritismo, como o mais santo, dado à Humanidade é manchado!
Laços foram rompidos, mulheres e crianças abandonadas, porque tinham uma tarefa a cumprir e precisavam se dedicar exclusivamente já que a choradeira das crianças lhes perturbava.
Era horroroso.
Outros deviam caminhar só na natureza para que fossem desenvolvidos e os seus “doutores” pudessem alcançá-los melhor do que entre os homens rudes.
Porém, o Alcar lhe tinha ensinado de forma tão diferente.
Se ele não prestasse para o seu trabalho material, ou o tivesse desprezado, o Alcar não poderia usá-lo.
Justamente, o trabalho terreno bem feito, a sua ajuda aos homens, foi o início do seu desenvolvimento.
Primeiro precisou aprender a deixar-se a si próprio anulado, destruir-se interiormente peça a peça, antes de ser um instrumento bom aplicável para o Alcar.
Porém, como fizeram aqueles outros?
Caminhar na natureza e levar uma vida que não tinha algum significado.
Homens eram assustados meses antes pelas suas profecias terríveis.
E, note-se bem, isso diziam ser os seus ajudantes espirituais!
Eram profetas e profetisas altamente dotados.
Isto chegava do Além?
Eram eles espíritas e médiuns?
Eram seres materiais-grossos que mais destruíam do que faziam bem.
Diziam que tudo vinha diretamente do Além e que era amor, só amor.
Eles serviam aos seres superiores?
Eram doutorados que deixaram a Terra?
Eram estas almas altamente sintonizadas?
Isso era representar o Além?
Era seguir o caminho que, um dia, Cristo nos indicou?
Os que retornavam e eram todos espíritos de amor, não deixariam homem nenhum antecipadamente com medo!
Mediunidade era dar amor, só amor aos que vinham a nós para serem ajudados.
Serviam aqueles que retornavam à Terra para ajudar os seus entes queridos.
Significaria só felicidade para eles mesmos e para todos que vinham até eles.
Esta era a mediunidade que cura doentes e apoia velhos e tristes, que radiava como sol em que se pudessem se aquecer.
Então era amor, o mais santo dado por Deus.
Todo o ser sentia este fogo sagrado e médiuns irradiavam e poderiam ajudar outros, porque se sintonizavam naqueles que só eram amor.
O André só queria usar a sua doação Divina em amor para significar algo para os outros.
Um desses doutorados foi retirado do seu caminho e o Alcar lhe deu uma lição de vida.
A algumas portas adiante na rua onde o André morava, vivia uma senhora velha e doente que muitas vezes ele via sentada diante da janela, para ainda usufruir qualquer coisa da vida à sua volta.
Ela parecia muito doentia e porque ele passava ali todo o dia, perguntou ao Alcar se poderia ajudá-la, já que ela estava no seu caminho.
O Alcar lhe disse que brevemente ela morreria, que viveria apenas mais quatro meses.
Achou estranho que o seu líder podia lhe contar logo isso.
Os espíritos sabiam tudo de todas as pessoas.
Era uma pena, mas nada poderia mudar, de forma que aceitou plenamente esta mensagem.
No seu líder ele podia confiar.
A filha da senhora velha, morava em baixo do André, numa tarde veio ver os seus quadros.
Evidentemente durante a conversa se falou sobre a sua mãe e ela perguntou o que achava da sua situação.
O André a sondou, como ela sentia a doença da sua mãe, porque não queria preocupá-la antes do tempo.
Ele tinha medo disso, porque repetidas vezes sentiu a grande tristeza da pessoa que recebera uma profecia.
Porém, quando ela disse que não tinha mais esperanças, contou-lhe o que o seu líder lhe transmitiu.
“Então, espero que não precise sofrer por tanto tempo.
Eu queria fazer tudo, porém nada está ajudando.
Também ela quer mudar de casa, mas por alguns meses não faz sentido e ainda por cima, isso não lhe faria bem algum.”
Agradeceu-lhe a sua mensagem e se foi embora.
Passaram algumas semanas, quando, numa tarde, chegou um senhor que pretendia falar com ele.
Quando estava entrando o Alcar lhe disse que foi mandado por ele e que o André precisava se concentrar nele.
Quando chegava alguém e pedia por ajuda com uma ou outra coisa, logo enviava os seus pensamentos ao Alcar e aguardava pela resposta.
Nunca precisava falar ou perguntar antes; sempre foi assim.
Porém, agora foi avisado antecipadamente, o que era algo especial e teria significado, ainda mais que o Alcar disse que ele o tinha mandado.
O André estava pronto interiormente e curioso sobre a razão da vinda do visitante.
Imediatamente, este começou a falar e falou sobre a Bíblia que ele conhecia de cor.
Demorou muito até ficar pronto e depois lhe mostrou cartas de recomendação dos seus pacientes, que pareciam mais papelotes velhos.
Ah, André pensou, ele é clarividente.
Agora é que vai começar.
Novamente começou a falar da Bíblia e por momentos citou partes dela.
Apresentou Cristo e todos os santos e interiormente ele chorava de emoção quando pensava em todos aqueles santos.
Falou sobre “deixai as criancinhas vir a mim” e mostrou que também ele ainda era uma criança.
Finalmente veio a razão da sua vinda e começou a falar sobre o negócio para que ele precisava dele.
Porém, André o sentia e o conhecia e sabia com quem estava a lidar.
A Bíblia e os santos foram citados para se esconder atrás deles e para fazer sentir que ele era um crente e um homem que sentia amor.
“Mas, por quê o senhor veio mesmo ?” André perguntou de repente.
“Sim, veja, nesta rua estou tratando dum paciente.
O meu médico diz que ela se pode curar e agora a sua filha disse que o senhor lhe contou que ela tem apenas quatro meses de vida.
Porém, isso não é verdade, porque nós ainda podemos curá-la.
Com certeza absoluta podemos fazer algo por ela.”
O André se assustou.
Ali estava diante de um daqueles heróis, que julga poder mover montanhas.
Porém tudo na sua imaginação, à custa de muito sofrimento e tristeza de outros.
Como este homem chegou a essa realidade?
Não era possível que o André se estivesse enganado?
Isso seria terrível.
Em primeiro lugar pensou naquelas pobres pessoas, que fizeram tudo, não pouparam custos para curar a paciente.
Quanto dinheiro não lhes custou, pelo que todos sofriam.
Se para ele não era possível ajudar, porque a paciente iria morrer, então achava terrível fazer mais despesas perturbando a paciente.
Seria um sim ou um não, ajudar ou não ajudar, ele lhes explicara tudo antes para que eles mesmos pudessem decidir.
E este homem se atrevia a dizer que ela ficaria curada, pelo que eles arranjassem todos os fundos para dar à sua mãe aquele tratamento.
Custaria dinheiro e para eles cada centavo lhes fazia muita falta.
Este homem não pensava nisso?
Então ele não prestava, apesar de fingir que tudo era tão sagrado?
O André não pensava só na paciente, mas também nas preocupações.
Dia e noite rezava pela verdade; agora esta ser-lhe-ia negada?...
Interiormente suplicou ao seu líder que resolvesse esta situação.
Durante o relato da Bíblia e todos os santos, ouviu o Alcar que lhe perguntou: “Por que duvidou, André?” e com isso sabia que sentia puramente.
Agora o homem lhe perguntou se não o pudessem fazer juntos.
Juntos, pensou, como era possível?
Nunca ele vivenciou algo assim.
Se um magnetizador não conseguia sozinho, dois nem precisavam tentar.
O Alcar lhe disse: “Ajude-a, quero dar a ele uma lição de vida.
Porém, tudo acontece sob a sua supervisão.
Isso talvez abrir-lhe-á os olhos.”
Agora, combinaram dia e hora em que ia ajudar e o “clarividente” partiu.
Naquela noite o André falou com a filha e perguntou porque chamou alguém mesmo assim.
“Sim,” ela disse, “aquele velho homem insistira tanto que ela se cura e por isso decidimos todos juntar um pouco para lhe dar aquele tratamento.
Quando escuta ele falar, querendo ou não, se acaba acreditando.
Parece-me que é uma boa pessoa.
Ele pode falar tão bem da Bíblia e acho que sabe tudo de cor.”
Também ela ficou influenciada, assim como ele mesmo, já que até ele começava a duvidar das suas próprias forças.
Chamava-o de velho “médico”.
André perguntou a ela : “Porque o mandou para mim?”
“O que o senhor diz?” perguntou admirada.
“Eu o mandei ao senhor?”
“Sim, ele veio e agora ajudaremos juntos a sua mãe,”
Ele lhe contou que o seu líder queria lhe dar uma lição de vida e por isso ele poderia ajudar.
“Amanhã iremos ter com você e ele também virá.
Não cobrarei nada, mas estou curioso para ver onde tudo isso vai levar.
Porém, tudo acontecerá sob o meu controle e você precisa me ajudar com isso.
Não é a maneira de trabalhar, mas o meu líder quer e estou muito curioso para ver como ele receberá a sua lição de vida.”
Na manhã seguinte o velho homem estava presente e conversava com a paciente no momento em que ele entrou.
Espero que isto vá dar certo, o André pensou.
Isso mais a perturbaria do que a tranquilizava.
Ele achou estranho que o seu líder quisesse que ele ajudasse.
O André disse que o homem podia tratar só as pernas e deixar o resto para ele, e isso ele achou bem.
Na Terça e Sexta-feira ele a trataria, e ele, André, na Segunda e Quinta-feira de manhã.
No primeiro tratamento que lhe deu, o velho já havia esquecido o combinado e tratou do corpo inteiro.
O Alcar mostrou ao André que não cumpriu o combinado.
Perguntou ao seu líder o que deveria fazer e Alcar lhe disse:
“Continue, meu menino, vigio e controlo tudo.
Não se preocupe.”
Assim passaram algumas semanas em que nada de especial acontecia.
O velho novamente cumpriria o combinado e trataria as pernas, que estavam paralisadas.
“O velho médico”, ele tinha sessenta anos, esfregava as mãos de contente porque tudo corria tão bem.
O André pensou que, se ele precisava deixar-se controlar por outros, imediatamente cessaria, porque não prestaria para este trabalho.
Ele queria ser independente.
Numa outra manhã, antes de entrar, o Alcar lhe mostrou uma outra imagem.
O André viu que a filha e o velho juntos tentaram fazer a doente caminhar.
Ele perguntou-lhe depois se viu bem e ela precisou reconhecer que ele sabia de tudo.
“Como é possível,” ela disse, “o senhor vê tudo.”
“Não vejo, mas o meu líder sabe e vê tudo,” o André respondeu-lhe.
Lembre, ele está presente, portanto não faça coisas erradas.
Porque não faz o que nós combinámos, você me iria ajudar e iria escutar o que eu teria a dizer?”
Novamente foi o velho homem que a convenceu agora a tentar uma vez as pernas que a doente não conseguia mais usar.
O André considerou ele uma pessoa perigosa e se sentiu arrependido por ter dado início ao tratamento.
Que consequências poder-se-iam apresentar?
No dia seguinte o velho veio lhe visitar, porque estava perto e queria conversar um pouco, o André gostou porque ainda tinha algo para lhe dizer.
Logo começou: “Se não parar de agir segundo as suas próprias intuições, paro imediatamente.
O senhor não pode fazer nada por conta própria.
O que lhe deu para fazê-la andar.
Quem lhe contou isso?”respondeu ele.
“O meu controle,” respondeu.
“Portanto, o seu líder.”
“Sim, o meu líder.”
Então era isso, pensou o André, o que agora?
Ele podia chamar para qualquer coisa o seu controle e se agora também dissesse que o seu líder, Alcar, lhe tivesse dito para não o fazer, como é que ficava?
Se tornaria difícil.
Mas também agora estava a ser ajudado.
O André viu que o Alcar se manisfestava ao seu lado com mais um espírito e ouviu ele dizer que precisava escutar bem.
“Este espírito que está aqui comigo, antigamente era o seu médico.
Ele sabe o que o homem faz e ele quer anular isso.
Diga-lhe, André, que este espírito não está com ele e nunca esteve.
Ele terá que deixar o seu nome em paz.
Porém, prepare-o e lhe dê provas.
Ajudá-lo-ei com isso.”
Aqui se desenrolou algo de que o velho não tinha conhecimento, não ouvia nem via.
O André lhe perguntou se conhecia bem o seu líder, ou controle.
“Mas, naturalmente, ele está à minha volta noite e dia e me ajuda em tudo.”
Ele foi o seu médico?”
“Correto,” ele disse, “como o senhor vê maravilhosamente bem.”
“Isso não tem nada a ver; acho bastante simples, porque me é transmitido.
Sabe, com certeza, quem é o seu líder?”
Depois disso, o André lhe fez uma descrição do espírito que se manifestou ao lado de Alcar.
“Sim, absolutamente, é ele; afinal conheço o meu líder, não é?”
Agora o André teve dó porque, todavia, havia nele uma parte que queria o Bem, mas ele não possuía infelizmente aquele dom.
“Então, escute, tenho uma mensagem para o senhor.”
Aguçou os seus ouvidos, friccionou as suas mãos, o que evidentemente era o seu costume e escutou.
“É me dito que o médico, de quem usa o nome, não é o seu controle e nunca foi.
Ao mesmo tempo, ele não disse a você que precisava ajudar este paciente.”
“Sim,” ele disse, “mas ela está progredindo.”
Era como se quisesse se desculpar com tudo isso.
“Não entendo, ele sempre está presente nas nossas sessões e me aconselha em tudo.”
O André sentiu resistência.
“Olhe, vejo este médico; você o reconhece, o que prova que vejo bem; mas porque não aceita agora aquela outra mensagem?
Ele lhe dá verdade, o que na minha opinião é uma graça, porque muitos fazem o mesmo e os deixam; mas a você apontam os seus erros.
Não acha que terá que consertar tudo isso?
Principalmente, quando souber que a vida é eterna.
Não sente como tudo isso vai contra o que é verdade no espírito?
Aquele médico veio à Terra para lhe dizer que não é ele e nunca foi o seu controle.”
“Então, será que me enganei,” o velho deu como resposta.
“Como se pode enganar?
Quem lhe disse que era mesmo ele?
Em suma, quem lhe deu esta segurança de que ela se curaria?”
Novamente tentou mostrar que ela estava progredindo e o André o deixou entregue às suas próprias visões.
Seguramente faria o que seu líder lhe disse.
Agora, o Alcar disse para continuar e novamente passaram-se algumas semanas em que nada de especial sucedeu.
Durante uma manhã, quando tratava da paciente sentia que ela tinha fortes cãibras no estômago e perguntou ao Alcar a origem desses sintomas.
Diga ao magnetizador, pela última vez, que, se ele não parar, nós entregámo-lo à sua sorte.”
O que aconteceu?
O velho fê-la beber extrato de espinafre para melhorar a evacuação.
Era mais do que terrível; toda a situação dela mudou devido a isso.
Como podia aplicar a esta doente medicamentos inventados por ele mesmo.
Nunca o André precisou aplicar um medicamento, por que tratava os doentes unicamente por radiação magnética.
Ele ficou com medo disso.
“Porque permite isso? perguntou para a filha.
“Você mesma não sente que não serve para ela?”
Só agora os seus olhos foram abertos e também a paciente preferia o médico “novo” ao velho.
O velho falava demais, segundo a doente.
Ela lhe prometeu que agora vigiaria e se ele não escutasse mandá-lo-ia embora.
Era um enigma como o André tinha conhecimento de tudo.
“Agora vejo o Bem e o Mal,” ela disse.
“Os que possuem este dom e os que fazem se passar por isso e não o possuem.”
“Que feio,” ela seguiu, “como estas pessoas são perigosas; não quero ele mais na minha casa, acabou.”
O André lhe aconselhou a fazer nada, a não ser prestar atenção nele, ainda precisava receber a sua lição de vida.
O André, agora entendeu ainda melhor.
Era a mediunidade que mais destruía do que edificava.
Aqui os homens estavam entregues a ele que passava para um e depois para outro.
Quantos sucumbiriam da mesma maneira?
Os crédulos sob o pretexto da Bíblia e dos santos não viam a realidade.
Aquela mediunidade era fácil; não custava esforço e não dava responsabilidade.
Porém, isso ele não queria e no lugar dele nunca teria pensado em fazer se passar por médium.
Como esse homem, havia às centenas.
O dom verdadeiro era manchado.
Novamente se passara uma semana.
O velho achava a doente extremamente boa e disse isso à sua filha.
Porém, ela não dava mais valor à sua opinião e aguardava até que o André chegasse e lhe dissesse isso.
Uma semana depois o velho a achava melhor ainda e disse: Está vendo, estamos chegando, progredindo.”
Chegou Segunda-feira de manhã e como de costume, o André ia visitá-la.
A sua filha foi ao seu encontro e disse: “O velho homem acha-a extremamente boa, mas não confio.
Ela me parece boa demais, isso pode ser um mau sinal.”
Chegado perto da doente, viu num olhar que a filha era mais clarividente do que o homem velho.
Realmente era suspeito.
Imediatamente ouviu e viu o Alcar que lhe disse para se concentrar fortemente nele.
Esta manhã demorou muito e quando retornou do transe, o Alcar lhe disse que logo terminaria.
“Ainda esta semana ela falecerá.
Avisá-lo-ei antes, mas em todo o caso será esta semana.”
O André contou à sua filha e esta confiou nele plenamente.
“Para ela eu acharia esplêndido, assim não precisa mais de sofrer.
É que continuaremos no Além,” ela fez seguir.
“Não lamentarei a sua partida e desejo-lhe de coração ali a sua felicidade.”
O André a achou corajosa e forte, desse jeito ele não ouvia falar muito.
Ela estava convencida e provou que aquela convicção a apoiava.
“Mas,” ela disse, “agora, quando é que este homem velho receberá a sua lição de vida?”
O André também não sabia e disse-lhe portanto para aguardar.
Terça-feira veio o homem velho novamente; achou ela normal e disse, que estava tão ocupado que não voltaria antes de Sexta-feira da semana seguinte.
Ele, o André, poderia tratar sozinho daquela semana.
Ele precisava ajudar muitas pessoas fora da cidade.
Ela concordou e ele foi embora.
Agora, cada manhã o André ia visitá-la para acompanhá-la nos seus últimos dias.
O seu fim se aproximava.
Chegou a quinta-feira.
O seu peito estava cheio de catarro e por isso respirava com dificuldade.
Todavia, ela estava ciente de tudo que acontecia à sua volta.
Estava tranquila e calma e sentia chegar o seu fim.
Sexta-feira de manhã tinha piorado e ele via várias inteligências em volta da sua cama que certamente vinham buscá-la.
O Alcar lhe disse para se concentrar nele, pois passar-lhe-ia várias imagens.
A doente o olhou com olhar penetrante como, um dia, também a Anny fez, porém, ele suportou.
Interiormente falava para ela.
Também ela estava com medo da morte.
Como queria tirar isso dela.
Ele tinha trinta e quatro anos de idade, ela, uma mulher de sessenta e quatro.
A morte era um poderoso salvador, porém, ela não sabia, apesar de que a filha falou mais vezes com ela sobre isso que, um dia, se reveriam.
Ela não aceitava; não fez disso a sua posse.
Ficou com ela muito tempo e viu que as mãos carinhosas a apoiavam e irradiavam.
O seu pai e a sua mãe estavam com ela, retornaram à Terra para resgatar a sua filha.
Ele viu amor, somente amor bem além do sepulcro.
Ah, se os homens pudessem aceitar isso!
Ela sempre foi uma boa mãe e por isso, há-de ser feliz.
Ele contou à filha dela o que observara e que ao anoitecer chegaria o seu fim.
A doente estava num sono profundo e à tarde ele voltaria.
Mas a sua situação não tinha mudado quando, à tarde, regressou.
Após o tratamento ela dormiu a manhã toda e estava muito calma.
Ela ainda estava consciente de tudo.
Respeitavam totalmente a ajuda dele e a sua filha já começava a gostar do Alcar.
“Realmente,” assim ela disse, “naquelas mãos sente-se segura.”
Comoveu-lhe profundamente como tudo se desenrolou.
Faltava uma semana para completar os quatro meses.
Agora, quem ainda duvidava de um prosseguimento eterno?
Ela estava convencida para toda a sua vida e isso lhe deu um grande apoio e confiança.
Em pensamento ele desejava à doente uma boa viagem e foi embora.
A sua tarefa terminara.
A caminho da casa pensava no homem velho.
Quando receberia a sua lição de vida?
Não quis perguntar ao Alcar, porque não duvidava disso nem um segundo.
Quando, na mesma noite, estava com amigos e falou da sua partida, de repente, teve uma visão linda da passagem dela para o Além.
Os seus amigos que o observavam, perguntaram: O que vê ali em cima?”
“O que eu vejo ali?
Logo contar-lhes-ei.”
O Alcar disse-lhe para prestar atenção, nenhuma palavra era falada.
O André concentrou-se no seu líder e num dado momento, ele a viu passar.
“Olhe o relógio,” ele disse aos amigos, “a minha paciente passa, eles me telefonarão, já estou indo.”
Faltava um minuto para as dez e meia.
“Isso será uma linda prova para vocês de como o Alcar vigia sobre mim e ela.
Mais lindo será quando eu tiver partido, porque daqui a pouco vão ligar.”
O André foi embora e quando chegou em casa já tinham passado ali para lhe participar que ela tinha passado para o Além a um minuto antes de dez e meia.
Era maravilhoso.
Alcar, pensou, como você é grande.
Como era verdade, como tudo era grandioso.
Todos, a família toda, tinham respeito pelo seu líder.
Não havia como encontrar palavras.
Era amor, somente amor.
Terça-feira ela foi enterrada.
Quinta-feira de manhã a filha veio visitá-lo para o agradecer por tudo.
Ela trouxe flores para o Alcar o que alegrou muito o André.
Ele merecia tudo, ele era o seu líder espiritual.
O homem invisível não foi esquecido.
O Alcar pediu para agradecer em seu nome.
“Agora, tudo passou, André,” disse a filha, “mas gostaria de saber quando o homem velho terá a sua lição.
É que já é tarde demais, a mãe já está debaixo da terra, de onde então virá esta lição?
Nestes dias agitados não pensei mais nisso.”
Então o André ouviu o Alcar dizer algumas palavras e nisso estava toda a explicação.
“Sexta-feira de manhã, ele receberá a sua lição de vida”.
Ambos, imediatamente, entenderam o significado destas palavras.
Eram simples, mas fustigariam terrivelmente o velho “médico” pela alma.
Seria uma lição para ele, assim que, se ele a entendesse corretamente, a vida inteira não ousaria mais levantar os seus olhos para os espíritos.
Lágrimas de compaixão corriam pelo seu rosto.
Não podia fazer nada, porque ele retornaria.
A doente podia afinal ser curada?
Como será terrível para ele, precisar receber uma lição dessa do espírito.
Tudo se dilacerava diante dos seus pés.
O André lhe via como um homem quebrado e eles sentiam compaixão profunda por ele.
Todavia era novamente um momento em que o Alcar lhe impôs respeito.
Foi uma prova de como espíritos estão a par de tudo e podem ver meses antes, se quiserem e se for necessário.
Chegou Sexta-feira de manhã e então, o homem velho retornaria.
A sua filha depois contou o seguinte:
“Eu estava na porta quando, como sempre, ele chegou alegremente e disse: “Cheguei de novo.”
Meu coração batia na minha garganta.
Não pude pronunciar uma única palavra.
“Como está tudo por aqui,” era a sua pergunta, “bem?
Como está a mamãe?”
Ainda não consegui dizer nada e não ousei encará-lo.
O homem velho me olhou e sentiu que algo estava errado.
Ele ficou vermelho e azul e, de repente, perguntou: “Agora, o que se passa, posso ajudar a mãe?”
Pobre homem, pensei, mas eu disse: “Mãe? Mãe?” – e senti subir a minha tristeza, que não pude esconder – “então, terá que ir ao cemitério, ela está lá.”
Estas palavras fustigaram a sua alma.
Ele me olhou e achei que ele perderia os sentidos.
“Meu Deus,” ele disse, “na verdade, na verdade, esse é um médium.”
De repente, parecia pensar só no senhor.
Ele se virou, correu rua acima e sumiu.
Senti dó por ele.”
O velho médico recebeu a sua lição de vida.
O André aprendeu muito com tudo isso: que os espíritos sabem tudo de nós e seguramente possuem um intelecto, o que supera de longe o intelecto dos que ainda vivem no corpo material.
Isso não nos dá força para carregar a cruz que Deus nos deu?
Um dia veremos luz e felicidade, possuiremos um mesmo amor, uma mesma sabedoria como os que vivem no Além, se também nós quisermos sintonizar o nosso amor no espírito.
No Além nos aguardam se não estragarmos a nossa vida terrena.
Para todos há lugar porque há muitas moradas na casa de Deus.
Se quisermos, ali nos aguarda a eterna felicidade.